Cristina Ferreira tinha tudo para ser uma boa professora. Tirou o curso de História e lecionou durante dois anos no ensino secundário. Depois disso, resolveu entrar em Ciências da Comunicação com o objetivo de ser jornalista, mas foi num curso de apresentação onde conheceu Júlia Pinheiro, que mais tarde a convidou para apresentar com Manuel Luís Goucha um programa que ia estrear na TVI.
"Você na TV" começou em 2004 e foi líder de audiências durante 12 anos consecutivos. "Ela é capaz de falar com um pionés, por isso pode falar com qualquer pessoa", dizia Júlia Pinheiro, mentora de Cristina em televisão.
Mas os anos de reinado de audiências tiveram um fim em 2018. Cristina foi de férias e teria que voltar à antena a 20 de agosto. Dois dias depois da suposta volta, o lugar continuava vazio, levando a uma especulação de que alguma coisa iria mudar.
A 22 de agosto a estação de Queluz de Baixo emitiu um comunicado onde referiu: "Ambas as partes entendem estar na altura de dar início a um novo rumo e a novos projetos empresariais e profissionais, pondo um ponto final neste caminho comum".
Além disso, destacaram ainda "o profissionalismo e competência que a apresentadora e diretora de conteúdos não informativos sempre votou no exercício das suas funções na TVI, a televisão líder em Portugal."
A partir daí, o futuro estava em aberto para Cristina Ferreira, mas a especulação de que iria para a SIC ganhava cada vez mais força. Só a 7 de setembro houve a confirmação desta transferência televisiva. Através de uma fotografia ao lado de Francisco Pinto Balsemão, fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa, Cristina escreveu:
"É oficial: A SIC é o futuro. O meu. A minha casa. A sua casa. Onde o desafio é o maior alimento do sonho. Estou feliz. Muito. A dois dias de fazer 41, abro a porta do entusiasmo e da surpresa. Com a certeza deste ser o meu caminho. O melhor ainda está por ver. Juntos." Para além da apresentação, Cristina somava agora novas funções, como sempre quis, já que iria ser "consultora executiva da Direção Geral de Entretenimento do Grupo IMPRESA".
Com a notícia da transferência, pela mão de Daniel Oliveira, a especulação dos valores que a apresentadora iria ganhar surgiram e apontavam para números astronómicos. A imprensa garantia que Cristina Ferreira tinha assinado um contrato onde teria um ordenado mensal de 80 mil euros. A mudança da apresentadora continuou envolvida em polémicas e uma delas foi a comparação que fez, em direto no 'Jornal da Noite', sobre a sua mudança de canal. "Foi como a morte da princesa Diana. As pessoas não estavam preparadas", afirmou Cristina, citando uma amiga, palavras que deram origem a várias piadas nas redes sociais.
A estreia da apresentadora no canal de Paço de Arcos só viria a acontecer no ano seguinte, em janeiro de 2019, com 'O Programa da Cristina'. Em entrevista ao 'Alta Definição', Cristina Ferreira revelou sentir "serenidade" com a mudança, admitindo que não se teria "preparado para o turbilhão em que foi envolvida". "Doeram algumas coisas, pelo caminho ficaram também algumas pessoas e alguns momentos que vou guardar como aprendizagem", revelou a apresentadora, rejeitando a palavra "traição". "Nunca seria", admitindo que é complicado estar na sua pele. "É difícil ser-se Cristina Ferreira".
A 7 de janeiro de 2019, Cristina abriu as portas num estúdio com 500 metros quadrados, recriando uma casa e que custou mais de um milhão de euros, segundo algumas publicações. As audiências falaram por si e Cristina Ferreira ganhava de dia para dia com 'O Programa da Cristina'. O sucesso foi tanto que o canal de Paço de Arcos começou a liderar as audiências pela primeira vez em 12 anos.
Mas, dois anos depois de ter chegado, Cristina bateu com a porta à estação de Paço de Arcos. Em 2020, o "regresso à casa mãe, com funções distintas e um projeto ambicioso ao qual era impossível dizer que não", foram o suficiente para voltar para o canal, onde se tornou acionista da Media Capital. A apresentadora fez ainda questão de agradecer "à SIC, à sua administração, a oportunidade concedida e a possibilidade de trabalhar com profissionais de exceção", referindo que foi "bem acolhida" na estação.
Um mês depois desta mudança, iniciou-se uma guerra entre a SIC e Cristina Ferreira. O canal de Paço de Arcos pedia uma indemnização milionária de 20 milhões de euros, de forma a compensar a sua saída repentina. Cristina tinha apenas 15 dias para pagar.
A cara da TVI defendeu-se e deixou uma 'indireta' a Daniel Oliveira. "Não posso deixar de registar a minha surpresa pela posição agora assumida por uma estação que tem assente a sua comunicação numa estratégia de funcionamento em equipa e liderança de audiências, nunca assente numa só pessoa", referiu.
O julgamento começou três anos depois, a 21 de junho de 2023, com a apresentadora a garantir que "a referida quantia [20 milhões] não tinha qualquer fundamento ou base contratual."
No decorrer do processo, o valor pedido pela SIC reduziu para 12,3 milhões depois de a estação ter contratado uma consultora externa, que definiu o valor que a empresa sofreu com a saída inesperada da apresentadora.
A 8 de novembro de 2023, Cristina Ferreira foi ouvida no Tribunal de Sintra, mostrando-se sorridente. Acompanhada pela advogada, a apresentadora não falou com os jornalistas.
Cerca de um ano depois do início do julgamento, o tribunal deu razão à SIC, mas Cristina Ferreira foi absolvida, tendo a sua empresa Amor Ponto, Lda. sido condenada a indemnizar o canal. A quantia decidida pelo tribunal era de 3.315.998,67 euros (três milhões trezentos e quinze mil novecentos e noventa e oito euros e sessenta e sete cêntimos).
Depois da decisão do Tribunal de Sintra, foi a vez do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste decidir executar os bens da empresa da apresentadora, num valor até 4,7 milhões de euros.
Como reação a esta notícia, Cristina Ferreira usou as redes sociais para alegar: "Em minha defesa e de quantos trabalham comigo, continuarei a assumir todas as responsabilidades com honestidade, como sempre fiz. [...] Já não está em causa a minha saída da SIC, uma decisão consciente sobre a minha carreira e sobre a minha vida. Está em causa o meu carácter e nunca me poderão acusar de faltar aos meus compromissos". Além disso, revelou que foi "a SIC que executou a sentença de primeira instância" e que a sua empresa, Amor Ponto, irá "usar um mecanismo legal que lhe permite suspender esta iniciativa."
Um mês depois, a guerra de quase quatro anos chega ao fim. Através de um comunicado, é revelado que "a SIC, a empresa Amor Ponto e Cristina Ferreira" chegaram a acordo. "Este acordo, alcançado após negociações construtivas, põe termo ao litígio existente entre as partes", sendo que "ambos os lados expressam satisfação com a resolução encontrada".
+ Cristina Ferreira e SIC chegam a acordo mútuo (pondo termo ao litígio)
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