Os homens são mais "liberais" em relação ao consumo de flores comestíveis do que as mulheres, maiores defensoras da gastronomia tradicional, refere Fernanda Botelho, especialista em Plantas Medicinais.

Membro desde 1995 da Herb Society do Reino Unido, onde viveu durante 15 anos, a formadora partilha com entusiasmo o seu conhecimento das plantas. Escreve em revistas de jardinagem e tem o curso de guia do jardim botânico da Faculdade de Ciências de Lisboa.

Como e quando começou a dedicar-se ao estudo de plantas comestíveis?

Desde que comecei a estudar plantas medicinais há cerca de 25 anos quando vivia em Inglaterra que me interesso pelos vários aspetos associados à utilização das plantas.

Em Portugal não há muita tradição nesta área….

Existe já uma tradição bem enraizada sobre a utilidade das ervas aromáticas, mas é um pouco limitada e condicionada por muitos regionalismos.

Podem ser introduzidas na gastronomia nacional?

Quanto a serem introduzidas novas formas de utilizar as flores comestíveis, há alguma curiosidade por um lado, mas também alguma resistência por outro, por exemplo quando digo às pessoas que as flores do alecrim, do tomilho ou dos coentros e até das couves são comestíveis e ficam lindas na decoração dos pratos, muita gente fica surpreendida pois já utiliza a planta mas não tem o hábito de utilizar as flores, para já não falar das sementes que também têm utilidades em muitos casos.

A mulher portuguesa gosta destas novidades, avaliando pela experiência que tem?

Diria talvez que até são mais os homens que se têm interessado pela inovação e se aventuram na experimentação de sabores e texturas desconhecidos. As mulheres mais ligadas a uma forma de cozinhar tradicional têm alguma resistência quanto à alteração dos hábitos alimentares. Talvez seja ousado dizer que existe alguma relação com a faixa etária e o extrato social e a vontade de experimentar coisas novas na cozinha.

Qual o beneficio concreto das flores comestíveis para o cozinhado e para a saúde?

O primeiro benefício é o enriquecimento visual dos pratos e travessas, depois será uma certa reeducação das papilas gustativas para as diferentes texturas e sabores que as flores apresentam e às quais não estamos habituados. Isto exige algum requinte, delicadeza e atenção ao paladar, quase como saber apreciar e saborear as diferentes características dos bons vinhos. Quanto aos benefícios para a saúde, serão os benefícios inerentes às propriedades de cada planta ou flor específica e que varia de flor em flor.

É formadora nesta área. Qual a sua principal mensagem?

Aprendermos a reconhecer e descobrir mais utilidades das flores para além do que é já sobejamente conhecido e utilizado. Aprender as propriedades medicinais de algumas destas flores e levar para casa algumas receitas e vontade de introduzir pétalas de rosas nas saladas ou de confecionar um delicioso refresco de sabugueiro. Teremos oportunidade de tocar, ver, cheirar e provar, claro está, cerca de 20 flores comestíveis diferentes.