Vanessa Martins é a mulher com duas faces: clássica, bem vestida, com um gosto óbvio por moda e viciada em desporto - sem ser fundamentalista -, alimentação e que não dispensa o fato de treino por nada.

'Frederica' não é a sua mãe ou melhor amiga, nem um animal de estimação que teve em criança. Frederica era a coordenadora do curso de Design Industrial que tirou em Itália, num programa semelhante a Erasmus. Uma das suas maiores inspirações resultou numa plataforma digital de lifestyle que fala de tudo um pouco e que prepara-se agora para celebrar o quarto aniversário.

Com 31 anos, a blogger e influenciadora é casada com Marco Costa e tem um cão chamado Sadik.

Começou a trabalhar com a Mango - que ainda antes de ser blogger já lhe dava um cartão com plafond, como acontece com algumas figuras públicas - e agora o blogue conta com uma equipa de nove pessoas, incluindo fotógrafos, maquilhadora, editores, gestores de redes sociais e de conteúdos. No entanto, garante, tudo é aprovado por ela.

Os 'Morangos Com Açúcar' foi o programa de televisão que a catapultou para a fama e hoje recorda esses tempos com carinho. Porém, admite que o digital é o futuro e que a televisão já não faz parte dos planos.

O blogue vai completar agora o quarto ano. Que balanço faz? O que aprendeu?

Imensas coisas, todos os dias. Aprendi a trabalhar em equipa, com marcas, que são muito complicadas, mas que é super vantajoso. Aprendi e cresci imenso. Gosto muito do que faço.

Como surgiu a ideia de criar um blogue? Foi uma necessidade ou um desejo que já tinha há algum tempo?

Ambos. Já tinha o desejo de criar o blogue mas não tinha tempo porque estava a fazer televisão – e isso rouba muito tempo. Depois quando fiquei sem trabalho pensei: ‘Bem, se calhar agora é uma ótima oportunidade’. Mas nunca pensei que o blogue se tornasse a minha profissão a 100% e a minha dedicação total. Aliás, era impossível fazer agora qualquer outro projeto em paralelo com o blogue porque não tinha qualquer disponibilidade.

Houve um 'boom' de blogues nos últimos anos. Acha que a profissão de blogger profissional é agora menos valorizada?

Acho que há espaço para todos, mas tornar isto uma profissão não é, de facto, para todos. Há muita gente que tem um blogue mas como um passatempo, um sítio onde gosta de escrever, onde dá dicas do seu dia a dia, mas que não faz disso uma profissão. Agora, ser blogger como profissão não há muitas em Portugal. Aliás, nem as Finanças reconhecem ainda essa profissão. Eu costumo viajar muito com o blogue, conheço bloggers profissionais e isto é super reconhecido lá fora. É uma categoria de comunicação. Há a televisão, os jornais, a internet, mas depois temos as influentes que influenciam a forma de estar dos outros e as marcas querem estar presentes e não é toda a gente que pode ser uma influente digital. As pessoas é que nos escolhem como influentes, não funciona ao contrário. É muito difícil ter likes, seguidores e acaba por ser natural. Não sei explicar como aconteceu no meu caso, mas as pessoas escolheram que eu tivesse esta profissão. Mas não sinto que ela é desvalorizada. Há bloggers muito boas e são muito valorizadas. É o caso da Maria Guedes, que fala de roupa como ninguém, temos A Pipoca Mais Doce, que fala sobre tudo de forma única… Há várias bloggers que fazem disto uma profissão e não são substituídas assim tão facilmente.

Em que momento percebeu que podia fazer do blogue uma profissão?

Eu só iria lançar o blogue se, de alguma forma, me desse algum dinheiro ao final do mês. Não querendo ser hipócrita, hoje em dia nós precisamos do dinheiro. Já que isto me ocupava tanto tempo tinha de tirar algum benefício e quando comecei a fechar com as marcas pensei: 'Há aqui uma oportunidade de negócio'. Comecei logo a negociar com marcas lá fora. Nunca falava com as marcas cá. Falava sempre com os departamentos da Península Ibérica e para eles era super normal comunicar com bloggers e haver um investimento. Era mais difícil fechar com as marcas que eram comunicadas cá porque não havia esse ‘budget’ para bloggers. Hoje em dia não há nenhuma marca que não feche uma categoria de 'influencers'.

Qualquer pessoa pode ter um blogue?

Claro que sim. Nós podemos ser o que quisermos da vida. É a mesma coisa que me perguntarem: 'Achas que qualquer pessoa pode ser cozinheira?'. Claro que sim! Essa pergunta é sempre um bocadinho desvalorizante porque qualquer pessoa pode fazer o que quiser.

Sendo um blogue tão influente, como é que lida com as críticas?

Sinceramente, não recebo críticas. Já recebi no início, mas já tenho uma credibilidade tão grande e o negócio já é tão estável que vão criticar-me à cerca do quê? No início existiam críticas quando eu dizia que tinha uma equipa, porque o blogue devia ser uma coisa autêntica e devia ser só eu a fazer. Quando se torna numa profissão e numa empresa com tantas marcas, para dar resposta a tantas coisas eu preciso de pessoas que me ajudem. Só assim é que consigo crescer e comunicar da forma que as pessoas gostam. Já tenho uma agenda lotadíssima com tantas pessoas a trabalharem comigo, imagina se eu estivesse sozinha. Não consigo tirar fotos a mim, não consigo editar vídeos tão bem como o António Medeiros, não consigo estar a publicar no Facebook de três em três horas, quer dizer, isto é uma rede. Mas, como é óbvio, tudo é aprovado por mim antes de avançar. Não existe aqui alguém que fale por mim. Mesmo que os conteúdos e os textos sejam feitos por outra pessoa, é tudo passado por mim. No início achavam que não era justo, mas não é justo como? Acham que a Chiara Ferragni está no computador a escrever? É muito limitado quando estamos a falar do mercado nacional. As bloggers internacionais não têm tempo. Para viajarem como viajam, não podem estar no computador. A Chiara tem o nome dela em todo o lado, é milionária, é a mais influente do mundo e isto não foi por estar sozinha. Ela teve muita gente a ajudá-la. Quem me dera um dia ser a Chiara Ferragni, mas nunca vai acontecer (risos).

Acha que em Portugal ainda há preconceito com blogues e bloggers?

Cada vez menos, porque acho que as pessoas já sabem. Posso começar por falar dos meus pais que no início foi difícil explicar o que eu fazia. Eles nem sequer sabiam o que era um blogue. É outra geração. A minha mãe agora já tem Instagram, já me segue e tudo. Se há 10 ou 15 anos alguém dissesse que íamos viver de redes sociais e a 'tagar' roupa, dizíamos que era impossível. As pessoas não sabem como podem tornar isto um negócio ou uma profissão, porque antigamente os blogues eram como diários e a Pipoca foi das primeiras pessoas a trabalhar dessa forma. Às vezes há alguma falta de conhecimento, mas também sou eu que pago as minhas contas, por isso podem estar descansados que está tudo pago (risos).

O blogue é muito ligado ao fitness. Quantas vezes treina por semana e quais são os exercícios que faz mais?

Agora faço caminhadas todos os dias, mas principalmente quando está sol – porque mantém o bronze (risos). Agora estou numa fase mais preguiçosa onde só estou a trabalhar três vezes por semana, porque chega a um momento em que já não é preciso, já está tudo ok. Mas às vezes surge um trabalho e fico doida e começo a treinar todos os dias. Mas não considero as minhas caminhadas um treino, é uma forma de estar na vida. Todos os dias faço uma atividade física, mas não sou alucinada.

Há alguma parte do corpo que acha que tem de trabalhar mais?

O rabo, como qualquer outra mulher. Treino o corpo todo mas dou especial atenção ao 'bum bum' porque a gravidade não o deixa ficar lá em cima.

Além do exercício físico que outros cuidados é que tem com a sua imagem?

Não sou muito vaidosa, já fui mais. Sou super simples e só me arranjo quando tenho algo para fazer. Se não, passava o dia de fato de treino e desmaquilhada, é o meu look preferido. Tenho amigas minhas que são a Wikipédia da cosmética, elas sabem tudo, todos os tratamentos… Eu, sinceramente, não sou nada dessas coisas. Não uso anti-celulíticos, às vezes tomo banho e não passo creme no corpo, sou um péssimo exemplo. Tenho de passar, eu sei. Mas se não o fizer também não me atraso por causa disso. Tenho rituais de limpeza de rosto porque tenho uma pele péssima e tenho de cuidar dela, lavo os dentes, uso desodorizante (risos), mas é uma rotina normal. Não sou nada doida de fazer tratamentos. Mais facilmente uso cremes do que propriamente tratamentos. Acho que a alimentação e o exercício físico são o mais importante, o resto é para cheirar bem. Temos de treinar, passar o creme e depois alimentarmo-nos bem. Agora as pessoas que fazem tratamentos, que comem mal e que não treinam, volta tudo ao normal em três tempos e é dinheiro deitado à rua. Agora se uma pessoa treinar, passar o creminho, comer bem e ainda fizer um tratamento localizado, ótimo. Mas só o tratamento não acredito que resulte, de todo.

Muito do conteúdo no blogue é sobre moda. Considera-se uma 'trendsetter'?

Gosto imenso de moda, mas acho até que o blogue está mais direcionado para lifestyle e alimentação. Não sei de tudo o que é tendências que existem no mundo, não sigo tudo, gosto de vestir o que tenho. Sou péssima trendsetter, gosto de andar é de fato de treino e lamento, sei que isso pode ser uma deceção para as pessoas que me seguem, mas para mim fato de treino é tudo na vida. Sweat, camisolão, calças largas, adoro. Mas gosto também de macacões porque sou muito prática. No entanto, acho que existem pessoas no mercado que percebem mais disto, como a Maria Guedes, a Mónica Lafayete, Raquel Prates… Elas para mim têm este síndrome de moda.

O Marco é também desportista. Vocês treinam juntos? Acontece no vosso dia a dia?

Nós nem nos vemos às vezes (risos). É muito raro isso acontecer, mas não é por falta de vontade, é mesmo pela carga horária. O horário dele é completamente diferente do meu. Ele tem de acordar às cinco da manhã e eu acordo às nove, cheia de sono. Temos estilos de vida completamente diferentes e somos bastante diferentes na nossa forma de estar na vida. A única coisa que nos aproximava era, de facto, o exercício. Mas, por exemplo, ele ligou-me e perguntou-me: "Estás onde? Estás em casa? Então, vamos dar a caminhada". É quase como as amigas: "Olha, podes ir almoçar?". Mas tem de ser assim, se não, não estamos juntos. Quer dizer, encontramo-nos em casa todos os dias, mas assim de ter rotinas juntos não. Isto porque não temos um horário das 9h às 18h.

Quanto à alimentação, tem algum dia da asneira?

Tenho, se for preciso é todos os dias. Vou dizer isto, mas as pessoas vão dizer que não é uma asneira. Como um chocolatinho. Ainda hoje comi um cheesecake. Não tenho nenhuma dieta em que tenho tendência a aumentar de peso e vou estragar tudo se cometer todos os dias uma loucura. Mas isto sou eu. Como assim pontualmente, mas não passo um dia a comer porcaria. Se tiver um aniversário, ou um casamento, não vou estar a escolher o que é fit, não quero saber de todo. É uma questão de equilíbrio. Se a pessoa está no regime de dieta e sabe que tem tendência a aumentar de peso, não pode estragar como eu. Eu corro 10 minutos e já moí o cheesecake. O meu metabolismo é muito rápido. Mas como é óbvio, se tiver algum trabalho, não desvio a minha atenção. Gosto de comer um quadrado de chocolate com 80% de cacau depois do café, mas não como a tablete toda. Não sou nada fundamentalista. Se as pessoas querem comer, devem comer, mas sabem que depois daquilo têm uma obrigação a seguir. Agora comer e ficar sentado no sofá, não é o meu caso.

Que alimentos tem sempre em casa?

Tenho sempre frango, batata doce, ovos, pão integral, bebida de leite de côco. A minha alimentação é muito básica. Saio da minha rotina e só penso nas minhas torradinhas com o meu leite de côco, é o que mais gosto de comer de manhã.

Qual é o melhor doce do Marco?

Imensos. Ele é muito bom pasteleiro, mas talvez o cheesecake de melancia. É muito bom.

A sua carreira começou na televisão. É algo que gostava de voltar a fazer?

Eu faço a pergunta ao contrário: 'Vês televisão?' A nossa geração não está a ver televisão, por isso não é importante alcançar o público da televisão. Eu prefiro estar no digital, a nossa geração é do digital e quem vem atrás de nós ainda é mais digital é. As pessoas põem para trás quando querem ver alguma coisa porque querem ver ‘aquele’ programa. Eu deixei de fazer televisão por uma questão de falta de oportunidade na altura e neste momento é uma opção – de não fazer televisão. Mas também não digo ‘desta água não beberei’, porque não sei o que o futuro me reserva. De momento, não tenho nenhum projeto televisivo, é tudo digital e preenche-me a 100%. Até porque se tivesse algum projeto relacionado com uma novela, seria muito difícil para mim. Teria de pôr em stand-by uma data de projetos que tenho a decorrer. Mas adoro televisão e fazer televisão.

Que memória guarda dos 'Morangos com Açúcar'?

A memória principal é que andava cansada como tudo. As pessoas pensam que é um mar de rosas, mas são muitas horas de trabalho. O melhor que adquiri daí foi o público que ainda me acompanha, que cresceu comigo e que já tem uns 20 ou 30 anos, que é a minha geração. Depois foi, sem dúvida, a aprendizagem. Foi brutal. Um ano intenso em que aconteceram milhares de coisas, mas muito positivo. Não há nada na minha vida que eu diga: "Correu muito mal, não gostei nada e não aprendi nada", isso não.

Tem saudades da representação?

Não são saudades. Gosto imenso da arte de representar e estou completamente enferrujada. Já não faço televisão há sete anos. Mas não é uma saudade que me faça procurar ter lugar no mercado. Foi fixe, quanto durou.

Está casada há seis meses. Em que é que a sua vida mudou?

Não mudou nada, é uma chatice (risos). Casar é a melhor coisa do mundo. O sentimento é muito mais forte e já não é um namoro, é o meu marido e isso muda muita coisa.

E filhos? Está para breve?

Não sei. Não faz parte dos nossos planos para já. O Marco tem imenso desejo de ser pai, mas há tempo para tudo, principalmente para curtirmos agora o casamento. A partir do momento em que eles vêm [os filhos] é para sempre. Por isso, agora temos o Sadik e está a ser ótimo. É a primeira vez que temos um animal de estimação e dá muito trabalho, mas assim vai crescendo a família. É claro que vai acabar por acontecer, mas sem data.