
O que significa para ti ser um ícone? Revês-te nesta figura?
Eu acho que não. Eu só vim entrevistar aquela que é o verdadeiro ícone [a Kelly Piquet]. Vim fazer o meu trabalho. [risos] Provavelmente serei para os meus filhos, para uma ou outra pessoa, mas não acordo de manhã com isso na cabeça. [risos] Acho que temos de ter aqui em mente que, e é por isso que acho que conferências como estas são interessantes, nós temos um público, uma audiência e, no fundo, temos uma responsabilidade também associada. Eu acho que é isso que nós vimos aqui fazer: dar conta de como é que nós, enquanto figuras públicas, podemos utilizar aquilo que temos para influenciar, responsabilizar e ter um comportamento que acho adequado junto das pessoas que nos seguem, que nos fazem likes e por aí fora.
Contas com quase 20 anos de carreira em televisão. A transição do mundo da televisão para o digital foi algo natural para ti?
Foi natural, não foi nada muito pensado. Aliás, eu não sou uma pessoa que reflita muito e que tenha uma estratégia. Acho que sou muito orgânica. Sou na televisão e também o sou nas minhas redes sociais, foi uma transição muito natural. Tive um crescimento muito grande quando vim para a TVI, portanto não dá para dissociar uma coisa da outra, e complementam-se as duas.
E de que forma é que a Maria da televisão ajuda a Maria do digital?
Ajudamos-nos mutuamente. A imagem que eu tenho junto do meu público da televisão é também aquilo que mostro no meu dia a dia. Há aqui uma coerência também na forma de estar, uma autenticidade que as pessoas reconhecem em mim. E, portanto, tem que haver aqui esta coerência e esta interajuda, claro que sim.
Conseguimos perceber muito facilmente o lado negativo que este mundo digital tem, não só para os influencers, mas também para o público
Consideras que a autenticidade é o fator mais importante para se ser bem-sucedido na televisão, nos negócios e no digital?
Eu vou mais longe: na televisão, nos négocios, no digital e também na vida. Há muitas pessoas que não, que preferem ter uma personagem, mas acho que na vida, com essa autenticidade e esse deitar na almofada com a consciência tranquila, é o mais importante. Isso tem sido feito ao longo dos meus anos de profissão e de vida, portanto, sim, acho muito importante.
Qual é a tua opinião sobre a forma como as marcas se têm vindo a relacionar com os influencenciadores ao longo dos anos? Como olhas para este modelo de parceria e esta sinergia?
Acho que tem evoluído muito. Não sabemos muito bem onde é que isto vai dar. Conseguimos perceber muito facilmente o lado negativo que este mundo digital tem, não só para os influencenciadores, mas também para o público. Há comparações, há o 'a vida desta [pessoa] é espetacular'. Há um lado negativo muito presente e acho que nós, como em tudo na vida e sendo uma coisa nova, há uma adaptação natural. Nós estamos numa fase em que estamos em constante adaptação às realidades que vamos encontrando e isso é sempre muito difícil. Principalmente quando temos um mundo que está numa fase difícil. Portanto, é importante termos consciência que temos um papel, mas não controlamos tudo. Saber que não controlamos tudo também nos ajuda no nosso dia a dia a não ficarmos ansiosos e preocupados.
Eu tenho fases em que falo mais um bocadinho, tenho fases em que estou mais ausente. Eu não sou refém do meu Instagram e das minhas redes sociais
Como é que a relação com a tua audiência - e a forma como comunicas com ela - mudou ao longo dos anos?
Eu tenho fases em que falo mais um bocadinho, tenho fases em que estou mais ausente. Não sou refém do meu Instagram e das minhas redes sociais. Não acordo durante o dia a pensar 'agora tenho que fazer um post'. É tudo muito natural. Há compromissos profissionais que tenho de cumprir, mas é um público que me vê como muito próxima. Tenho a sensação de que as pessoas sentem-me como mais uma lá de casa e isso é muito engraçado. Eu gosto dessa parte, confesso.
Qual é a tua principal preocupação ao associares o teu nome e a tua imagem a uma marca?
Ao emprestar a minha imagem, essa marca tem de me chamar por características que eu tenho. Ou pela leveza, ou pelo facto de ser autêntica, ou pelo facto de ser mais desbocada... Eu não gosto de me modificar para fazer parte. Tem de ser o inverso. A marca tem de olhar para mim e dizer: 'Eu acho que a Maria encaixa perfeitamente aqui.'
Eu não gosto de me modificar para fazer parte de uma marca. Tem que ser o inverso
Qual é o principal desafio de ter um documentário? Foi fácil abrires-te e mostrares um outro lado da tua vida? Sentes que isso te aproximou mais dos teus fãs?
Foi muito difícil encontrar o equilíbrio entre aquilo que as pessoas querem ver e aquilo que eu quero mostrar. É sempre uma gestão muito delicada. Porque depois não posso voltar para trás e, no fundo, também não queria ser desonesta com o público. Tinha de haver uma honestidade de ambos os lados e acho que consegui isso. Se calhar as pessoas queriam ver-me mais um bocadinho, mas é assim que me sinto confortável. Acho que foi uma confirmação da minha forma de estar ao longo destes 20 anos. Acho que foi um bom culminar da minha forma de estar.
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