Há mais de três décadas que Carla Rocha realiza o sonho de fazer rádio. Depois de programas como "Café da manhã" e "Rocha no ar", na RFM, brilha agora em "As três da manhã" na Rádio Renascença, que conduz, há um ano, de segunda-feira a sexta-feira ao lado das colegas Ana Galvão e Joana Marques. A emissão que fizeram em direto a partir de um balão de ar quente, sobrevoando a lezíria ribatejana ao amanhecer, a primeira em Portugal, fica para a história.

O vosso programa fez um ano no passado dia 4 de fevereiro. Já se pode fazer um balanço... 

Eu faço um balanço muito, muito positivo. Nós as três somos diferentes, representamos visões diferentes dos portugueses. Há pessoas que, seguramente, se identificam mais com cada uma de nós mas acho que temos três mulheres descontraídas com uma atitude muito positiva perante a vida. A Joana, às vezes, consegue ser desagradável e negativa, mas nós estamos cá para contrabalançar e conseguimos ter um programa de informação que cumpre o seu papel.

O nosso papel é informar e esclarecer as pessoas que nos acompanham diariamente mas, também, incutir-lhes e ajudá-las a ter alguma positividade perante este mundo que é tão caótico e complexo e, às vezes, tão difícil de entender. E há assuntos que são maçudos e chatos mas que, ainda assim, fazem parte da nossa vida e nós temos que falar neles e desconstruí-los. E é possível falar de coisas sérias com uma perspetiva otimista e, às vezes, divertida...

Sendo três mulheres tão diferentes, tendo em conta os clichés que existem em relação às mulheres que trabalham juntas, a vossa junção tinha tudo para correr mal mas, aparentemente, não corre…

Pois é… Acho que muita gente pensou isso no início! Três mulheres juntas? Isto vai durar cinco meses… Mas sabe que eu estou habituada a começar programas de rádio. Recordo, por exemplo, o caso do "Café da manhã". Tenho a perfeita noção que, quando eu e o José Coimbra começámos, em 2003, ninguém dava muito por nós.

Não se sabia quanto tempo é que o programa iria durar e durou 10 anos. Eu estou habituada a que os projetos onde me meto acabem por não ter bons augúrios mas, depois, são duradouros. E aqui, se depender de mim, este é um projeto para durar.

É um projeto que tem vindo a crescer e que tem vindo a ganhar audiência…

Sim, felizmente. A rádio é um meio de comunicação que vale pelas ligações que cria. Acima de tudo, as pessoas não se ligam a tecnologia, ligam-se a pessoas, por muito que a tecnologia seja maravilhosa.

Mas, de manhã, continuo a acreditar que a maior parte das pessoas quer sentir que tem companhia, que tem alguém que faz com que o seu dia comece de uma forma diferente todos os dias, que tem aquelas pessoas que já vai conhecendo e que acabam por ser quase amigos ou familiares.

É isso que a rádio consegue, criar esse vínculo entre o ouvinte e a pessoa que está do outro lado. Nunca se viram, se calhar nunca se irão ver, mas, ainda assim, parece que seriam capazes de ir tomar um café e de ficar a falar durante horas.

E, ao contrário do que muitos chegaram a vaticinar, incluindo os The Buggles que chegaram mesmo a gravar uma canção sobre o tema, o vídeo e a internet não mataram as radio stars…

Não, antes pelo contrário, complementaram a radio star! No programa de balão que fizemos, fomos filmados a toda a hora. Temos imagens, fotografias e vídeos, para partilhar. Estivemos em direto nas redes sociais... A rádio é um complemento e foi, provavelmente, o meio de comunicação que melhor se adaptou a toda a tecnologia, tecnologia essa que, em vez de ser a fraqueza que a iria anular, converteu-se na força que a veio complementar...

Como é que foi esta experiência de fazer a emissão a partir de um balão de ar quente? No início, estava com algum receio mas, depois, soltou-se…

Eu lembro-me que comecei o programa a dizer que há três tipos de pessoas no mundo. Há as destemidas, que não querem saber e vão, como é o caso da Ana Galvão. Depois, há as que têm medo e que não o vencem, como é o caso da Joana Marques, que ficou em terra. E, por fim, há as mais sensatas, que vão com algum receio, mas vão, como eu.

Eu não iria nunca perder uma experiência destas mas confesso que, no dia anterior, quando comecei a tomar consciência de que íamos estar a alguma altitude num balão de ar quente, fiquei com algum receio. O segredo, para mim, é não pensar. Quando chegou a altura de ir para o balão, fui e não pensei mais nisso.

Lá em cima, como pudemos comprovar na altura, não deu parte de fraca. As pessoas que olhavam para si nunca a viram com medo…

Porque eu estava mais preocupada com a qualidade da emissão e com o que ia para o ar e com o que os ouvintes estavam a ter naquele momento do que propriamente com o balão. Foi mais fácil desligar por causa disso...

E, no meio desse stresse, acabou por desfrutar da viagem ou não deu para aproveitar nada do dia soalheiro que se levantou sobre a lezíria ribatejana?

Deu, deu... Principalmente porque nós tínhamos outro balão a voar connosco, o balão da Renascença, então deu para contemplar aquela paisagem, os campos onde, muitas vezes, não havia nada. Noutras alturas, viam-se muitas árvores, as casas, os cães a correr cá em baixo... Voámos tão baixo a certa altura que dava para ver os animais na rua e identificá-los.

E, ao ver o balão da Renascença ao fundo, num céu azul que chamava a atenção, com as nuvens brancas a passar... É idílico! Aí, parei, olhei, respirei fundo e desfrutei...

Foi a primeira vez que andou de balão de ar quente?

Sim, foi a primeira vez de balão! Já voei de asa delta no Rio de Janeiro, já fiz uma viagem de planador mas, de balão de ar quente, foi a primeira vez.

Como é que uma pessoa que, à primeira vista, não é adepta de atividades muito radicais, já teve essas experiências?

Eu não sou nada radical. Eu tenho medo! Esse voo de asa delta durou sete minutos e, durante esses sete minutos, a minha perna não parou de tremer. Eu tenho medo mas procuro contrariá-lo. O verbo é ir, eu quero ir, tenho receio, mas tento não perder as oportunidades...

E, em termos de atividades mais radicais, o que é que gostava de experimentar?

Saltar de paraquedas. Fiquei com vontade! Nessa emissão, tivemos o [mágico] Mário Daniel, que veio ter connosco de véspera e, à noite, estivemos a conversar. Ele já fez vários saltos, contou-nos a sua experiência e acho que todo o grupo ficou a pensar o bom que deve ser um salto de paraquedas. É radical demais para mim mas tenho que me mentalizar...

Também se falou nessa conversa em mergulho e em experiências no mar. A Ana Galvão é uma viciada em mar…

Sim, a Ana adora. Mora na praia... Eu faço mergulho já há alguns anos, não com a frequência que gostaria... Depois de ter o meu segundo filho, acabei por deixar o mergulho um bocado de parte e, agora, há uns meses voltei e é tão idílico e relaxante quanto um voo de balão.

Estamos lá em baixo, não há nada, é só silêncio! Vemos peixes de todas as cores, as rochas... Não há forma de pensarmos noutra coisa que não sejam pensamentos tranquilos. Não estamos lá em baixo em stresse. Em termos de terapia, é brilhante!

A vossa foi a primeira emissão de rádio feita num balão de ar quente em Portugal. Vocês fizeram história! Têm consciência disso ou ainda não tiveram tempo para processar essa informação?

Essa viagem ainda é muito recente. Ainda não tive tempo para pensar. Fiz questão de ouvir a emissão outra vez para perceber o que é que foi para o ar porque, na altura, não temos aquela noção do que é que as pessoas ouviram. Mas é estranho porque a rádio acontece a um ritmo tão frenético que, no dia a seguir, houve logo outro programa.

Nós, no carro, a caminho do balão, já vínhamos a preparar o programa do dia seguinte, a pensar e a falar sobre ele, pelo que não tivemos tempo para pensar que estávamos a fazer história. Passámos logo para o programa seguinte. Não tivemos tempo para desfrutar...

Esse é um dos problema dos dias de hoje. Acabamos por não ter tempo para aproveitar mais as coisas…

É verdade, é, sem dúvida, um problema dos tempos de hoje e também da rádio, como meio de comunicação, em que é tudo ao segundo. Mas não temos mesmo…