“Fui trabalhar para televisão porque precisava de dinheiro”. O início do seu percurso no pequeno ecrã, aos 40 anos, foi um dos primeiros temas abordados por Luísa Castel-Branco em conversa com Goucha.

“Odeio gente mal educada. Hoje em dia, aquilo que antes era normal é anormal. Aliás, infelizmente, a elites são as primeiras a não educarem os filhos. É super confuso para mim. Odeio gente estúpida. Tenho uma falta paciência para gente estúpida", partilhou logo ao início, com toda a sua sinceridade.

"Há duas coisas numa pessoa que me marcam profundamente que é quando ela diz que não se arrepende de nada e que não tem dúvidas. É uma pessoa com quem não vou perder um minuto. Estou velha demais para a mudar. Quando era nova achava que salvava o mundo. [...] Tenho cada vez mais dúvidas e cada vez mais me arrependo de coisas”, acrescentou.

A separação e o tempo em que foi mãe solteira

Uma entrevista onde abriu o seu coração e falou abertamente sobre várias fases da sua vida, como o momento em que se separou do primeiro companheiro e pai dos três filhos, António, Gonçalo e Inês.

A escritora confessou que lidou com esta etapa com “um enorme sentimento de culpa, principalmente porque foi a própria quem pediu a separação”. “Não tinha dúvidas que amava o meu marido. O amor também mata, também destrói. Mas se crescemos de formas diferentes e se aquela pessoa te leva para baixo em vez de puxar para cima, em vez de te acompanhar nos sonhos, chega a um momento em que não dá”, explicou.

Foi um casamento que durou sete anos, tendo estado depois mais sete anos a viver sozinha com os filhos. No entanto, o divórcio só foi oficializado cerca de 14 anos após a separação, quando o ‘ex’ “se quis casar”. Luísa juntou-se a Francisco Colaço, com quem vive até hoje.

Sobre o momento em que foi mãe solteira, recorda: “Foi difícil a nível financeiro, mas foi maravilhoso”.

Cheguei a ter quatro trabalhos e eles sabiam sempre onde eu estava, o que é que eu fazia”, acrescentou, referindo que o filho mais velho, António, era quem tomava conta dos irmãos mais novos.

Luísa fazia questão que os filhos levassem os amigos para sua casa, que estava “sempre cheia de gente”. “Era a mãe de todos”, lembrou, destacando um episódio em que serviu de conselheira para um amigo do filho, cuja namorada tinha perdido a vida. A pedido do filho, Luísa esteve à conversa com o jovem. “Estive a conversar com ele. Eles achavam que eu era o confessionário”, disse.

Dei-lhes tudo o que não tive, e quando hoje em dia os vejo a repetir aquilo que fiz muitas vezes, é o melhor agradecimento do mundo”, salientou.

“Era um idiota quando o conheci”

Francisco Colaço é o seu companheiro há 25 anos, e já o conhecia quando começaram esta relação que dura até aos dias de hoje.

“Era um idiota quando eu o conheci”, recordou. “Era aquele tipo que media tudo, o profissional da cueca, faturava tudo”, acrescentou, na brincadeira, contando que já o conhecia quando se reencontraram e formaram um casal.

Durante a entrevista, Francisco recebeu rasgados elogios de Luísa. “Quando tive o AVC, às sete da manhã, a enfermeira deixou entrar o Francisco. Quando ele entrou, tive a certeza absoluta que era ele que eu queria ver ali. Ele puxa-me para cima, faz-me acreditar em mim mesma e aguenta as minhas dúvidas todas”, realçou.

O que a Covid-19 lhe roubou

Avó de nove netos, Luísa lamenta estar longe dos mesmos nesta fase por causa da pandemia. Assim como também lamenta não ter estado perto de várias pessoas que lhe são próximas nestes últimos meses. De referir que devido aos vários problemas de saúde, Luísa é uma doente de risco.

“É uma sensação horrível que vai deixar mossa neles, que te faz contar os dias e nunca sabes que dia é”, destacou.

Medo da morte?

Assusta-me ficar dependente. Só percebi que isso podia acontecer quando vi a minha mãe”, desabafou, também, a Manuel Luís Goucha, recordando a dura partida da progenitora, que sofreu com uma demência.

"A minha mãe morre no meio do confinamento em que não deu direito à despedida. E, principalmente, o sofrimento em que ela viveu, e que nós vivemos. Pior do que uma pessoa não reconhecer [outra], são os momentos em que reconhece e quer falar e não consegue", disse.

“Assusta-me ser um peso para os meus filhos. Que o Francisco parta antes de mim... Recuso-me a pensar em relação aos meus netos e filhos. Não sou capaz de pensar”, acrescentou, referindo-se à morte. "Quando morrer, espero que possa ver os meus filhos e netos", continuou.

Para Luísa, “a morte ficou mais presente com estes longos anos de sofrimento da mãe”. “O Francisco é a única pessoa que sabe quantas vezes tenho estado doente e isso impossibilita-me de fazer uma vida normal. É a única pessoa que pode dizer-me que é preciso muita força para isto", completou.

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