"Gostaria de me reencontrar com o meu pai. Gostaria de me reencontrar com o meu irmão", insistiu numa entrevista com a estação britânica ITV antes do lançamento, na terça-feira, da sua autobiografia, "O que sobra", afirmando que está "100%" convencido de que a reconciliação é possível.
Mas ninguém saiu ileso do seu livro. Nem o seu pai, o rei Carlos III, nem o seu irmão, alvo das piores críticas, nem a rainha consorte Camilla ou mesmo a sua cunhada, Catherine. Nem mesmo ele próprio, que expôs sem o menor pudor, relatos da sua juventude marcada pelo uso de drogas e álcool.
Harry conta que o seu pai não o abraçou quando lhe contou sobre a morte da mãe, Diana - quando tinha 12 anos -, deixando-o sozinho no quarto.
William - herdeiro ao trono - que descreveu como o seu "irmão amado e inimigo declarado", concentra as suas críticas num relato que o descreve como um homem temperamental e que nunca gostou da esposa de Harry, a ex-atriz americana Meghan Markle.
Segundo Harry, William considerava-a "grosseira" e "ríspida" e numa discussão entre eles, em 2019, abanou-o, fazendo-o cair em cima das tigelas do seu cão.
O príncipe descreve uma grande rivalidade com William, o herdeiro, e ele, o "sobresselente".
"Eu era a sombra, o substituto, o plano B", contou.
Ele também acusou a sua madrasta, Camilla, que durante anos foi demonizada pelos jornais britânicos, mas que agora é popular, de ter sustentado numa "campanha pela condição de esposa e, finalmente, pela coroa" por anos.
No livro, ele revela alguns segredos menores, mas outros de grande calibre.
Conta que no seu primeiro encontro com Meghan, a rainha Isabel II lhe perguntou a sua opinião sobre Donald Trump, então candidato à Casa Branca. Aparentemente, Meghan encolheu os ombros.
Este também revela que soube da morte de Isabel II pela página da BBC, quando viajava sozinho para a Escócia, já que não foi informado pelo seu núcleo próximo, que viajou em aviões privados para estar no leito de morte da monarca.
Uma "lacuna" familiar
Perante a coroação do rei Carlos III, a 6 de maio, "sinceramente não acredito" que uma reconciliação seja possível, disse à AFP Pauline Maclaran, professora da Royal Holloway University e autora de um livro sobre a monarquia.
"Eu realmente não vejo como isto pode acontecer, com tantas coisas claramente ofensivas para os seus familiares, com detalhes pessoais", acrescentou.
"Se havia empatia e compaixão, uma ideia que supostamente estaria por trás da Archewell (fundação criada por Harry e Meghan), isso perdeu-se pelo caminho", acrescentou a especialista.
Harry reconheceu que não fala com o seu irmão ou o seu pai "há algum tempo" e descartou que voltará a trabalhar para a família real. Este também não confirmou se comparecerá na coroação do seu pai.
"A lacuna não poderia ser maior antes deste livro", escreveu ele.
A lista de agradecimentos ocupa duas páginas inteiras e não deixa espaço para os membros da família real, destacando o trabalho dos "profissionais, médicos especialistas e instrutores" que permitiram que ele permanecesse forte "mental e fisicamente".
Isso fez com que "fontes próximas da família real" dissessem ao jornal The Independent que, para o rei, Camilla e William, a situação não pode melhorar, já que Harry foi "sequestrado pela seita da psicoterapia e por Meghan".
O jornal Le Sun afirmou que o príncipe cruzou "uma linha vermelha" ao atacar Camila.
O Palácio de Buckingham respondeu com um frio silêncio à publicação destas memórias, assim como à transmissão de um documentário altamente crítico sobre a instituição no mês passado na Netflix.
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