A Bruna Alvim nasceu no Brasil, viveu no México e nos Estados Unidos. Atualmente está radicada em Portugal. O que a motivou a viver no nosso país?

Depois da pandemia, o meu casamento no Brasil terminou e queria voltar a viver fora. Tinha a opção de voltar a viver no México ou pedir a cidadania portuguesa por descendência. Escolhi essa opção pensando no futuro, pois acreditei que Portugal seria melhor para mim. O meu bisavô, Alfredo Gouveia, nasceu em Alvoco da Serra, uma aldeia na Serra da Estrela. Foi para o Brasil aos 25 anos e lá faleceu aos 35, depois de casar e de ter três filhos com minha bisavó. Ele nunca regressou a Portugal. Um dos motivos que me levou a escolher viver aqui é para trilhar esse caminho por ele, de volta à sua terra. Sou muito ligada à ancestralidade devido ao sagrado feminino. Ainda não estive na aldeia do meu avô, mas desde que cheguei a Portugal é uma das minhas missões.

Em que contexto surgiu o convite para interpretar o papel de “Chiquinha”, na nova novela da TVI, Cacau?

Na minha primeira segunda-feira em Portugal fiz um casting para a TVI através do meu agente Rodrigo Nabarros. Um tempo depois chamaram-me novamente e, nessa altura, já para o casting da “Chiquinha”.

O que a seduz na personagem que interpreta na referida novela?

“Chiquinha” é a personagem com maior carga dramática de toda a minha. Foi um presente mesmo. Fui desafiada como atriz e espero que gostem do resultado.

Portugal já traz um caminho consolidado no que respeita à produção de novelas. Como avalia a qualidade das nossas novelas, tendo por comparação o país berço do género, o Brasil?

Não acompanhei muito as novelas em Portugal, mas Cacau está ao nível das novelas brasileiras. Acredito que será um grande sucesso a receita de juntar equipa e elenco português e brasileiro.

“A história sexual feminina é triste e profundamente desigual” – Tamar, autora do livro “O Mel da Deusa”
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A Bruna estudou Ciências Sociais. No entanto, acaba por encontrar o seu percurso no teatro, na televisão e no cinema. O que motivou esta mudança?

A minha família é tradicional e, por essa razão, acabei tendo de ir para a universidade. Nessa época, já trabalhava como modelo e acabei realmente escolhendo a formação como atriz, ao invés da carreira como antropóloga que era o que eu pensava ao longo da universidade. Primeiro, queria mudar o mundo com a política. Depois, queria viajar pelo mundo estudando culturas e escrevendo sobre elas. Acabei fazendo isso mesmo como modelo e atriz.

Teatro, cinema ou televisão? Em qual destes meios se sente como “peixe na água”?

O cinema é minha grande paixão, mas amo o palco do teatro assim como a televisão. Acredito que me completo com as três artes. Cada uma preenche-me de uma maneira diferente.

“Acredito que a Mulher está desconectada atualmente do seu corpo e da energia feminina” – Bruna Alvim
“Acredito que a Mulher está desconectada atualmente do seu corpo e da energia feminina” – Bruna Alvim Bruna Alvim. créditos: Divulgação

Ganhou o prémio de melhor atriz no festival de cinema Bangalore International Short FIlm, realizado na Índia. Foi uma surpresa para si o reconhecimento naquele país asiático?

Sem dúvida. Não acreditei que tinha conquistado o prémio quando me avisaram. Foi uma grande felicidade. Ainda mais por se tratar de um filme [Tendu] que fala sobre aborto e o prémio vir da Índia, um país tão machista.

Aliás, tem uma ligação profunda com a Índia. Porquê?

Desde adolescente que sabia que deveria conhecer a Índia. Sempre fui muito espiritualizada, e conecto-me a diversas religiões, incluindo o hinduísmo. Acredito em reencarnação e creio que vivi uma vida muito feliz na Índia. Isso confirmou-se através da extrema felicidade e amor que senti nos dias em que visitei algumas das cidades indianas. Tudo isso acabou no livro que escrevi em 2020, ano em que estive naquele país. Só lancei o livro no final de 2023. Ele narra tudo que vivi e também traz dicas práticas, pois não é um país como os outros.

A Bruna quer falar-nos um pouco mais sobre a sua escrita? 

Sim. A Índia Pelos Meus Olhos é um e-book à venda pela Hotmart e, como disse, relata a minha experiência naquele país tão diferente e tão espiritual. O Cem Poesias Sem Você foi o meu primeiro livro. Um dia espero lançá-lo em formato físico. A obra traz cem poesias minhas, escritas no período entre a segunda e a terceira vez que vivi no México. É dedicado a um grande amor que vivi por lá, mas que tive de deixar para trás. Continuo a escrever poesia, por fazer parte da minha cura. Escrever também é um processo de cura do sagrado feminino.

É, como já percebemos, apologista do sagrado feminino. Há nesta sua afeição uma procura de um papel da mulher que parece estar esquecido? 

Exatamente. Acredito que a Mulher está desconectada atualmente do seu corpo e da energia feminina. Acredito que a cura de males físicos e emocionais começa aí, nesse retorno à honra, ao nosso ventre, o nosso período e o nosso papel como feminino sagrado. A energia feminina é curadora por si. Essa é a energia do amor que cura o mundo.

A Bruna traz no seu currículo um projeto relacionado com o bem-estar. Quer contar-nos que projeto é este?

Em 2017, descobri que tivera três tromboses que poderiam estar relacionadas com o anticoncecional. Meses depois, perdi um bebé planeado com o meu ex-marido. A partir dali a minha vida mudou, iniciei formações como Ginecologista Natural, Gineterapeuta, Reikiana, Aromaterapeuta, e outras áreas ligadas à cura como algo integral.

Não acredito que uma doença se cure apenas com remédios. E acredito que as mulheres hoje estão desconectadas do seu lado feminino. Quando fui descobrindo esse novo mundo, comecei a falar nas minhas redes sobre isso, e então surgiram os convites para workshops, círculos de mulheres e atendimentos individuais. Passei um tempo mais focada nesses aspetos do que na carreira artística. E percebo que essa mudança como mulher modificou totalmente a minha mudança como artista.

Referiu há pouco que é Gineterapeuta. Quer explicar-nos o que faz neste âmbito?

Uma Gineterapeuta busca a cura integral da mulher, alinhando corpo físico e emocional, através de processos naturais utilizados pelos nossos ancestrais, tais como banhos de ervas, vaporização uterina, banho de assento, menstruação livre de hormonas, entre outras práticas.