Já lhe aconteceu comprar um bilhete de
avião, ter tudo programado, entrar no
aeroporto e, precisamente na hora de
fazer o check-in (ou até mesmo à porta do
avião), querer desistir da viagem porque o medo
tomou conta de si?

Está longe de ser um caso único, uma vez que este tipo de receios é bem mais frequente do que se julga!

Se já sentiu este receio na pele, saiba que protagonizou o que na
aviação é conhecido por no-show, «uma derrota
para quem, passados poucos minutos, cai na
realidade, reconhece que o seu medo é irracional
e se culpabiliza por não ter sido capaz de o
controlar», explica Cristina Albuquerque, psicóloga
clínica e especialista em fobias de voo.

Já nos casos em que a pessoa consegue embarcar,
«o esforço físico e emocional é tão elevado
que esta chega ao destino com a sensação
de que levou uma tareia», explica a psicóloga
acrescentando que «muitas vezes a pessoa acaba
por não desfrutar da estadia com a preocupação
do regresso. O que podiam ser uns dias de descanso,
transformam-se num tormento».

Ansiedade desmedida

Segundo o Manual de Classificação das
Doenças Mentais da American Psychiatric Association
(DSM-IV-R), a aerofobia ou fobia de
voo pode definir-se como «um medo excessivo,
desproporcionado e descontrolado de viajar
de avião que surge sempre que a pessoa
é confrontada com a ideia ou a situação de
fazer uma viagem aérea», diz Cristina Albuquerque.
«Normalmente é acompanhado por
sintomas físicos (ver caixa) e psicológicos que
podem surgir no dia do voo ou, em casos
mais graves, semanas ou meses antes da viagem».

Este medo intenso provoca uma sensação
de aflição desmedida que faz com que a
pessoa evite a qualquer custo andar de avião.
E quanto tem mesmo de o fazer, a ansiedade
e o desespero são de tal forma elevados que a
pessoa recorre a tudo para minimizar o sofrimento.

Nem que tenha de ir entorpecida para
não sentir os efeitos do medo fóbico. «Existem
estudos que estimam que 20 por cento
dos passageiros ingere álcool ou automedica-se
para tornar a viagem mais suportável», refere
a psicóloga.

Origem da fobia

Segundo os especialistas, não
existe uma explicação única,
mas um conjunto de factores
que podem estar associados ao
desenvolvimento da fobia de
voo. Exemplo disso é o medo
de morrer, de falhas humanas
ou técnicas, do acidente,
medo que o mau tempo ou a
turbulência possam danificar
o avião, medo de ter um ataque
de pânico a bordo e não ser
socorrido, medo do desconhecido
(incerteza quanto ao destino),
medo de cair, medo de
sofrer um atentado terrorista ou de estar numa
situação que não controla.

No limite, a fobia
de voo faz com que a pessoa recorra apenas aos
meios de transporte terrestres, limitando a sua
vida e a daqueles que a rodeiam. «Pode chegar
mesmo a deixar de fazer turismo, de participar
em congressos, de visitar familiares residentes
no estrangeiro ou até mesmo de recusar
empregos ou promoções, tudo porque se sente
incapaz de entrar num avião», realça Cristina
Albuquerque.

Veja na página seguinte: O perfil das pessoas mais afectadas por esta fobia

Sob controlo

O medo de voar pode afectar crianças e adultos,
homens e mulheres de todas as classes profissionais,
mas há traços de personalidade que podem
tornar a pessoa mais vulnerável,
como é o caso de «quem
é perfeccionista, auto-exigente,
com dificuldade em relaxar
ou que tem necessidade
de prever e controlar tudo»,
esclarece a psicóloga.

«Quem
mais pede ajuda são as pessoas
cujas vidas ou profissões
começam a ficar afectadas»,
revela Cristina Albuquerque,
dando como exemplo
os desportistas de alta competição,
empresários ou jornalistas.

É importante procurar
ajuda clínica, pois
«estudos demonstram que,
se não for tratada, a fobia tende a
agravar-se
com o tempo». Existem estratégias para ajudar
as pessoas «depois de um treino adequado, a
controlar e dominar a ansiedade que sentem».
Após uma avaliação psicológica – uma vez que
não existem fobias de voo iguais – é definido
«o tipo de intervenção, como técnicas para
autocontrolo da ansiedade, treino de relaxação
ou mesmo visitar o aeroporto e ver aviões
a descolar e a aterrar».

Acima de tudo, importa
que as pessoas «confiem no sistema da aviação,
na segurança de voo e que façam a única coisa
que depende verdadeiramente delas, passar
o tempo da melhor forma possível. Só assim
poderão fazer uma viagem despreocupada e
agradável», aconselha.

Em alerta

Os principais
sintomas físicos
da areofobia:

- Dificuldade em respirar
- Palpitações ou coração
acelerado e pressão no peito
- Tensão muscular e/ou tremores
- Boca seca
- Náuseas, vómitos ou
diarreia
- Dores de cabeça
- Dificuldade no sono
- Irritabilidade e tonturas
- Palidez ou rubor
- Transpiração
- Poliúria (aumento da
necessidade de urinar)

Sabia
que...

Estudos internacionais
referem que cerca de
20 a 40 por cento da
população adulta tem
medo de viajar de
avião!

Aprender
a voar

Se pretende ajuda especializada
para superar o medo, pode recorrer ao Programa Ganhar Asas
Desenvolvido pela TAP e UCS – Cuidados Integrados de Saúde. Este programa foi frequentado até
2008 por 200 pessoas com uma
taxa de sucesso efectiva de 95
por cento. Actualmente encontra-se em fase reformulação. Para obter mais informações, ligue para o 218 436 300 ou envie um e-mail para ganharasas@ucs.pt.

Pode também recorrer à consulta de Fobias
de Voo na Clínica S. Paulus, no Saldanha
Residence), em Lisboa. Mais informações pelo telefone 213 580 220 ou pelo e-mail fobiadevoo@gmail.com.


Veja na página seguinte: Truques simples para uma viagem sem sobressaltos

Passageiro zen

Truques simples para uma viagem sem sobressaltos:

Na véspera

- Organize-se
atempadamente. Evite
deixar tarefas para a última
hora.
- Restrinja o consumo de
café.
- Garanta uma boa noite de
sono.

No dia da partida

- Tome um duche
relaxadamente e um
pequeno-almoço ligeiro.

- Evite o sumo de laranja (ou
outras bebidas ácidas).
A ansiedade provoca a
libertação de ácidos
gástricos e o sumo de
laranja aumenta essa
acidez.
- Saia de casa com
antecedência para chegar
ao aeroporto com a calma.
- Após o check-in, passeie
calmamente pelas lojas do
aeroporto.

- Vá preparada para lidar
com atrasos. Pense «não
posso fazer nada, não
depende de mim, quando
chegar cheguei».

No avião

- Durante o voo desfrute o
melhor possível do tempo.
Se for ocupada o tempo
passa mais depressa.

- Mantenha o pensamento no
presente. Se começarem a
surgir ideias negativas, não
as alimente Distraia-se lendo
uma revista ou conversando
com o seu parceiro.

Texto: Sónia Ramalho