Falar com Gonçalo Cadilhe é viajar pelo mundo sem sair do mesmo lugar ou não fosse ele viajante de profissão há mais de 20 anos. Ao seu lado os minutos passam a correr por entre as muitas histórias que tem para contar. Quando olha para trás, diz já não ser tão naife como no início, no tempo das primeiras viagens, uma verdadeira época de descobertas e de deslumbramento. «Hoje, dificilmente me meteria numa viagem sem saber quando regresso ou dormiria à beira da estrada porque o camião que me deu boleia tem de parar durante a noite por não ter luzes», refere.

«Esse género de incógnita quanto ao dia seguinte está um pouco afastada», assegura, mas continuar a percorrer o mundo é incontornável. «Quero perseguir objetivos mais culturais e continuar a partilhá-los com os leitores», conta. Não gosta de indicar destinos aos outros. «O mundo é tão grande e acho que devemos dar preferência àqueles locais com os quais sonhámos desde infância e aqueles que nos fazem sorrir intuitivamente quando ouvimos falar deles», sublinha.

No entanto, quando lhe pedimos para dar dicas para viajar de forma mais económica, o caso muda de figura e o seu naipe de truques é vasto porque, como diz, «viajar é realmente muito fácil e barato». Quem está habituado a recorrer sistematicamente a agências de viagem que lhes tratem de tudo não é geralmente da mesma opinião mas, como algum esforço, algum planeamento e alguma organização, conseguem-se fazer férias de sonho a preços de saldos.

Compre um guia de mochileiro

Não se assuste, isso não significa que irá viajar com a mochila às costas, «mas sim que gosta de viajar de forma independente e que faz o seu próprio percurso», como explica Gonçalo Cadilhe. «As melhores opções são o Lonely Planet e o Routard, que nos indicam as opções mais económicas em cada destino, além de nos ajudarem a traçar itinerários e a conhecer o local que vamos visitar», realça.

Escolha um destino barato

O Sudeste Asiático, que engloba países como o Camboja, o Laos, o Vietname e a Tailândia, é um destino temdencialmente económico. «As viagens da Europa até lá não são caras e as ligações entre eles são muito baratas e o custo de vida também», refere Gonçalo Cadilhe. «O Sri Lanka e o Nepal também são países baratos, mas os voos para lá chegar são mais caros», sublinha.

«Depois temos também a Argentina, o Peru e o Equador na América do Sul e o México e a Guatemala, na América Central», acrescenta. Não caia no erro de pensar que um país pobre é barato. «O Laos é pobre e é dos mais baratos, mas o Congo também é pobre e é um dos mais caros do mundo porque não tem uma indústria de turismo e os poucos hotéis que existem são caros», alerta.

Viaje na época baixa

Risque do seu calendário julho, agosto, Páscoa e Natal, a chamada época alta. Viaje apenas no resto do ano. «Consegue preços mais baratos, não só nos bilhetes de avião mas também no alojamento e nas despesas com a comida. Quando marcar uma viagem, veja também se coincide com alguma festividade local, pois esses eventos também podem aumentar os preços», confirma Gonçalo Cadilhe.

Compre os bilhetes de avião com antecedência

E se possível viaje em low cost. «É uma dica que parece óbvia, mas as pessoas são muito indecisas e vão deixando passar os meses», realça Gonçalo Cadilhe. E essa hesitação tem um custo. «Um bilhete de avião que custaria 600 € passa a 900 € e esses 300 € dariam para viver um mês e meio no Sudeste Asiático», exemplifica. Pesquise em sites como Viajar.com, Skyscanner.net, Momondo.pt e Edreams.pt.

Faça escalas

«Quando comprar um bilhete de avião, averigue se pode fazer stop-overs. Se pode fazer escalas a meio do percurso e acrescentar, assim, mais destinos à viagem inicial», ensina Gonçalo Cadilhe. «Foi o que fiz quando comprei um bilhete para a Nova Zelândia que permitia duas stop-overs. À ida, parei no Havai, onde estive dois meses. E, no regresso, passei um mês no Taiti. Na prática, fiz três destinos com um único bilhete de avião», revela.

Veja na página seguinte: Prolongar a viagem... para poupar mais!

Uma viagem é tanto mais barata quanto mais tempo durar

«O preço do bilhete é igual se ficarmos 15 dias ou três meses. Se vamos gastar o dinheiro no bilhete, mais vale gastá-lo numa altura em que podemos ficar mais tempo», diz Gonçalo Cadilhe. Nem sempre é fácil, no entanto, há alturas em que é possível concretizar esse objetivo. «Quando mudamos de emprego, acabamos a universidade ou atingimos a idade da reforma», exemplifica.

Poupe no dia a dia

Aproveite o facto do euro ser uma moeda muito forte em alguns países e comece já a poupar para as férias. «Se comprar menos um maço de cigarros ou deixar de beber uma cerveja naquela esplanada onde gosta tanto de ir, poupa 5 € facilmente. Quantia esta que dá para viver durante dois dias no Sudeste Asiático, pois é quase o orçamento diário de uma família», ensina o viajante.

Viaje em companhia

Gonçalo Cadilhe é partidário das viagens solitárias, mas isso não significa andar sempre sozinho. «Parta de Portugal sozinho, porque as viagens servem para deixar para trás o que é o nosso quotidiano mas, durante as viagens, esteja continuamente a fazer amizades. Primeiro, porque é enriquecedor, depois porque pode partilhar custos de alojamento, táxis e comida», revela.

Fique em hostels

«São mais baratos que um hotel e ainda pode cozinhar a sua comida», realça Gonçalo Cadilhe. Grande parte dos hostels também já têm quartos individuais ou duplos, para além dos dormitórios partilhados. «Pode ser cansativo partilhar o quarto com estranhos numa viagem de três meses mas, se durante uma semana, ficar cinco dias em dormitórios e dois num quarto num hotel melhorzinho, será menos duro», sublinha o viajante. Para marcar alojamento, use sites como Hostelworld.com, Hostelbookers.com e Booking.com.

Durma em andamento

Sempre que possível, viaje durante a noite para poupar no alojamento. «É uma boa alternativa em países muito extensos e onde a paisagem é um bocadinho monótona como Índia, México, Argentina e China. Siga esta regra sempre que a paisagem não mereça a sua atenção», indica Gonçalo Cadilhe.

Esteja atento aos descontos

Esta é uma informação que pode encontrar nos guias já referidos, mas também nos sites dos locais que quer visitar e, quando chegar ao próprio destino, procure os guias culturais. «Estes descontos englobam, por exemplo, entradas em monumentos, museus e espetáculos», refere o viajante.

11 objetos imprescindíveis

Os essenciais de Gonçalo Cadilhe para qualquer viagem:

- Adaptador de corrente elétrica
- Chapa de identificação com o grupo sanguíneo, país, apelido e telefone de um familiar que fale inglês
- Mochila ou sacola a tiracolo para andar sempre consigo com os documentos, máquina fotográfica e snacks
- Dois cartões de crédito, guardados em lugares diferentes
- Money belt para colocar o passaporte e um cartão de crédito
- Caneta e papel para ir fazendo um diário e explicar algo por símbolos quando não há uma língua comum
- Canivete suíço
- Cadeado e corrente de mochila
- Máquina fotográfica
- Tampões para os ouvidos, venda para os olhos e almofada de ar
- Um sorriso. Abre portas, resolve mal-entendidos e é a melhor forma de fazer amizades

Veja na página seguinte: Os quatro destinos preferidos de Gonçalo Cadilhe

Os quatro destinos preferidos do viajante

As escolhas de Gonçado Cadilhe:

- Indonésia

«É o pais mais simpático do mundo e um dos locais onde é mais fácil viajar, mesmo para iniciantes. Recomendo Java, Bali e Sumatra», sugere.

- América do sul

«Ir até Buenos Aires de avião, descer até à Pantagónia pelo lado da Argentina e subir através do Chile até Santiago», é uma das suas recomendações. «Depois, na volta, atravessar os Andes e regressar a Buenos Aires é um circuito com paisagens extraordinárias», assegura o autor dos livros «Um Lugar Dentro de Nós» e «No Príncipio Estava o Mar».

- México

«Já lá estive muitas vezes e foi o meu primeiro grande destino há 20 anos. É fácil viajar por lá», garante o viajante.

- Itália

«Porque não podemos esquecer que a Europa e, dentro desta, Itália, que é a raiz de todos nós. É uma viagem cultural sem fim», refere.

Texto: Rita Caetano