Pequena em tamanho mas de fama mundial graças às suas águas curativas, La Roche-Posay tem o charme próprio do campo francês. É uma vila medieval, situada no departamento de Vienne, a sudoeste de Paris, onde o verde predomina na paisagem. À cor da esperança junta-se o amarelo e castanho dos girassois, os tons avermelhados do outono, o azul do rio La Creuse e o negro do alcatrão das estreitas estradas que serpenteiam o campo e que ligam as povoações, os castelos e as duas estações termais que lhe deram protagonismo. Ambas são responsáveis por uma romaria de mais de oito mil pessoas por ano, que aqui chegam à procura dos benefícios termais da água rica em selénio. Mas este é também o local ideal para fugir da rotina.

Temos de recuar até ao final do século XIV para encontrar o primeiro beneficiário das águas milagrosas de La Roche-Posay, curiosamente um cavalo que, segundo reza a lenda, terá conseguido curar um eczema, metendo-se dentro de água. A fama espalhou-se e Napoleão abriu um hospital termal. No entanto, a estação hidromineral da localidade só foi inaugurada em 1913. O sucesso foi tal que veio a tornar-se no principal centro de dermatologia em meio termal da Europa, onde se trata a dermatite atópica, psoríase, cicatrizes, sequelas de queimaduras e dos tratamento que combatem o cancro.

Além dos dois centros termais, as Thermes du Connétable (localizadas a cerca de um quilómetro do centro da vila) e as Thermes Saint-Roch (mesmo no coração de La Roche-Posay), esta tem outros encantos capaz de enfeitiçar quem por aqui passa. O rio La Creuse é um desses casos. No verão, as margens transformam-se numa praia, mas durante todo o ano é o local escolhido para fazer piqueniques. A pitoresca localidade tem também um campo de golfe, com 18 buracos, vários campos de ténis, ambos vizinhos do parque termal e um hipódromo.

E já que falamos de desporto, à tarde todos os caminhos vão dar à Praça da República. O objetivo desta peregrinação é jogar petanca, uma tradição gaulesa que junta homens e mulheres. É também nesta praça, mas à sexta-feira de manhã, que tem lugar o mercado alimentar e onde se podem observar, sentir e degustar os produtos da região vindos diretamente dos pequenos produtores das redondezas.

Das termas ao spa

Para complementar a oferta das termas surgiu, por volta de 2013, o Spa Source de La Roche-Posay. Está integrado no parque termal mesmo ao lado do Pavilhão Rosa (onde duas maquilhadoras fazem workshops de maquilhagem corretiva com os doentes das termas) e o espírito tranquilo de La Roche-Posay ganha ainda mais sentido dentro deste spa, o único do mundo que usa produtos da famosa marca, que tem a sua fábrica também nesta vila e à qual pertence todo o complexo termal. Dos tratamentos à sauna finlandesa, passando pelo hammam e terminando na enorme piscina de água termal aquecida a 32º C e no jacuzzi tudo é um convite ao descanso.

No que diz respeito aos tratamentos, o cardápio é vasto. Experimentámos e recomendamos o protocolo exclusivo Infusion Thermale Realaxante Velours Peau Sensible La Roche Posay, feito debaixo de pequenos chuveiros de onde sai a famosa água termal. As pressões suaves e muito relaxantes da terapeuta, enquanto vai massajando com o óleo da gama Lipikar, fazem-nos relaxar calmamente. Durante os 45 minutos de duração do tratamento, a sensação é que o relógio parou e tudo aquilo que inundava a nossa mente, por momentos, ficou esquecido.

À noite, nos meses de frio, ao contrário do verão, os cafés e esplanadas fecham cedo. Por este motivo, todos os caminhos vão dar ao casino, que, para além da sala de jogos, tem um bar e é palco de vários espetáculos. Mas por aqui a noite não se faz tarde. Entra-se num ritmo lento digno da tal escapadela relaxante que lhe falamos no início do artigo, contudo, isso não é motivo para nos deixarmos vencer pela preguiça.

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Regresso ao passado

Para conhecer o passado medieval de La Roche-Posay, o segredo é atravessar a Porta de Bourbon, datada do século XIII, deixando-se perder pelas ruas estreitas da parte fortificada, onde o casario em pedra branca tem muitos anos de vida e faz parecer que por aqui o tempo parou. A par da porta, a Igreja de Notre Dame, o Le Donjon (um edifício de defesa) e as ruínas da abadia cisterciense de Maerci Dieu são os monumentos mais emblemáticos desta pacata vila, com pouco mais de 1.600 habitantes.

As atrações turísticas a visitar na vizinhança

Estes são os locais que não pode perder numa ida a La Roche-Posay:

- Château de Touffou

Majestoso. Esta é a melhor palavra para descrever o Château de Touffou, situado no vale do Vienne e que foi construído em fases diferentes, entre o século XII e o XV. Pode-se visitar a Torre de Francisco I (que é adornada por frescos), a Torre Capillar, a Torre da Hospedaria (antiga padaria e cozinha) e os jardins, no qual o destaque vai para o roseiral com quatro áreas distintas. É também nesta propriedade que os proprietários praticam agricultura biológica, como nos contou o anfitrião Douglas, um cidadão norte-americano e brasileiro, com muitas histórias para contar sobre este local digno de príncipes e princesas, mas que durante a II Guerra Mundial serviu de quartel general das tropas alemãs. É possível jantar no castelo e recomendamos essa experiência. Além de toda a sumptuosidade do espaço, as vieiras com espinafres e o carré de borrego são de experimentar. Até abril, o castelo está aberto apenas para grupos superiores a 20 pessoas.

- Chauvigny

Também é uma cidade medieval como atestam os seus cinco castelos que a tornam única em toda Europa. As ruínas do castelo des Évêques acolhem um espetáculo de falcoaria que tem fama mundial. Vale a pena visitar também o Donjon de Gouzon, onde há um espaço de arqueologia industrial.

- Angles-sur-l'Anglin

Um quadro composto por um moinho à beira de um rio, ladeado por um chorão e encabeçado por ruínas de um antigo forte, dão-lhe o título da vila mais bonita de França e, acredite, é realmente encantadora.

- Montmorillon

Ostenta o título de Cidade da Escrita e do Ofícios do Livro e tem um bairro medieval todo dedicado a essa arte, onde trabalham ilustradores, alfarrabistas, calígrafos, entre outros. Um conselho, não saia de Montmorillon sem provar os macarrons locais. À base de amêndoa e clara de ovo têm a forma de uma coroa e até possuem um museu que desperta todos os sentidos.

- Poitiers

É a capital do departamento de Vienne e é conhecida por ter albergado seis centros religiosos, que ainda hoje estão em perfeitas condições como é o caso da Igreja de Saint-Hilaire-Legrande, património mundial da UNESCO. No centro da cidade, não perca também a Fabrique des Parapluies, onde se fabricam e reparam chapéus de chuva desde 1882.

- Futuroscope

É um dos parques temáticos mais visitado de França e, como tal, agrada a pequenos e a graúdos. A sua mais recente atração é a Máquina Para Viajar no Tempo, uma viagem a bordo de um comboio com efeitos especiais e que nos leva da época do Cro-Magnon à conquista do espaço. Os preços variam entre os 42 € (dos 17 aos 59 anos), 39 € para maiores de 60 anos) e 32 € (para crianças dos 5 aos 16 anos).

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Como ir

La Roche-Posay fica a 320 quilómetros de Paris e a 300 quilómetros de Bordéus, cidades com ligações aéreas com Portugal pela Tap e pela easyJet. Em qualquer uma dessas cidades, é possível apanhar o TGV(comboio de alta velocidade) para Châtellerault, cidade situada a 22 quilómetros de La Roche-Posay e a partir da qual pode seguir viagem em carro alugado.

Onde ficar

Les Loges du Parc é uma boa opção. A sua fachada da Belle Époque que denuncia a idade deste hotel de charme inaugurado em 1905. Lá dentro a decoração sofre influências do período do Art Deco mas também andaluzas. Tem uma piscina exterior de água termal. Preços a partir de 135 € com pequeno-almoço. O Hotel Saint-Roch, outra hipótese, tem acesso direto à estância termal com o mesmo nome e situa-se a poucos metros da porta medieval de La Roche-Posay. Tem uma convidativa esplanada no jardim. Preços a partir de 110 € com pequeno-almoço.

Onde comer

No restaurante Saint-Roch, o chef Fabrice Taillard inspira-se no ciclo das estações para fazer a carta. Recomendamos para entrada os cannellone com queijo chèvre de Sainte Maure e o coulis de beterraba. Para prato principal, sugerimos o salmão com puré de batata. Situado ao pé da Igreja de Notre Dame, a Hostellarie Val de Creuse é um espaço muito especial pela forma como está decorado, mas também pelo terraço virado para o rio Creuse. A comida tem um aspeto caseiro e é muito saborosa. Prove a tagine de frango e remate a refeição com um prato de queijos franceses.

Texto: Rita Caetano