Ficou conhecido pela recuperação da baixa alfacinha mas a sua obra em Oeiras também venceu o tempo.

Classificado Monumento Nacional, o palácio e os jardins do Marquês são uma marca do Iluminismo em Portugal.

As longas avenidas de traçado geométrico, as imponentes cascatas, a escultura mitológica e as fontes simbólicas revolucionaram por completo a arte de construção da paisagem em Portugal. Estas são as únicas características do jardim que sobreviveram ao passar do tempo e que ainda hoje marcam este espaço que outrora foi uma enorme quinta de recreio.

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A construção dos jardins e do Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, remonta à segunda metade do séc. XVII, quando Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, recebe o título de Conde de Oeiras. O papel que desempenhou na reconstituição da ordem pública e na reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755 valeu-lhe o reconhecimento do rei D. José.

A partir de uma pequena propriedade herdada pelo tio, que aí havia instituído um morgadio, adquiriu numerosos terrenos circundantes, com a ajuda dos irmãos, e dá inicio à construção de um faustoso solar, ao estilo barroco e rococó, servido por jardins a perder de vista, que ultrapassam os 200 hectares.

O projecto é atribuído ao arquitecto húngaro Carlos Mardel mas denota influência da passagem de Sebastião Carvalho e Melo por Londres e Viena, no período em que a Europa que vivia intensamente o iluminismo. A conservação dos elementos arquitectónicos e do traçado de algumas alamedas revelam-se fundamentais para a compreensão deste espaço monumental, que reunia harmoniosamente zonas de lazer e recreio com áreas de produção agro-pecuária, conceito pouco comum nos parques europeus de 1700.

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Laranjeiras, vinhas, oliveiras, buxos e loureiros, muitos loureiros, dominavam a paisagem ordenada, pontuada por diversos elementos artísticos, desde estátuas e azulejos aos imponentes edifícios que, apesar de se dedicarem à produção de alimentos, ostentavam decorações exuberantes. Exemplo disso é o Casal da Manteiga.

Era no pavilhão de forma hexagonal, encimado por uma torre quadrada, que se produziam os lacticínios, mas era também a partir do seu topo que se tirava partido da melhor panorâmica sobre a propriedade e a vila de Oeiras. Os pontos de fuga são, aliás, uma das principais características do projecto de Mardel que se perderam na história.

As zonas de lazer do jardim, foram orientadas a Sul, para a entrada do Tejo, privilegiando a arborização de pequenas dimensões. Actualmente, nada resta da vegetação do séc. XVIII e algumas árvores plantadas no século seguinte atingiram tais dimensões que obstruem as vistas sobre a propriedade, a vila e o Tejo, que faziam as delícias da corte portuguesa.

«Os pontos de fuga, os eixos de passagem, as retículas e malhas que estruturam todo o espaço denotam a influência dos jardins franceses, ligados à ideologia de Versailles», explicou à Jardins Rodrigo Alves Dias, arquitecto paisagista da Câmara de Oeiras, que se dedica há vários anos ao estudo dos jardins do Palácio Marquês de Pombal.

A intervenção de Ribeiro Telles

Actualmente, apenas uma fracção da quinta, que se estende por 200 hectares e ocupa todo o vale da Ribeira das Lages, está aberta ao público. A propriedade é separada pela estrada nacional que faz a ligação entre Lisboa e Cascais, conhecida pela antiga estrada real.

Essa divisão ganhou nova dinâmica quando, na segunda metade do séc. XX, a Fundação Calouste Gulbenkian adquire a parte Sul do espaço e o Estado o lado Norte, cerca de dois terços da propriedade, para ai instalar a Estação Agronómica Nacional. Após longo período votados ao abandono, os jardins que envolvem o palácio, precisamente a área visitável, conhecem uma lufada de ar fresco na década de 60, fruto de uma intervenção encomendada pela Fundação ao arquitecto paisagista Ribeiro Telles.

«Concebeu um jardim modernista que conservou em pleno as peças pombalinas, divido em vários espaços temáticos, cujo objectivo nobre foi dar a conhecer a variedade de plantas existentes até então desconhecidas», sublinha Rodrigo Dias.
Em 2003, a Gulbenkian alienou a sua parte da propriedade à Câmara Municipal de Oeiras, actualmente a entidade responsável pelos destinos desta pequena parcela da vasta quinta.

Desde 1980 que a autarquia tem um projecto para conceber um parque temático na quinta, por oposição a uma alternativa que visava instalar um aterro. «A ideia é conceber um espaço público, alusivo à época pombalina, às tecnologias de produção tradicionais e aos sistemas hidráulicos, que permanecem intactos. O projecto prevê a construção de 11 espaços temáticos que abrangem as áreas de produção da quinta, a seda, os citrinos, a caça, as artes decorativas e a transformação de produtos, entre outros. Cada núcleo tratado com componente museológica e educativa».

Veja na página seguinte: O projecto de intervenção previsto para o local

Em meados de 2009, a edilidade encontra-se em negociações com o Ministério da Agricultura para adquirir a parte Norte da Quinta para unificar e recuperar o esplendor desta propriedade única no país.

O projecto prevê ainda a recuperação da Casa da Pesca e da respectiva cascata e da Fonte de Oiro, importantes infra-estruturas actualmente não visitáveis e em estado de degradação.

Visita guiada

A actual entrada do jardim, apesar de passar despercebida, está carregada de simbolismo e marca os primórdios do Palácio dos Marqueses de Pombal. A antiga arrecadação ostenta uma lápide que explica as origens da propriedade.

Segue-se um extenso relvado que, nos dias mais quentes, é dotado de sofás e cadeiras para oferecer momentos de bem-estar aos visitantes.
Antes de alcançar o Jardim de Água, aprecie a ponte pombalina, que une as margens da Ribeira da Lage, onde se passeava de barco na época de esplendor da propriedade.

Concebido por Ribeiro Telles, o Jardim de Água faz lembrar o de Conimbriga. O sistema de rega está actualmente em reparação, mas admire os canteiros adornados com vegetação que mergulha na água. O chão dos lagos é desenhado com calçada portuguesa, inspirado na filosofia de espaços verdes romanos.

No projecto original, esta área era conhecida por horta ajardinada, um rectângulo desenhado com legumes e flores e organizado por cores. Ao centro, admire a fonte do séc. XVIII, cujas figuras representam as quatro estações do ano.

No topo do jardim, salta à vista o Terraço das Merendas. A fachada do edifício é encimada por colunas com os bustos dos imperadores romanos e a sua construção está concebida de forma a formar sombra ao longo de todo o terraço. O espaço é servido por duas imponentes mesas de pedra e dois tanques de grande profundidade, onde se pescavam carpas e outros peixes de rio.

Ao lado de um dos tanques, encontra-se um dragoeiro, que pelo seu porte invulgar, se pensa ser a única espécie que sobreviveu da época pombalina. Após o Roseiral, espaço projectado por Ribeiro Telles, que conserva o traçado original, mas exibe novas espécies, como alfazemas, surge a imponente Cascata dos Poetas. No topo, os quatro poetas épicos, Camões, Virgilio, Homero e Tasso, estátuas de Machado de Castro, observam ângulos diferentes do jardim.

A figura central da cascata é, no entanto, o Deus Rio, que representa o Tejo, guardado por dois golfinhos. O projecto de Mardel é um misto de cascata/gruta pelo que é possível visitar o interior e contemplar a vista sobre o palácio através da figura do Deus Rio.

Siga até às traseiras do palácio e vai certamente deter-se numa árvore invulgar, de grande porte, que resulta da união de dois lodons e um freixo. Mas, as gigantes e seculares araucárias, que atingem 30 metros de altura, são o ex-libris do jardim no que diz respeito à vegetação. Aprecie ainda as palmeiras seculares e um eucalipto de dimensão fenomenal mesmo ao lado do campo de Jogo da Pela.

Largo Marquês de Pombal
Localização: Quinta de Baixo e de Cima – Oeiras
Área: 200 ha
Telefone: 214 408 781
Entrada gratuita no jardim. Palácio visitável por marcação.

Texto: Rita Gonçalves
Fotos: Luís Melo