Milaneza
Foi numa das minhas incursões à feira de antiguidades, que acontece todos os domingos no parque central, que descobri um precioso tesouro. Um pequeno e antigo livro de receitas escritas à mão. Daqueles que as nossas mães e avós tinham sempre em casa, onde iam apontando e arquivando as receitas clássicas de várias gerações.
Mas este livro era muito diferente. Era mais um diário do que um livro de receitas. Quando o abri, logo na primeira página, percebi que tinha a indicação do nome da anterior proprietária, escrito à mão numa letra muito redonda e cuidada: São Mendonça. E, logo a seguir, a data: 1981.
Mas a grande surpresa deste livro era mesmo o que continha no interior. Em mais de 200 páginas, a Dona São, que deve ter sido uma pessoa bastante culta e viajada, com interesse pela gastronomia de países exóticos, a par de alguns apontamentos de viagem, tinha compilado dezenas e dezenas de receitas – algumas delas até acompanhadas de umas ilustrações a aguarela, outras com fotografias polaroid coladas nas páginas. Eu não vos disse que a minha descoberta era um autêntico tesouro?
Percebia-se, pelas fotos de cores já amareladas pelo tempo, que a Dona São deve ter viajado muito pelos países do Oriente, sobretudo China, Tailândia, Vietname... Será que ia como turista? Será que ia em trabalho? Nunca o saberei, provavelmente.
Ao chegar a casa, página após página, deixei-me absorver por aquelas cores, imaginando os cheiros daquelas especiarias a emanar dos grandes woks e panelas, quase sentindo o paladar das massas e dos molhos espessos e coloridos.
E sabem que mais? Hoje em dia, na cozinha, não quero outro mestre para além da Dona São. Os ensinamentos do seu livro de receitas particular são a minha inspiração para os meus pratos de noodles ou macarrão que, modéstia à parte, ficam quase tão bonitos como os das polaroids da Dona São.
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