«E assim se compreende (...) que as couves e os feijoeiros acabassem por crescer por entre tufos de lírios e açucenas, e que as violetas e os craveiros compartilhassem com a salsa e a hortelã a terra do mesmo vaso», afirma Ilídio de Araújo. Na primeira de uma série de crónicas que escrevo para a revista Jardins, tentei relatar um pouco do que foi a minha experiência ao longo do primeiro ano a cultivar uma horta no Parque Urbano da Quinta da Granja, em Lisboa. A partir da segunda, tentarei descrever e mostrar imagens dos passos que vou dando, para partilhar com os leitores a evolução das culturas, sem dúvida uma das partes mais gratificantes desta atividade.
Na citação que escolhi, Ilídio de Araújo referia-se às hortas (ou hortos) medievais, já lá vão 1.000 anos! Referia-se também à forma como, desde então, convivem lado a lado as flores, os legumes e as hortaliças. Ora, no momento em, que escrevo, março, as favas as couves e as alfaces desenvolvem-se sem precisar do nosso esforço e é uma ótima altura para embelezar a horta com flores e plantas aromáticas. Aliás, todos os vizinhos da quinta, sem exceção, respeitam esta regra milenar e o meu talhão era dos poucos sem flores, a não ser as belíssimas espontâneas. Resolvi, por isso, plantar as primeiras aromáticas e ornamentais.
Optei por dois alecrins, por uma lúcia-lima e por várias roseiras. Comprei uma roseira de torrão, mas as restantes foram oferecidas por amigos. Basta aproveitar a época em que se poda e guardar algumas estacas, que depois são plantadas em vaso ou no terreno definitivo, ligeiramente inclinadas. Plantei no início de janeiro e, em março, já estavsam a deitar rebentos. Agora, só me falta semear as obrigatórias tagetes ou os cravos-túnicos, muito recomendados no método de cultivo biológico.
E, mais tarde, os girassois, que adoro. No ano passado, semeei alguns para experimentar. Não ficaram muito altos, porque semeei tarde, mas mesmo assim ficaram bonitos. Espero também continuar a encontrar algumas papoilas e malvas, espalhadas pelo terreno na primavera, pois são sem dúvida tão lindas como as flores que nós cultivamos.
Texto: Vera Ramos
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