A palavra em japonês é composta por dois carateres kanji, que são o bon e o sai. De uma maneira lata, literalmente, poder-se-ia traduzir esta palavra como planta no vaso. No entanto, esta tradução literal deve também compreender o conceito dinâmico inerente à própria arte bonsai, muito apreciada por milhões de pessoas em todo o mundo. Esse é indissociável da modelação e do processo de transformação da planta no vaso, mutação essa que depende da capacidade técnica, da habilidade e do conhecimento do bonsaísta.
Um bonsai nunca está terminado, ao contrário do que sucede com a maioria das obras artísticas noutras artes. É um processo (em) contínuo. Esta frase mostra precisamente o poder performativo do bonsai. Esta é, por isso, uma arte viva. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, não é uma árvore anã nem tão pouco uma variedade botânica geneticamente alterada. O bonsai é uma árvore ou arbusto normal mas o seu tamanho é limitado ao manter-se num vaso baixo e raso e também ao podar-se frequentemente.
Esses cortes, que devem ser precisos, fazem com que as folhas reduzam o seu tamanho. Bonsai é, assim, a arte de representar uma árvore no seu estado adulto mas de uma forma reduzida. Devido ao facto de ser cultivado num vaso raso, controlar o crescimento das raízes, dos ramos e das folhas torna-se mais fácil e, consequentemente, gere-se melhor a velocidade de crescimento da planta. O objetivo final de um bonsai é representar em ponto pequeno uma árvore no seu tamanho natural. Para isso, são utilizadas várias técnicas seguindo-se princípios estéticos originariamente compilados pelos japoneses, que são habitualmente referidos como as regras da arte bonsai.
Não se sabe ao certo qual o motivo porque se começaram a cultivar árvores em vaso e a dar-lhes forma(s). Segundo os historiadores, existem muitas referências a plantas que já eram colocadas em vasos no Egito por razões medicinais e decorativas. A primeira referência àquilo a que se pode chamar bonsai pela componente estética ocorre na China durante a dinastia Tang, entre 618 e 907. Foi nessa altura que foram criadas as primeiras paisagens em miniatura com árvores. Nos dias de hoje, são conhecidos como penjing.
O bonsai apareceu, provavelmente no Japão, durante o período Heian, entre 794 e 1185, quando foram enviados à China monges japoneses para estudarem as artes chinesas, a linguagem, a literatura, as leis e o budismo. Consequentemente, os japoneses acabariam por levar a arte bonsai para o seu país e foi no Japão que esta se aperfeiçoou e se desenvolveu. O bonsai, como o conhecemos hoje, separa-se do penjing, o bonsai chinês que se baseia em paisagens e as retrata em miniatura.
No penjing, marcado pelas paisagens em miniatura chinesas, não seguem muitas das regras do tradicional bonsai japonês. Enquanto arte oriental, as suas criações estão fortemente ligadas ao budismo zen, apelando ao nosso equilíbrio mental e despertando a nossa imaginação. No panorama ocidental, o bonsai começou a ficar popular no final da II Guerra Mundial. Em Portugal, apesar de alguns aficionados cultivarem bonsai há mais de 25 anos, a arte começou a ficar popular com o filme "Momento da verdade".
Os diferentes estilos de bonsais
Os japoneses compilaram e agruparam estilos tendo em conta diferentes critérios como a forma do tronco, a aparência das raízes e/ou a existência de vários troncos, apesar de existirem outros fatores distintivos. As regras da arte bonsai, que tantas vezes são tema de conversa de quem os cultiva, baseiam-se em princípios estéticos que foram inicialmente compilados no Japão.
Atualmente, são uma referência para a prática do bonsai, onde os estilos japoneses se assumem como essenciais. Isso sucede sobretudo numa primeira fase de aprendizagem desta arte. É também importante ter em conta que muitas vezes uma árvore possui mais que um único estilo e a conceção dos estilos de bonsai deve ser tida em conta como um princípio estético orientador do trabalho a desenvolver.
Estes são alguns dos estilos mais marcantes:
- Chokkan
É o formal direito. O tronco é direito e a vegetação é assimétrica.
- Moyogi
É o informal direito, com um tronco com curvas. O apex está sitiuado na mesma orientação que as raízes.
- Shakan
É inclinado. O tronco é direito ou com curvas e inclina-se para um dos lados.
- Hokidachi
Também apelidado de vassoura, é o estilo mais comum na natureza. São maioritariamente em árvores de folha caduca e perene, nomeadamente carvalhos e tílias.
- Han-Kengai
É o semi-cascata. O ramo principal está situado abaixo da linha das raízes.
- Kengai
O ramo principal situa-se abaixo do vaso e tende a formar uma cascata.
- Fukinagashi
Também conhecido como fustigado pelo vento, apresenta o tronco e os ramos orientados na mesma direção.
- Bunjingi
Também apelidado de literati ou literário, tem um estilo próprio, com o tronco muito expressivo e a vegetação limitada.
Existe ainda o neagari, que apresenta as raízes expostas. O sharimiki, também apelidado de sabamiki, integra madeira morta. O ishitsuki é plantado na rocha. O ikadabuki integra um aglomerado. O sokan surpreende pelo tronco duplo, o sekijôju tem as raízes agarradas à rocha e o yose e o ue assemelham-se a um bosque ou a uma pequena floresta. O kabudachi é uma plantação em grupo. O estilo literati não se enquadra nesta classificação em tamanhos, não existindo uma restrição a esse nível para este estilo.
A distinção em função dos centímetros
Os bonsais agrupam-se, ainda, em tamanhos. Esta informação é sobretudo importante quando se expõe um exemplar. A altura do bonsai deve ser medida sem incluir o vaso onde a árvore está plantada. Estas são as designações que lhes são habitualmente atribuídas em função das dimensões:
- Mini bonsai
Esta designação contempla exemplares de bonsais até 10 centímetros.
- Shohin bonsai
Esta designação contempla exemplares de bonsais até 20 centímetros.
- Kifu
Esta designação contempla exemplares de bonsais com mais de 20 e menos de 35 centímetros.
- Chuhin bonsai
Esta designação contempla exemplares de bonsais até 45 centímetros.
Texto: Márcio Meruje (especialista em arte bonsai)
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