Advaita significa, literalmente, “não-dual” e refere-se ao facto de que a realidade última é a unidade fundamental de tudo quanto existe. Esta visão traduz a consciência de que tudo é Um – e que a aparente separação é uma ilusão dos sentidos, um produto da mente que organiza as experiências a partir das formas e das categorias do espaço e do tempo, produzindo a crença – ilusória, para a visão mística e mágica da vida que a energia de Peixes convida a desenvolver – de que estamos separados: entre nós, e uns dos outros.

A diferença, a separação, a distinção, a existência independente é constatável e observável pelos orgãos dos sentidos e pela natureza separadora da mente: branco é diferente de preto, ser e não-ser são opostos, eu sou diferente e estou separado de ti, o bem e o mal não se confundem, uma coisa é o dentro e outra coisa é o fora, eu sou diferente deste cão e daquele coelho e daquelas pessoas, e entre todos estes princípios diferentes existe uma distância, uma separação, um espaço vazio em que cada coisa ocupa o seu próprio lugar e existe separadamente de todas as outras.

Mas de um certo ponto de vista, tudo isso é ilusório. “Tat twam asi”, ensina a mais velha filosofia hindu: tu és isso. Quando olhares para uma árvore, recorda que és árvore também. Quando olhares para um prédio, recorda que és prédio. Quando olhares para fora, recorda que tu és também isso que observas fora de ti. Tudo é, na essência, uma única e a mesma coisa: a Realidade Última que a tudo dá forma, que tudo vivifica, e na qual tudo e todos temos a nossa existência e nos movemos. Tudo é Um, e todo o sofrimento, medo, desejo, nascem da amnésia cósmica desta unidade fundamental de toda a Vida.

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“Por que é que és infeliz?”, pergunta um velho mestre espiritual para nos oferecer a sua resposta: “porque 99,9% de tudo o que fazes, sentes e pensas se refere a ti – e isso não existe”.

Se eu sou Um com tudo quanto existe, separado apenas na aparência e na superfície tocada pelos meus sentidos físicos, não existe diferença fundamental entre “eu” e “tu”. O que faço ao outro faço a mim mesmo.

O carteirista, ao roubar o turista no eléctrico, pode julgar que está a roubar o outro. Ele fica com mais, o outro fica com menos. Mas na realidade, o Um fica sempre com tudo - e aquele que julga que existe um outro que ele está a roubar, na verdade está é a roubar a si mesmo, porque Tudo é Um e Um é Tudo – e não há separação fundamental entre aquele que rouba e aquele que é roubado.

É do julgamento, nascido da particularidade de um ponto de vista determinado (que implica a identificação com uma pequena parte da Realidade, ou seja, com um dos seus fragmentos que subitamente se tomasse como a totalidade), que nasce esta distinção ilusória.

Para julgar alguém como “bonito” ou “feio”, “alto” ou “baixo”, muito ou pouco enérgico, preciso de uma comparação, de uma referência, de um contraponto, de uma polaridade. Se estou no terceiro andar, o sétimo é mais alto, mas se vivo no décimo-segundo é mais baixo. Verdade?

O julgamento requer tomada de posição, como se existisse – ou fosse possível – fazer de um fragmento da realidade a realidade absoluta a partir da qual perspectivar tudo o resto, como se um fragmento tivesse existência real independente de todos os outros fragmentos aos quais está intimamente ligado. E essa é a grande ilusão dos sentidos.

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“O julgamento impede-me de ver o bem para além das aparências” W.Dyer

 “ao julgar os outros ficamos sem tempo para os amar” M. Teresa de Calcutá

É largamente através do julgamento que nos separamos e afastamos do Todo, e através do amor e da aceitação que nos religamos a ele – e religare é, afinal, não só a raíz etimológica da palavra como a própria essência de toda a Religião.

Aceitação, unidade e amor. Reconhecimento da unidade fundamental por detrás de toda a vida. Capacidade de ir além do julgamento que separa e toma partido por umas coisas “boas” em detrimento, ou contra, outras que são “más”. Compaixão. Essa é a consciência a desenvolver quando queremos acercar-nos do reino de Peixes. Ou permitir que Ele nos envolva - melhor ainda, permitirmo-nos reconhecer e sentir conscientemente envolvidos - pois Ele sempre nos envolveu e envolve mesmo enquanto d'Ele não temos consciência.

Vivemos todos no colo, ou no coração, d’Isso a que chamamos “deus”, Universo, Anima Mundi, Espírito, Brahman, Realidade Última, Consciência Suprema, ou qualquer outra coisa.

Ou acha mesmo que por lhe terem cortado, à nascença, o cortão umbilical físico que faz a ligação à mãe biológica também lhe cortaram o cordão umbilical subtil que o liga à Vida, a Grande Mãe que a todos nos alberga, sustenta, nutre e acolhe no seu seio?

Vivemos no colo de deus. Somos todos seus filhos - irmãos, nós - , e não há nenhuma separação fundamental entre nós e eles, nem sequer entre deus e nós a não ser na aparência e nos rótulos intelectuais que criamos.

Tudo é Um, e independentemente do que julguemos, tudo está certo - mesmo que não compreendamos bem de que maneira ou não o aceitemos. A tarefa de aceitar o que não compreendemos é nossa, não é a vida que tem que se sujeitar às nossas próprias limitações para Ser o que já é.

Para desenvolver esta consciência, mantenha em mente a máxima “tat twam asi” e viva o seu dia-a-dia a partir dessa consciência. Observe a sua tendência a separar, a julgar, a criticar, a considerar “adequadas”, “correctas”, “boas”, “aceitáveis” umas coisas (ou pessoas) em detrimento de outras. Recorde, você é também é isso. Você é tudo. E um com o Todo.

Isto dar-lhe-á um vislumbre da unidade.

Quer ir mais longe?

Tire uns minutos por semana para fazer o seguinte exercício – e faça-o pelo menos uma vez na vida, para ter a experiência.

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Vá para um lugar movimentado e observe o mundo à sua volta como se você não estivesse lá, ou fosse invisível.

Imagine que deixou de existir, e observe a vida a continuar sem si.

Imagine a vida dos seus filhos, amigos, colegas, da sua empresa, da sua família, do seu prédio, da sua comunidade, a continuar e a cumprir-se sem si.

Você já não está, e a vida continua cumprindo o seu próprio fluxo.

Imagine-o.

Como é?

Isto dar-lhe-á um vislumbre da eternidade e ajudará a por a sua vida em perspectiva, numa perspectiva maior do que a do próprio fragmento de vida que cada um de nós é.

Então confie que o Todo sabe um nadinha mais do que qualquer uma das suas partes. Boa?

E perante qualquer acontecimento que julgue como contrariedade, afirme para si mesmo: se aconteceu assim, está certo. Está tudo bem. Está sempre tudo bem. O que une este Todo é Amor.

E se não está tudo bem, é porque ainda não acabou. Confie no desenrolar.

É uma questão de tempo até descobrir de que maneira o que um dia julgou como errado afinal está certo. Está sempre tudo certo no final.

É na aceitação incondicional da perfeição da Vida, tal como é, que encontramos a eternidade e a paz.

 

Nuno Michaels:
Conselheiro astrológico a tempo integral, com mais de dez anos de experiência em aconselhamento e ensino. Mantém uma prática activa de acompanhamento a clientes em vários países do mundo e conduz grupos em Lisboa, Porto, Faro e Barcelona. É professor de Astrologia Psicológica e responsável pelo 5º Nível de Aprofundamento Astrológico no QUIRON – Centro Português de Astrologia.

Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (1999) e finalista do Mestrado Integrado em Psicologia Clínica no ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada (2010), Life-Coach certificado pela ICC - International Coaching Community, Certificado em Consulting Skills for Astrologers (Denver, 2008 e Chicago, 2009) pela ISAR – International Society for Astrological Research.

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