Num país tão trendy é chocante que se passe indiferente ao tanto que existe a melhorar. Enquanto cidadã portuguesa fico triste que o fado dos portadores de mobilidade reduzida seja muitas vezes conformarem-se e resignarem-se à sua condição.
Seria estimulante rever nas autarquias de norte a sul do país, assim como na entidade Turismo de Portugal, o poder da transformação local, da requalificação dos espaços comerciais, empresariais e educativos por forma a permitir o acesso transversal. É desumano, por exemplo, que portadores de mobilidade reduzida não possam frequentar determinadas escolas por incapacidade das mesmas de os acolher e responder às suas necessidades. Assim como nos transportes públicos, nas empresas de serviços muitas vezes, e nas próprias ruas, não se criam condições para quem se faz transportar por via de uma cadeira de rodas o faça com dignidade e facilidade.
A educação, a cultura e a saúde são pilares da formação humana. Para quê ignorar a urgência de olhar para estes pilares? Porque é que é tão difícil e burocrático atuar no sentido benéfico do utilizador final?
Recentemente conheci a causa Adaptar Portugal, cuja fundadora de 29 anos, a Sofia Costa, tem desenvolvido um trabalho incrível desde abril de 2018, fruto das limitações que tem encontrado no decorrer da sua vida. O primeiro abaixo-assinado que organizou aconteceu quando apenas frequentava o 9º ano, sendo que o mesmo foi proibido, mas não desistiu!
A Adaptar Portugal tem como premissa unificar e permitir acessibilidade a todos os estabelecimentos e nas ruas em Portugal, funcionando como uma sensibilização.
Questionar e sensibilizar, parece simples não parece? Mas não é de todo, temos muito que fazer, porque não sabemos o que a vida nos reserva.
Hoje podemos considerar-nos seres totalmente saudáveis (seria uma utopia, porque não somos! Basta analisarmos os dados da saúde mental), mas agora falo de mobilidade, naturalmente. As circunstâncias da vida mudam num nanossegundo. Num piscar de olhos podemos perder parte dos nossos membros e aí, nesta oportunidade que a vida nos está a dar para olhar para dentro, podemos concluir o quão ingénuos fomos até então, por acreditar profundamente que só acontece aos outros, e que se assobiar para o lado não me bate à porta. Bater à nossa porta, leia-se, pode ser por via de um filho, do pai ou da mãe, do marido ou da esposa. Não tem que ser necessariamente na primeira pessoa.
Talvez se criarmos espaço no nosso coração, para entender os constrangimentos de quem habita os mesmos espaços que nós, possamos juntar-nos a causas onde juntos podemos fazer a diferença.
Já alguma vez parou para observar os espaços públicos que frequenta? Já alguma vez se apercebeu das limitações que alguém estava a viver? Devemos reportar estes constrangimentos, apesar da pouca fiscalização, e não valerá a pena ficar exclusivamente no julgamento alheio, pois um dos nossos deveres cívicos é também reportar às respetivas autoridades/instituições as lacunas que identificamos, assim como sensibilizar as nossas crianças.
Que os atuais e futuros arquitetos concebam projetos mais conscientes, e que as organizações e instituições promotoras do país reconheçam o quanto há por melhorar.
Sugiro que, por estes dias, passeie na rua com mais atenção a estes pormenores e partilhe nas suas redes sociais aspetos que requeiram atenção: vamos sensibilizar? Adaptar-se-ia a uma realidade sem possibilidades? Naturalmente que sim, até lhe 'bater à sua porta'.
Vamos cuidar uns dos outros com gentileza.
Vamos ser o exemplo que queremos ver no mundo!
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