Quando Manoel de Oliveira morreu, com 106 anos de idade - e de plena atividade - uma reportagem que passou na televisão apresentou o cineasta dizendo “Se me perguntar qual é o sentido da Vida, eu logo lhe digo qual é o sentido da Arte”.

Existir requer apenas um coração batendo no peito. Viver exige arte e engenho, exige uma alma pulsando de vontade de viver e de se expandir, tal e qual um coração pulsando para levar o sangue a todo o corpo. Viver é uma Arte. E a Vida exige que nos tornemos artistas.

Como uma criança que fica maravilhada com o mundo e precisa de mexer, tocar e experimentar, um adulto precisa de sentir esse mesmo deslumbramento pela Vida, o entusiasmo de quem está sempre à procura de aprender algo novo, até mesmo sobre o que que já sabe. Há sempre algo que não sabemos sobre o que já sabemos.

A diferença é que enquanto uma criança o faz por uma necessidade inconsciente, um adulto que queira aprender a Arte do Bem Viver precisa de o fazer de forma consciente e voluntária, por uma motivação interna irresistível. É por isso que quando se começa esse processo não há volta atrás – e ainda bem. Viver com ciência é viver com consciência (con_sciência = “com sabedoria”). E o que é viver com sabedoria?

É viver em harmonia com as leis da natureza, que derivam das leis universais e as reflectem. É por isso que podemos aprender tanto rodeando-nos da natureza e observando-a. Contudo, para viver com consciência, não basta aprender sobre essas leis e sobre a sua manifestação. O conhecimento só tem utilidade se nos transformar e nos fizer evoluir enquanto seres humanos. E para isso é preciso vivenciar todo esse conhecimento e integrá-lo em nós, transformando-o em sabedoria e prática.

Henrique José de Souza, pensador e teósofo brasileiro nascido em 1883, criou um neologismo que sintetiza a ideia da Vida em harmonia com as leis cósmicas, “Eubiose”. O Professor Henrique fundou em 1921 a Sociedade Brasileira de Eubiose*, muito ligada ao budismo esotérico (com o nome anterior de Sociedade Teosófica Brasileira, em homenagem à Sociedade Teosófica criada por Helena P. Blavatsky), que ensina os meios de conseguir essa harmonia.

Para aprender a Ciência da Vida, é importante aprender de tudo: Filosofia, Religião e Ciência, etc. Mas o objectivo é muito maior do que ter conhecimento, é vivenciar esse conhecimento, reunindo e religando as várias dimensões que nos compõe, a sagrada e a profana, a divina e a humana. Religar - é esse o verdadeiro sentido e significado da palavra “religião”. Vivendo eubioticamente, ou seja, de acordo e em harmonia com as leis universais, estaremos a religar-nos a essa Corrente Universal, à Fonte Primordial de tudo o que existe.

O despertar da nossa consciência vai causar uma revolução (necessária) na nossa vida… Como diz o mestre Yoda da Guerra das Estrelas, é preciso desaprender o que aprendemos, desconstruir ideias que temos como certas e nos impedem de voar mais alto. Retirando essas barreiras, a nossa sabedoria interior vai começar a fluir, tendo resultados muito reais e práticos nas nossas vidas, iluminando cada vez mais o nosso caminho, que é único e válido apenas para nós, apesar de ter muitos pontos em comum com o de outras pessoas.

Para aprender a Arte do Bem Viver, é preciso muito mais do que estudar e acreditar, é preciso uma confiança inabalável na Sabedoria Universal e nos múltiplos caminhos e manifestações da Divindade, dessas leis universais que regem tudo o que existe. Nas palavras de Agostinho da Silva “Crente é pouco, sê-te Deus, e para o Nada que é Tudo inventa caminhos teus”.

*A Sociedade Brasileira de Eubiose possui hoje representações não apenas no Brasil, mas na América do Sul e Europa, incluindo Portugal.

Vera Vieira da Silva

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