A PRIMEIRA GRANDE PRÁTICA DA CHAMADA TRAVESSIA DA VIDA É A PARAMITA (qualidade virtuosa exercida por um Bodhisattva) DA GENEROSIDADE

Generosidade é a virtude em que a pessoa ou o animal tem quando acrescenta algo ao próximo. Generosidade se aplica também quando a pessoa que dá algo a alguém tem o suficiente para dividir ou não. Evidentemente, que isso não se limita apenas em bens materiais. Generosas são tanto as pessoas que se sentem bem em dividir um tesouro com mais pessoas porque isso as fará bem, tal qual quanto aquela pessoa que dividirá um tempo agradável para outros sem a necessidade de receber algo em troca.

Já segundo René Descartes, no seu Tratado das Paixões, e também, nos Princípios da Filosofia, a generosidade é apresentada como uma despertadora do real valor do EU e ao mesmo tempo como mediadora para que a vontade se disponha a aceitar o concurso do entendimento, acabando assim a causa do erro. Neste caso, passa a ser um conceito de mediação entre a vontade e o entendimento.

Segundo a filosofia budista existem quatro formas de generosidade:

- Partilhar os ensinamentos que geram paz interior da forma adequada à mente e à cultura das pessoas, sem esperar pagamento ou recompensa.

- Oferecer coisas materiais, como o nosso corpo e os nossos recursos.

- Oferecer protecção, consolo e coragem. Podemos proteger os outros de perigos de outros humanos, de não-humanos e dos próprios elementos.

- Oferecer amor (oferecer incondicionalmente aos outros o nosso tempo, apoio emocional, energia positiva e boas vibrações).

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A generosidade é o antídoto da avareza. É, sem sombra de dúvida, o melhor investimento contra a pobreza emocional e material futuras. Através da vivência da generosidade abrimo-nos para a vida, perdemos o medo de comunicar.

Por conseguinte, desenvolver a habilidade de sermos generosos é um acto de grande auto-estima.

Existe, efectivamente, um limite para a generosidade, já que, em termos concretos, não podemos oferecer tudo. No entanto, internamente, devemos, sem hesitação, estar sempre abertos a doar. Realmente, temos sempre algo para oferecer aos outros, mesmo que estejamo-nos sentindo carentes.

Para além de tudo o mais, a disponibilidade interna de oferecer algo está totalmente ligada à nossa auto-imagem. Na realidade, nós vivemos muitos conflitos em torno da prática de dar e receber. Muitas pessoas preferem dar a receber; outras, pelo contrário, preferem receber e acham que nunca têm nada para oferecer. Quando nos alegramos verdadeiramente com algo que recebemos ou quando alguém está de facto feliz em nos oferecer alguma coisa, uma energia muito particular de alegria intensa é gerada. Por quê? Porque nesse momento dar e receber ocorrem simultaneamente. São poucas as vezes que isso, de facto, acontece.

Uma boa maneira de treinar a mente a oferecer algo com verdadeira generosidade, isto é, livre de qualquer sensação de apego ao objecto oferecido, e da concepção de receber alguma recompensa por este acto, é fazer oferendas de água num altar. Segundo a tradição budista, oferecemos água para aos Buddhas com os quais realizamos a prática da meditação. Não fazemos oferendas aos Buddhas porque eles necessitem delas, mas sim, para criar um potencial positivo e desenvolver a nossa mente.

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No geral, possuímos muito apego, somos mesquinhos: ficamos com o maior e o melhor e damos para os outros somente o que não queremos mais. Por isso, sempre nos sentimos pobres e insatisfeitos. E sempre tememos perder o que temos. Assim sendo, é para quebrar esses hábitos destrutivos causados pelo apego, que fazemos a prática das oferendas.

Em suma, oferecer a água é um bom treino para a verdadeira generosidade porque como ela é quase sempre acessível e abundante, podemos oferecê-la sem nos contaminar pelo sentimento de perda, tão comum quando temos apego por aquilo que estamos oferecendo. Após abençoar, com mantras e visualizações, os recipientes de água, não devemos vê-los como simples objectos, mas sim, transformados na beatitude da sabedoria transcendental. No final do dia, podemos derramar a água dos potes ou recipientes sobre plantas para abençoá-las. Uma vez vazios, os receptáculos devem ser colocados de lado, apoiados uns sobre os outros, e não emborcados.

Espero, humildemente, ter contribuído para que o mundo seja menos egotista, mesquinho, miserável, avarento e insensível. Espero, também, que todos os Seres Humanos Sensíveis e Sencientes possam dar as mãos para que este ciclo seja producente de uma nova atitude humana na qual a humanidade cresça e evolua espiritualmente!

Bem-haja!

Carlos Amaral

Veja as entrevistas com o autor no Programa SAPO Zen:

Convidado Carlos Amaral

O Autor:

Carlos Amaral, Venerável Lama Khetsung Gyaltsen

Mestre em Naturopatia;Especializado em Medicina Ortomolecular; Medicina Homeopática; Medicina Homotoxicológica; Medicina Ayurvédica e Tibetana;Doutorado em Religiões Comparadas e em Metafísica;Investigador em Psicologia Transpessoal & Regressão Memorial;Professor de Budismo, Meditação Tibetana, Raja-Yoga, Kryia-Yoga e Karma-Yoga; Autor e Palestrante.

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