Na correria da vida diária temos poucos espaços de reflexão, de pausa, para podermos estar intimamente connosco próprios. Caímos na facilidade de nos identificar com os vários papeis que desempenhamos – mãe, profissional, estudante, filho, etc. – ou afundar em detalhes e pequenas coisas irrelevantes. Parece que perdemos a ligação a algo essencial que nos define como seres humanos e que nos dá paz, bem-estar, calma e segurança.
Pessoas houve que durante as nossas vidas deram mostras de nos verem tal como somos, com os pontos altos e com os pontos baixos e, mais importante ainda, aceitaram e respeitaram a totalidade desse conjunto, no fundo aceitaram a nossa singularidade e potencialidade. Essas pessoas agiram como centros unificadores de nós próprios, por exemplo:

“A minha avó realmente conhecia-me. Ela parecia sempre saber o que eu realmente necessitava antes de eu próprio saber.”

“O meu professor de educação física aceitava as minhas dúvidas e o meu medo mas via mais longe, via para além disso, via o atleta que já havia dentro de mim. Desabrochei todo o meu potencial atlético”.

“Ela é incrível. Ela conhece-me bem demais. Ela via através dos meus dramas e “teatro” e, conseguia fazer-me rir de mim próprio”.

“Havia uma árvore aonde me costumava sentar por horas a fio quando tinha dez anos de idade. Ninguém parecia ver a minha solidão. Só o espírito dessa árvore era a minha única companhia”.

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Com estes seres, tivemos a oportunidade de tornar conscientemente essa ligação empática connosco próprios. De começarmos a tratar-nos interiormente com mais empatia e com mais respeito pela totalidade que somos. De criar uma maior aceitação dessa mesma totalidade. De começarmos a perceber que existe dentro de nós um centro unificador de grandeza maior, um Eu Empático.

Este Eu Empático permeia a totalidade da nossa gama de experiências humanas e simultaneamente está para além dela, ele é imanente e transcendente ao mesmo tempo. Como por exemplo:

“Sinto que Deus sempre me conheceu, desde do ventre e antes disso, através de todos os momentos da minha vida, mesmo quando Deus parecia não estar lá”.

“Deus tem mais intimidade connosco próprio do que a intimidade que nós temos com nós próprios”. Santo Agostinho.

Nunca é demais lembrar que podemos retribuir o “presente” que nos foi dado por outrem e servir de centro unificador para outras pessoas, nem que seja para nós próprios. Talvez a maior prenda que pode dar a si próprio neste Natal é ser um Eu Empático, nem que seja por momentos.

Por Jaime Graça Machado,
Psicoterapeuta / Executive Coaching, 2005
http://www.jaimegrace.com