A chegada de Plutão a Capricórnio, no final de 2008, foi a primeira das ondas de choque e veio anunciar a transformação que começaria a desenhar-se, lenta, mas irreversivelmente, no horizonte comum: a crise de sistemas económicos, financeiros, sociais e políticos que não apoiam nem permitem a evolução para uma humanidade mais justa e fraterna.

Mais tarde, em 2010, Úrano entrou em Carneiro e uma tempestade de indignação começou a rasgar os céus de todo o mundo, incendiando povos e nações na sua luta por liberdade, por pão e trabalho, pela sua dignidade. Os rastilhos tornaram-se curtos e o clima explosivo. E os arreios, naturalmente, ainda mais apertados.

Agora, e desde abril de 2011, somos inundados – quase literalmente – por uma terceira onda de mudança que adiciona poder, complexidade e subtileza às anteriores. Neptuno, o mitológico senhor dos oceanos, regressou ao fim de 165 anos ao seu domínio aquático: o oceânico, místico e redentor signo de Peixes.

Sonho ou pesadelo, acreditamos que a resposta depende, essencialmente, da escolha individual.

Todas as épocas, tendências, mudanças ou fenómenos coletivos são cartografados, em Astrologia, através dos planetas Úrano, Neptuno e Plutão – cujas órbitas e interações simbólicas representam e desenham nos céus os ritmos e as etapas da nossa evolução.

Os seus movimentos têm espelhado, ao longo da história, o nascimento, o apogeu e o declínio de civilizações e impérios, revoluções e transformações sociais, culturais, científicas, estéticas, artísticas e espirituais.

Assim é a evolução conduzida por Úrano, Neptuno e Plutão, as suas qualidades simultaneamente impregnando e brotando (d)o espírito de cada época e de cada tempo, geração após geração – à medida que cada nova geração estende, ainda mais além do possível, e às vezes do imaginável, a perceção que a humanidade tem da própria dimensão.

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O espírito do nosso tempo é o de uma grande oportunidade, aquela que inspira e torna possível – deixando-nos a escolha de a tornar real – uma visão mais grandiosa da humanidade para si mesma; ou talvez, somente, uma visão suficientemente digna.

Procuramos alcançar uma visão que reflita o potencial verdadeiro e genuíno do espírito humano, que é fraterno, solidário, e empenhado em criar sociedades justas– quando não falam mais alto a sobrevivência e o medo que o mantêm aquém de si mesmo – e é essa orientação gradual para o coletivo que expressa a evolução da consciência humana enquanto se torna mais e mais universal, mais e mais global, mais e mais inclusiva – e à medida que Úrano, Neptuno e Plutão cumprem as suas órbitas e respetivos ciclos, repetindo-os infinitamente sem que nunca, em rigor, se repitam, conduzindo-nos ao nosso destino, individual e coletivo.

Não é o fim do mundo: é a evolução

Urge recordar que “crise” significa crucial, cruz, cruzamento: o momento em que os destinos – os caminhos – se cruzam; em que um novo caminho pode ser iniciado; em que um velho caminho é abandonado e outro escolhido: a oportunidade de iniciar o “caminho menos percorrido”, como lhe chamou M. Scott Peck.

Na medida em que permitimos – já para não dizer, colaboramos com – a inevitabilidade da mudança e da transformação evolutivas não sofremos, ou sofremos menos. Afinal, só quando o nosso desejo de mudança ultrapassa o nosso desejo – ou necessidade – de segurança aderimos, finalmente, ao que surge como condição fundamental da nossa própria evolução: a morte do passado para que o futuro se faça vivo.

Ao aceitarmos e permitirmos a morte (i.e., os fins de ciclo) de tudo o que já tenha cumprido a sua função, criamos os espaços vazios necessários à eclosão e germinação das sementes do novo e do futuro.

Ao aceitarmos que o futuro é inevitável e melhor e que, com ele, chegam à nossa porta e à nossa vida, grandes, pequenas e eternas mudanças, preparando-nos o mais possível para as mesmas, tiramos melhor partido da vida – mesmo quando, aparentemente, esta contraria os nossos espúrios planos, as nossas certezas e aquilo que, para nós, já havia sido concretizado, conseguido, concebido ou pensado até à última instância.

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O passado costuma ser o preço do futuro. Este é invariável e inevitavelmente melhor do que o passado. Por muito que nos tenha custado largar os calhaus pontiagudos com que escrevíamos na caverna da pedra lascada, seja honesta e confesse: Não prefere escrever com papel e esferográfica? Comunicar com os amigos por telemóvel em vez de sinais de fumo? Poder comprar frango embalado em vez de ter de mandar o seu marido caçar mamutes?

Este é o preço da evolução. A humanidade não vai acabar – nem a troika – pelo menos, não já.

Coordenadas cósmicas para o nosso tempo

Como já foi referido, a entrada de Plutão em Capricórnio, em novembro de 2008, marcou o “início” de uma crise anunciada, a dos sistemas e estruturas colectivas e sociais que são a base do nosso mundo – e, consequentemente, todas as estruturas sociais, empresariais, e políticas – num processo de reestruturação que ainda demorará mais alguns anos.

Plutão não volta a mudar de signo, nem de mensagem, senão em 2024. Nessa altura teremos as nossas estruturas a funcionar e prontas para apoiar a sua entrada em Aquário. Então, algo mais se transformará.

Daqui por 250 anos, Plutão volta a entrar em Capricórnio. Não se apoquente. Os netos dos seus trinetos – ou os marcianos – que lidem com isso.

Por agora, todos tentamos colocar a vida em ordem e ganhar maior controlo sobre a mesma.

Todos: esse é o problema. De facto, os tempos exigem a todos maior controlo sobre a vida e tal implica que uns controlem os outros - e os tempos também não estão para isso, pelo menos, desde maio de 2010.

Úrano em Carneiro foi o despertador cósmico que começou a tinir, precisamente desde então, sobre as nossas cabeças; o despertador da indignação. Nos meses que se seguiram, um pouco por todo o mundo, povos e nações inteiras começaram a reivindicar os seus direitos perante os abusadores do poder. Estes abusadores de poder representam aquelas partes de nós, de cada um de nós, que é avessa à mudança, que se instalou no próprio poder – a parte de nós que ainda não está disposta a abdicar voluntariamente do poder e dos privilégios em nome de uma sociedade nova, de uma democracia: uma forma de organização social que sirva as pessoas, não as instituições ou os interesses particulares de uns, enquanto outros morrem à mercê de doenças, fome e miséria.

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Pretende-se uma sociedade mais solidária, mais justa, mais eficiente, com o poder, a justiça e as responsabilidades pessoais e colectivas a serem deliberadamente exercidas em prol de ideais eternos, fraternos e fundamentais para a sobrevivência da espécie humana no mundo.

Uma sociedade mais consciente das consequências de um uso insano, frenético e egoístico do conhecimento, da tecnologia, da informação, da propriedade, dos lucros e dos recursos para perpetuar o domínio de uma minoria da humanidade sobre a restante, imensa, maioria. Essa seria a sociedade que serviria. Essa é a visão que nos traz Neptuno em Peixes.

A maturidade espiritual da humanidade

Neptuno em Peixes traduz-se numa maior consciência de unidade: expressa-se na ecologia, na integração espírito/ mente/ emoção/ matéria, na mente perscrutando os mistérios da mente e descobrindo novos mundos dentro do mundo: mundos que já existiam, simplesmente ainda não chegara a altura de serem explorados.

Apoiado pelo brilhantismo científico propiciado por Úrano em Carneiro, Neptuno em Peixes pode vir a estender também as suas ondas à exploração dos oceanos e dos recursos subaquáticos, à descoberta de fontes naturais renovadas – e renováveis – de energia, alimentação, cura e bem-estar; à exploração de novos domínios e planos na ciência e na espiritualidade, rompendo de vez, e graças a uma intuição completamente nova, com todas as velhas barreiras e limitações. A exploração do espaço, quer exterior, quer interior, será um dos mais fortes impulsos da próxima década: quer por vias místicas e espirituais, quer por via das drogas (que terão cada vez mais importância, e por múltiplas vias, à medida que o tempo passe).

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Por diluir as fronteiras, fundindo e englobando tudo no mesmo abraço oceânico, Neptuno simboliza – e dissemina – a compaixão; contudo, ao fazê-lo, Neptuno pode também simbolizar a propagação de coisas menos boas, como a fragilização das defesas e o arrastamento em ondas coletivas sem controlo. Tudo o que se dissemina, seja uma gripe, epidemia ou contaminação coletiva, seja a histeria emocional ou o medo, ou até mesmo rumores, boatos, e contrainformação, possui uma dimensão viral, isto é, potencialmente perigosa.

Um espírito mais solidário

Com a entrada de Neptuno em Peixes, signo onde passará 16 anos, o conceito de que estamos todos ligados sobe a um novo patamar. A última vez que Neptuno esteve em Peixes assistimos à abolição da escravatura e da pena de morte. Agora, iremos sentir como nunca a injustiça e o sofrimento do outro, até que reconheçamos que ninguém pode estar realmente em paz enquanto existir sofrimento no mundo.

Também vamos assistir a um alargamento da noção de família, a qual irá expandir-se até abarcar a comunidade e todo o planeta. As iniciativas ecológicas das comunidades e cidades em transição são um exemplo. Aliás, não vá mais longe. Quantas famílias, com a crise de hoje em dia, não ocupam diferentes quartos numa mesma casa? E os imigrantes? Já lhe ocorreu que estes possam ser ensaios cósmicos da vida em comunidade?

E que, na impossibilidade de basear as nossas relações naquilo que de material tenhamos para dar, é a nós próprios, e de nós próprios, que teremos de aprender a dar no contexto das nossas relações? Como escreveu Helena Sacadura Cabral, no amor “o difícil não é dar. É dar tudo”.

Teremos de aprender a dar no seu sentido mais verdadeiro, pois, enquanto não for de nós próprios que damos, nunca as nossas relações se tornarão reais. Enquanto não dermos, com a mesma disponibilidade e intenção, também àqueles que não conhecemos, nunca o nosso amor será mais do que um amor pessoal, egoísta, e muito aquém do amor que a humanidade está a ter oportunidade de aprender e expressar: amar sem olhar a quem.

A humanidade pode aproveitar uma boleia como esta, se reconhecer na “crise” coletiva a oportunidade para criar uma sociedade global mais justa e equitativa entre indivíduos e nações. Basta recordar que Plutão em Capricórnio representa o fim da velha sociedade e o poder de construir uma nova; Úrano em Carneiro, o novo homem e a impaciência com o velho, na luta pela próxima versão de si mesmo; e Neptuno em Peixes simboliza o humanismo espiritual a que estamos destinados, ou os véus ilusórios de fantasia, autoengano e irrealismo que nos cegam para a dimensão e a natureza do que está a acontecer no mundo.

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Os heróis do novo mundo

Transformando prepotência em poder pessoal, revolta em coragem, impaciência em ação decidida, desilusão com as nossas próprias expectativas na oportunidade de darmos, mais e mais completamente de nós mesmos em nome de algo significativamente maior podemos aproveitar estas ondas de mudança.

Talvez possamos vir a usar, proteger e promover os recursos comuns, atuais e vindouros, sem acumular riqueza desnecessária, salvaguardando e garantindo a dignidade de toda a família terrena, proporcionando a cada um, em função da sua necessidade, mérito, escolha, responsabilidade e poder, fornecendo-lhe os meios para que a divindade individual possa ser cuidada e expressar-se, manifestando-se como um dom ao serviço dos outros e transformando a sociedade humana na expressão de 7,3 mil milhões de dons do espírito sobre a Terra.

Para que todos tenham pão, casa, cultura, educação, para que todos tenham na encarnação um templo para o seu espírito. Para que cada um se possa tornar, como dizia o mestre Agostinho da Silva, o poeta criador que nasceu para ser.

Possam, por isso, homens e mulheres de boa vontade honrar, durante os próximos anos, a visão de Neptuno em Peixes com a coragem de Úrano em Carneiro e o poder de Plutão em Capricórnio, pois serão esses os heróis do futuro e, por amor, o mundo será seu.
Nuno Michaels

Veja em vídeo no Sapo Zen as Previsões 2013 : Nuno Michaels

Nuno Michaels

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