Angolana, nasceu em Luanda, a 23 de agosto de 1973. Trabalhou em Lisboa e Londres ao longo de vários anos, nomeadamente na embaixada de Angola no Reino Unido. Reside permanentemente em Luanda desde 2012, onde, entre outros projetos, foi responsável pela implementação SAP e Super User na petrolífera Maersk Oil Angola. Empresária e empreendedora de sucesso, combina as técnicas de venda avançadas com a experiência na área das finanças e administração para fazer do seu negócio uma alavanca financeira para o setor imobiliário em Angola.
Quem é a Zília Ximenes, empreendedora?
A Zilia é uma pessoa simples e vem de uma família com uma educação bastante rígida. Sou “empreendedora” mas ainda tenho um longo caminho a percorrer. Tenho muito rigor e procuro aprender todos os dias. Respeito e valorizo tudo o que absorvo.
Após uma carreira profissional muito diversificada, porque optou pelo setor imobiliário em Angola?
Além da experiência que já tinha de uma passagem por duas imobiliárias, foi a minha veia comercial [que me fez optar por este setor]. Gosto do que faço, além de que os desafios apresentados atualmente no setor imobiliário em Angola são enormes e eu sou uma mulher de desafios. Num passado muito recente toda a gente vendia casas ou arrendava, agora não é bem assim. Há um grande trabalho e investimento por trás de qualquer comercialização. Temos que ter um grande jogo de cintura e sermos rigorosos no que fazemos.
Como tem evoluído a oferta habitacional em Angola? Comprar uma casa é um privilégio de uma elite ou é um direito garantido à generalidade da população?
O mercado residencial em Angola tem vindo a sofrer com os sinais do desaceleramento económico desde 2014 onde constatámos uma taxa de desocupação elevada, a conclusão atrasada de projetos e a redução do número de transacções no mercado.
Nota-se um crescimento na oferta habitacional em Angola, foram e continuam a ser construídas as chamadas centralidades, para que o cidadão comum possa adquirir a sua residência a um preço justo, mas devido à desvalorização da moeda e o não reajuste dos salários, é cada vez mais difícil adquirir casa própria. Na minha opinião, em Angola é ainda um privilégio da elite comprar casa.
O que diferencia a ZXimenes face a outras imobiliárias angolanas?
Não quero parecer pretensiosa, mas tem os valores todos orientados para o cliente. Fazemos questão de acompanhar cada caso com a mesma dedicação e procuramos inovar todos os dias até onde nos é permitido, porque o mercado imobiliário angolano ainda tem algumas limitações. Existe uma citação do Anthony Ulwick que se adequa ao nosso posicionamento no mercado: “Para uma inovação ter sucesso, é preciso haver um acordo sobre o que significa a palavra ‘necessidade’ e os tipos de necessidade que os clientes possuem. Isso é importante porque o objetivo da inovação é desenvolver soluções para necessidades não atendidas de clientes.”
Sente em Angola um ambiente favorável ao empreendedorismo feminino?
Faltam ainda muitos apoios e a mudança de mentalidades, mas estamos a dar passos significativos. Vemos bastantes mulheres na liderança. É um sinal de que as mulheres em Angola começam a ocupar o seu lugar e são vistas com as competências que lhes são inerentes.
Pode destacar uma medida essencial que poderia ser tomada pelo Governo angolano para estimular o empreendedorismo feminino no país?
Educar e criar oportunidades. Isto possibilita a criação, sustentação e evolução de novos negócios inovadores de crescimento empreendedor.
Quais as principais diferenças que encontra entre os ecossistemas empreendedores angolano e português?
Angola tem um mercado muito jovem ainda e, até pela característica do próprio país, imaturo. Temos um sistema económico muito dependente do Estado, com base no comércio (compra e venda) porque não produzimos. A nossa rede de tecnologia é deficiente, não corresponde às necessidades de todos e isto num país onde os bens essenciais são escassos, como é o caso da água e energia, onde tudo é caro e temos uma população pobre sem poder aquisitivo.
A nossa moeda sofre uma desvalorização contínua, o que aumenta o risco de investimento e os bancos cobram uma taxa de juro excessiva. O ambiente económico à volta do país em si é rodeado por países com alguma instabilidade tanto financeira como política, o que limita o desenvolvimento a nível de transacções comerciais. Mas ainda assim é um país cheio de oportunidades, isto se o empreendedor tiver resiliência para aguentar as dificuldades que neste momento estamos todos a contribuir para superar.
Portugal tem um mercado liberal de consumo, mais maduro. Em contrapartida, não é um mercado atraente a nível fiscal, mas ainda assim é estável. O patamar de serviços é melhor, as pessoas tem mais acesso à educação, ou seja, há mais profissionais qualificados, a banca funciona, existem mais apoios e o país funciona no seu todo. Uma das grandes vantagens do mercado português é estar inserido na UE, onde tem vários apoios e incentivos. As politicas económicas definidas pelo Estado podem criar um grande impacto no que se refere ao ecossistema do empreendedor.
5 dicas para quem deseja empreender em Angola:
- Defina as suas metas a curto e longo prazo;
- Invista na divulgação do negócio;
- Acompanhe os resultados de cada acção;
- Acrescente valor;
- Perseverança.
Saiba mais sobre Mulheres à Obra aqui.
Comentários