O seu livro também é um relato da sua história enquanto empreendedora. Nascemos propensos para empreender, ou é um caminho completamente adquirido e aprendido?

Acredito que algumas pessoas já nasceram num seio familiar em que o empreendedorismo esteve presente desde sempre, e isso repercute-se no caminho profissional que acabam por seguir. Quando o empreendedorismo nos rodeia, não é fácil não seguir o chamamento. Curiosamente, no meu caso foi precisamente o contrário. Os meus pais não são empreendedores e sempre trabalharam por conta de outrem. Tanto eu como o meu irmão fomos ensinados a estudar muito, ter boas notas para ter um bom emprego. Curiosamente também, ambos enveredámos pelo empreendedorismo. Por isso, vivi na pele que qualquer pessoa pode ser empreendedora, independentemente do meio em que se insira. Tendo a paixão e motivação certa, qualquer pessoa consegue empreender se for isso que realmente pretender.

O empreendedorismo acaba por ser uma forma de estar, porque o empreendedor é o sonhador. É o visionário. É aquele que tem uma paixão ou um sonho, e o concretiza. A paixão pelo negócio não se aprende, ela vive em nós. Mas tudo aquilo que implica ter um negócio, do marketing à gestão, pode ser aprendido e desenvolvido. Foi precisamente esse o meu caso – tinha uma paixão pelo marketing digital, em concreto pelas redes sociais, mas não tinha nenhum conhecimento daquilo que é necessário para ter um negócio. Ao longo dos anos, fui aprendendo mais e mais sobre gerir negócios e escalá-los, e foi aí que me comecei a transformar da empreendedora, ou seja, a sonhadora, que arranca o negócio, para a empresária, no fundo a que implementa e faz o que tem de ser feito para desenvolver o negócio.

Portanto, ao olhar para a minha trajetória, acredito firmemente que o empreendedorismo pode ser tanto inato quanto adquirido. Para aqueles que não crescem num ambiente empreendedor, o caminho pode ser mais desafiante, mas não é de todo impossível. O importante é a paixão e a vontade de aprender. O empreendedor deve ser resiliente, adaptável e sempre disposto a crescer e a evoluir. Ele precisa de ter a capacidade de ver oportunidades onde outros veem obstáculos, de tomar riscos calculados e de estar constantemente em busca de novas soluções para problemas existentes.

O que define uma mente empreendedora?

Um fator crucial que define uma mente empreendedora é a curiosidade insaciável e a vontade de fazer a diferença. É alguém que não se contenta com o status quo e está sempre a questionar como as coisas podem ser melhores. É essa inquietação que impulsiona o empreendedor a inovar e a criar valor. Além disso, uma mente empreendedora é marcada pela capacidade de aprender com os fracassos. Em vez de ver os contratempos como derrotas, vê-os como oportunidades de crescimento e aprendizagem.

O empreendedor deve ser resiliente, adaptável e sempre disposto a crescer e a evoluir.

A Bárbara escreve na introdução do seu livro que já acompanhou mais de 1000 mulheres empreendedoras. Qual é o perfil das mulheres que a procuram e onde querem empreender?

Entre cursos online, alunos da AcademiaBB e dos meus cursos, e Consultorias Individuais, o perfil destas mulheres empreendedoras tem sido muito semelhante. A maioria são mulheres portuguesas, entre os 35 e os 50 anos. Muitas ainda trabalham a tempo inteiro por conta de outrem, mas já empreendem com um “pequeno negócio” e o objetivo é aumentar as vendas, sobretudo através do poder das redes sociais.

São mulheres cujo negócio ainda vive muito à base de redes sociais, muitas vezes sem website e outras ferramentas e estratégias fundamentais para um negócio prosperar, mas que vêm cheias de vontade de profissionalizar e melhorar substancialmente os seus resultados. Estas mulheres demonstram uma mentalidade jovem e descontraída, independentemente da idade. São muito resilientes – muitas delas com trabalhos a tempo inteiro, solteiras e mães solteiras que ainda encontram tempo para empreender e ter hobbies. São a prova de que, quem quer, realmente consegue encontrar tempo e forma de fazer acontecer.

O meu trabalho tem-me mostrado que estas mulheres são verdadeiramente inspiradoras. Elas vêm de diversos contextos e backgrounds, mas partilham um desejo comum de crescer e transformar os seus sonhos em realidade. Enfrentam desafios como a gestão do tempo entre as múltiplas responsabilidades, mas continuam a avançar com determinação. Esta resiliência é um dos aspetos mais admiráveis que observo – muitas vezes, elas não apenas gerem os seus negócios, mas também equilibram carreiras a tempo inteiro e a educação dos seus filhos.

No que diz respeito à área de negócios, ela varia muito e tem variado ao longo do tempo. Atualmente, sinto uma predominância de negócios na área da moda, espiritualidade, terapias, fitness e imobiliário.

As empreendedoras que me procuram estão à procura de formas de aproveitar as redes sociais para expandir os seus negócios. Muitas começam com uma presença sólida nas redes sociais e desejam profissionalizar essa presença, criando websites, desenvolvendo estratégias de marketing digital mais robustas e implementando ferramentas de gestão empresarial eficazes.

Além disso, estas mulheres mostram uma grande abertura para aprender e evoluir. Participam ativamente em cursos e consultorias, e procuram constantemente melhorar os seus conhecimentos.

Portugal é um país de empreendedoras?

Portugal é, feliz e orgulhosamente, um país de mulheres empreendedoras – e cada vez mais. Há muito mais empreendedoras do que algum dia imaginei. Há muitas mulheres cheias de ideias transformadoras para criar negócios novos e disruptivos, e outras tantas que já começaram, ao seu ritmo, a criar os seus “impérios”. Nos últimos anos, temos assistido a um aumento significativo de eventos de networking no feminino e até comunidades que provam que as mulheres estão a abraçar com força o empreendedorismo – e que são fantásticas a fazê-lo.

Este crescimento também é qualitativo. As mulheres portuguesas estão a criar negócios inovadores e a trazer novas perspetivas para o mercado. Estão a entrar em diversas áreas, desde a moda e beleza até à tecnologia e ciência, mostrando que o empreendedorismo feminino não conhece limites. Além disso, muitas destas empreendedoras combinam as suas paixões com o impacto social, criando negócios que também promovem o bem-estar da comunidade e a sustentabilidade ambiental.

A rede de apoio para as mulheres empreendedoras também tem crescido substancialmente. Instituições, programas de mentoria e financiamento, eventos de formação e capacitação específicos para mulheres estão a tornar-se cada vez mais comuns. Estas plataformas proporcionam às mulheres as ferramentas e os recursos necessários para prosperar nos seus negócios. O grupo Mulheres à Obra é um exemplo brilhante de como a comunidade e a colaboração podem ser poderosas.

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Adicionalmente, o reconhecimento do empreendedorismo feminino em Portugal está a aumentar. As histórias de sucesso de mulheres empreendedoras estão a ser cada vez mais destacadas nos media e nos prémios de empreendedorismo.

Portugal está a tornar-se um verdadeiro exemplo de como o empreendedorismo feminino pode florescer quando há vontade, resiliência e uma rede de apoio sólida. As mulheres portuguesas estão a redefinir o panorama empresarial do país e a criar um futuro mais inclusivo e inovador. No meu livro Empreender no Feminino partilho várias histórias de mulheres empreendedoras portuguesas que estão a fazer a diferença. Estas histórias são uma prova viva de que Portugal é, sem dúvida, um país de empreendedoras. Com o ambiente certo e o apoio necessário, as mulheres podem e vão continuar a conquistar o mundo dos negócios.

Portugal está a tornar-se um verdadeiro exemplo de como o empreendedorismo feminino pode florescer quando há vontade, resiliência e uma rede de apoio sólida.

O que a levou a escrever um livro sobre empreendedorismo no feminino?

Desde os primórdios do meu negócio, quando ainda era apenas um hobby e eu não imaginava que se tornaria o meu trabalho a tempo inteiro, sempre me posicionei para o público feminino. Comecei por fazer consultorias a blogueres, e esse mercado era esmagadoramente feminino. Por isso, fez-me sentido que toda a minha comunicação fosse direcionada para esse público.

À medida que o mercado evoluiu e o meu negócio também, os pedidos de acompanhamento para negócios continuaram a vir exclusivamente de mulheres. Foi aí que percebi que esse era o caminho que queria seguir. Desde então, ao acompanhar tantas mulheres – e sendo eu própria mulher, vivendo todas as “dores” que sentimos – percebi que não havia um livro que juntasse a criação e gestão de um negócio ao lado feminino.

Ao surgir o convite para escrever um livro com esta abordagem, ficou claro que era o match perfeito. Escrevi-o com base em todas as minhas vivências – as conquistas e as inseguranças. Sabia que era necessário criar um recurso que abordasse especificamente os desafios e as oportunidades que as mulheres enfrentam no mundo dos negócios.

O livro é, portanto, uma extensão natural do meu trabalho diário. Tendo acompanhado mais de 1000 mulheres ao longo dos anos, observei de perto as dificuldades únicas que elas enfrentam. Questões como equilibrar o trabalho com a vida pessoal, enfrentar a síndrome do impostor, e lidar com a falta de reconhecimento e apoio, são apenas alguns dos temas que abordo.

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Além disso, acredito profundamente que o empreendedorismo feminino tem características próprias que merecem ser celebradas e apoiadas. As mulheres trazem uma visão única e uma abordagem colaborativa e empática ao mundo dos negócios.

Ao escrever Empreender no Feminino, quis criar um guia que fosse tanto um manual prático como um companheiro de jornada. Quis que as leitoras se sentissem compreendidas e apoiadas, sabendo que não estão sozinhas nas suas lutas e que é possível superar os obstáculos com resiliência e determinação.

Este livro reflete o meu compromisso com a capacitação das mulheres e com a criação de um ambiente onde elas possam prosperar. É uma celebração da força, criatividade e perseverança feminina. E é também uma chamada à ação, incentivando mais mulheres a seguirem os seus sonhos e a transformarem as suas paixões em negócios de sucesso.

Sente que o seu livro é um manual de empoderamento no feminino?

De certa forma, sim. Escrevi este livro com a intenção de capacitar as mulheres com estratégias práticas para transformar uma paixão ou hobby num negócio lucrativo, permitindo-lhes viver uma vida mais feliz e cheia de propósito. Mas a minha intenção vai além disso. Quis também capacitar as leitoras no âmbito do desenvolvimento pessoal, ajudando-as a combater as suas inseguranças e medos, e aquela vozinha de fundo que muitas vezes é tão sabotadora.

Ao longo do livro, partilho vários exemplos de mulheres que conseguiram alcançar o sucesso, mostrando que é possível superar desafios e construir algo significativo. Trouxe também exemplos de erros que cometi ao longo da minha jornada, porque acredito que aprender com os erros é uma parte fundamental do crescimento. A lição final é clara: todas conseguimos. Quem arregaça as mangas e trabalha com determinação, chega lá. A perseverança traz resultados, e é essencial manter-se firme nos seus objetivos.

Uma das mensagens mais importantes que quis transmitir é que há uma rede de apoio entre mulheres empreendedoras. Não estamos sozinhas nesta jornada. Existem outras mulheres que estarão lá para apoiar, incentivar e partilhar experiências. Este sentido de comunidade é vital para o empoderamento feminino.

“Portugal é, feliz e orgulhosamente, um país de mulheres empreendedoras” – Bárbara Bação, especialista em marketing digital
“Portugal é, feliz e orgulhosamente, um país de mulheres empreendedoras” – Bárbara Bação, especialista em marketing digital créditos: Oficina do Livro

No livro, também abordo a importância de enfrentar e superar as inseguranças. Muitas vezes, somos as nossas piores críticas, e é fundamental aprender a calar essa voz interior negativa. Quero que as leitoras se sintam motivadas a acreditar em si mesmas, a confiar nas suas capacidades e a não deixarem que o medo ou a dúvida as impeçam de seguir os seus sonhos – e que saibam que também todas passamos pelo mesmo.

Além disso, sublinho que só é derrotado quem desiste ou não começa. O caminho do empreendedorismo não é fácil, mas é incrivelmente gratificante. As histórias de sucesso que partilho no livro mostram que, com determinação e resiliência, é possível alcançar grandes feitos.

Empreender no Feminino é, portanto, mais do que um guia prático de negócios. É um manual de empoderamento que incentiva as mulheres a acreditarem nas suas capacidades e a perseguirem os seus sonhos com paixão e determinação. E espero verdadeiramente que cada leitora se sinta inspirada e capacitada a tomar as rédeas do seu futuro, sabendo que o sucesso está ao seu alcance.

Criar um negócio é algo que, como diz, “mexe com tudo”. O que muda no caso da vida de uma mulher?

Criar um negócio e querer que ele vingue muda tudo. Embora alguns gurus apregoem que se criam negócios para termos mais liberdade de tempo e financeira, esquecem-se de dizer que isso só acontece, em quase todos os casos, passado algum tempo (alguns anos, na maioria das vezes). Quando uma mulher decide empreender, ela está a assumir um compromisso que vai além das horas normais de trabalho. Muitas vezes, estas mulheres, como eu, começam o seu negócio sozinhas, a tratar de tudo: contabilidade, escolha de fornecedores, envios, marketing, estratégia, atendimento ao cliente, e muito mais. Ter um negócio não é só “chegar e vender” – há um trabalho invisível gigantesco por trás, que consome muito tempo e energia.

Bárbara Bação é formada em Comunicação Social e Marketing pela Universidade Católica de Lisboa e o seu foco está no marketing digital. Começou por ter um blogue pessoal (Living in Bs Shoes), através do qual iniciou a sua aprendizagem sobre quais as melhores estratégias para um negócio de sucesso, tendo o mesmo servido como rampa de lançamento do seu negócio. Trabalhou em empresas como a Microsoft Portugal, entre outras, integrada nos departamentos de marketing, até 2021. Nesse ano decidiu dedicar-se a tempo inteiro à sua empresa, cuja missão é ajudar empreendedoras a comunicar de forma mais eficaz, descomplicada e estratégica por meio das redes sociais. Fá-lo recorrendo a consultorias, cursos, e-books, a AcademiaBB, entre outras iniciativas. Tem também uma agência de gestão de redes sociais, a Magnet Media.

Além disso, nada se consegue sem investimento e sacrifício. A mulher empreendedora, como qualquer empreendedor, terá de aceitar que precisará de dedicar tempo a desenvolver o seu negócio e a investir em formação para evoluir. Precisará de investir financeiramente em formação, ferramentas, stock (se for o caso) e marketing. E precisará de ter energia para levar tudo isto avante, mesmo nos dias em que tudo parece correr mal.

No caso das mulheres, este desafio é ainda maior devido às múltiplas responsabilidades que muitas vezes carregam. Muitas mulheres empreendedoras têm de equilibrar o negócio com as responsabilidades familiares e domésticas. A gestão do tempo torna-se crucial, e muitas vezes é preciso fazer sacrifícios pessoais para garantir que o negócio prospera. Há dias em que tudo parece acumular-se – as exigências do trabalho, as necessidades da família, e ainda a pressão de manter um negócio em crescimento.

Porém, é importante reconhecer que estas mulheres são extremamente resilientes e determinadas. Elas aprendem a gerir o tempo de forma eficaz, a delegar tarefas sempre que possível e a encontrar um equilíbrio que funcione para elas e para as suas famílias. As mulheres empreendedoras desenvolvem habilidades impressionantes de multitasking e gestão de crises, tornando-se verdadeiras mestres na arte de equilibrar múltiplos papéis.

Criar um negócio também pode trazer uma sensação profunda de realização pessoal. Esta sensação de propósito e realização pode ser um motor poderoso, dando-lhes a energia necessária para continuar, mesmo nos dias mais difíceis.

Sim, criar um negócio muda tudo na vida de uma mulher. Exige um compromisso profundo, sacrifícios e uma enorme dose de resiliência. Mas também oferece a oportunidade de crescimento pessoal, realização e impacto positivo na comunidade.

Um empreendedor que comece um negócio apenas com o objetivo de ganhar dinheiro terá muito mais dificuldades em fazer com que ele prospere ao longo do tempo.

Pensar num negócio unicamente como um meio de ganhar dinheiro é um bom princípio para empreendermos em algo?

Um empreendedor que comece um negócio apenas com o objetivo de ganhar dinheiro terá muito mais dificuldades em fazer com que ele prospere ao longo do tempo. Porquê? Porque lhe falta a paixão pelo que faz. Acredito firmemente que sermos apaixonados por aquilo que fazemos é o que nos mantém motivados e resilientes ao longo do tempo. É a chama que mantém o fogo aceso. Se a motivação for apenas o dinheiro, quando surgirem períodos de menor faturação ou estagnação – que são tão comuns nos negócios – provavelmente o empreendedor vai perder o interesse e passar para outra coisa.

O ideal é sempre encontrar a interseção entre dois elementos essenciais: aquilo que adoramos fazer e aquilo que o mercado procura e está disposto a pagar. Esta combinação é o que sustenta um negócio a longo prazo. Quando somos verdadeiramente apaixonados pelo que fazemos, estamos sempre à procura de soluções para os problemas que surgem, temos mais foco e energia, e um espírito de entrega e dedicação inabalável. A paixão alimenta a criatividade e a inovação, permitindo-nos encontrar maneiras novas e melhores de servir os nossos clientes e de nos destacarmos da concorrência.

“Sinto-me afortunada por nunca ter de me comportar como um homem” - Anya Hindmarch, designer e empresária
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Além disso, a paixão pelo negócio é o que nos dá a força necessária para enfrentar os inevitáveis desafios e obstáculos. Haverá momentos difíceis, períodos de incerteza e até fracassos. Sem paixão, é fácil desanimar e desistir. Mas quando estamos verdadeiramente comprometidos com o que fazemos, esses momentos tornam-se oportunidades de aprendizagem e crescimento. A paixão ajuda-nos a manter a perspetiva e a perseverar, mesmo quando o caminho é difícil.

Pensar num negócio unicamente como um meio de ganhar dinheiro também limita a nossa visão e impacto. Os negócios mais bem-sucedidos e duradouros são aqueles que têm um propósito maior do que o lucro. Procuram fazer a diferença na vida dos seus clientes e das pessoas com quem trabalham. Este sentido de propósito é o que atrai clientes leais, motiva equipas e constrói uma reputação sólida e positiva a longo prazo.

Há algumas áreas de negócio que a Bárbara dissuada o investimento? Em sentido contrário, quais as áreas onde um negócio mais pode prosperar?

Acredito que um empreendedor consegue fazer um negócio prosperar em qualquer área de negócio – se for inteligente e estratégico. Sabemos que há áreas de negócio que podem estar mais saturadas. Por exemplo, lojas de roupa online há milhares e milhares só em Portugal. O mesmo se aplica a acessórios, agentes imobiliários e esteticistas, entre outros. São negócios em que há uma enorme oferta e, por isso, a competição é feroz.

No entanto, acredito firmemente que o segredo do sucesso reside na diferenciação. Por muito saturada que uma área de negócio possa estar, se trouxermos elementos de diferenciação ao nosso produto ou serviço e até à nossa forma de comunicação, há forma de fazer o negócio prosperar em qualquer mercado. A resiliência, a estratégia, a dedicação e a diferenciação são os pilares que podem transformar um negócio, independentemente da área.

A diferenciação pode assumir várias formas. Pode ser a qualidade excecional dos produtos, um atendimento ao cliente superior, uma marca pessoal forte, a inovação nos processos ou até uma abordagem única nas redes sociais. Por exemplo, uma loja de roupa online pode destacar-se oferecendo peças exclusivas, colaborando com designers locais ou adotando práticas de sustentabilidade. A forma como nos posicionamos e comunicamos o nosso valor único é crucial para nos destacarmos num mercado saturado.

Só dissuado o investimento num negócio quando o empreendedor não está realmente motivado a arregaçar as mangas e fazer o que precisa de ser feito. A falta de motivação e compromisso é o verdadeiro impedimento para o sucesso. Sem a vontade de enfrentar desafios, aprender continuamente e ajustar estratégias conforme necessário, qualquer negócio está destinado a falhar, independentemente da área.

Porém, há áreas de negócio que têm mostrado um grande potencial de crescimento e prosperidade. A tecnologia e a inovação são campos que continuam a expandir-se rapidamente. Negócios ligados à inteligência artificial, à Internet das Coisas (IoT), ao desenvolvimento de software e às fintech estão a atrair investimentos significativos e a transformar mercados. A saúde e bem-estar também são áreas promissoras, com um crescente interesse em soluções de saúde digital, produtos naturais e terapias alternativas.

Além disso, a sustentabilidade é uma tendência que veio para ficar. Negócios que se focam em práticas ecológicas, economia circular e produtos sustentáveis estão a ganhar terreno.

Outro campo em crescimento é o das experiências personalizadas. Seja no turismo, na educação ou no retalho, os consumidores procuram cada vez mais experiências feitas à medida das suas necessidades e desejos. Negócios que conseguem oferecer um toque personalizado, utilizando dados e tecnologias avançadas, estão a prosperar.

No fundo, não é tanto a área de negócio que determina o sucesso, mas sim a abordagem e a execução. Com a combinação certa de paixão, resiliência, inovação e diferenciação, um negócio pode prosperar em qualquer campo.

Ao iniciar um negócio próprio, é natural cometer erros. Eles fazem parte do processo de aprendizagem e crescimento.

Quais são os principais erros que cometemos quando iniciamos um negócio próprio?

Ao iniciar um negócio próprio, é natural cometer erros. Eles fazem parte do processo de aprendizagem e crescimento. No entanto, alguns erros são bastante comuns e podem ser evitados com o devido conhecimento e preparação.

Um deles é a falta de planeamento. Muitos empreendedores começam sem um plano de negócios sólido. Isso pode levar a uma falta de direção e dificuldade em tomar decisões estratégicas.

Outro erro comum é não identificar e entender bem o público-alvo. Conhecer as necessidades, desejos e comportamentos dos seus clientes potenciais é essencial para criar produtos ou serviços que realmente os satisfaçam. A falta de foco no público-alvo pode resultar em estratégias de marketing ineficazes e desperdício de recursos.

Subestimar os custos e superestimar as receitas são erros frequentes. É importante ser realista sobre as finanças do negócio e ter um plano financeiro robusto, incluindo uma reserva de emergência. Além disso, muitos empreendedores não dão a devida atenção à gestão de fluxo de caixa, o que pode causar sérios problemas de liquidez.

Alguns novos empreendedores acreditam que apenas um bom produto ou serviço é suficiente para atrair clientes. No entanto, sem uma estratégia de marketing eficaz, é difícil alcançar e envolver o público. Investir em marketing digital, branding e comunicação é crucial para o sucesso do negócio.

Além disso, outro erro é ignorar a necessidade de adaptabilidade. O mercado está em constante mudança, e a capacidade de adaptação é vital. Muitos negócios falham porque os empreendedores se apegam a uma ideia fixa e não estão dispostos a ajustar suas estratégias de acordo com as novas tendências e feedbacks dos clientes.

E, claro, trabalhar sozinho e não delegar. Tentar fazer tudo sozinho é um erro comum que leva ao esgotamento e a uma gestão ineficaz do negócio. É importante aprender a delegar tarefas e confiar em uma equipa. Além disso, construir uma rede de apoio e procurar mentores pode fazer uma grande diferença – para mim, fez toda!

Num mercado saturado de campanhas de marketing, publicidade, promoção, etc. há espaço para uma marca nova e pequena florescer? Pode dar-nos exemplos?

Num mercado saturado de campanhas de marketing, publicidade e promoção, pode parecer difícil para uma marca nova e pequena encontrar o seu espaço e florescer. No entanto, acredito firmemente que, com a abordagem certa, é possível prosperar. O segredo está em diferenciar-se e em criar uma ligação autêntica com o público-alvo.

As grandes marcas podem ter orçamentos elevados para campanhas massivas, mas as pequenas marcas têm a vantagem da agilidade e da proximidade com os clientes. Daí que seja essencial conhecer profundamente o público-alvo e criar uma proposta de valor única que ressoe com ele. Ao focar-se num nicho específico e nas necessidades reais desse público, uma pequena marca pode criar um forte apelo e lealdade.

Um excelente exemplo de uma pequena marca que conseguiu florescer num mercado saturado é a Someone Said Clothes, que mencionei no meu livro. Esta marca de roupa destaca-se pela sua abordagem única e pela forte ligação emocional que cria com os seus clientes. A Someone Said Clothes oferece peças com mensagens poderosas e inspiradoras. Cada peça conta uma história, e essa narrativa é o que diferencia a marca num mercado repleto de opções. A Someone Said Clothes utiliza as redes sociais de forma brilhante para envolver a sua audiência. Não só promove os seus produtos, mas também partilha as histórias e as causas por detrás das mensagens nas suas roupas. Este conteúdo autêntico e emocional cria uma forte conexão com os clientes, que se sentem parte de uma comunidade com valores partilhados.

Em suma, mesmo num mercado saturado, há sempre espaço para uma marca nova e pequena florescer, desde que consiga encontrar a sua voz única e criar uma ligação autêntica com o público. A diferenciação, a autenticidade e a capacidade de responder às necessidades específicas dos clientes são os pilares para o sucesso. No meu livro "Empreender no Feminino," partilho várias estratégias e exemplos de como pequenas marcas podem criar um impacto significativo e construir um negócio próspero.

Os influenciadores digitais são um bom elemento para catapultar um negócio novo?

Sim, os influenciadores digitais podem ser um excelente recurso para catapultar um negócio novo, especialmente neste contexto em que as redes sociais desempenham um papel crucial na comunicação e no marketing.

Os influenciadores digitais têm seguidores que confiam neles e que se identificam com o seu conteúdo. Colaborar com influenciadores permite que um negócio tenha acesso a um público específico e segmentado, que já está predisposto a interessar-se pelo que o influenciador promove. Quando um influenciador endossa um produto ou serviço, ele empresta a sua credibilidade e confiança à marca. Esse endosso pode ser muito mais poderoso do que a publicidade tradicional, porque é visto como uma recomendação pessoal de alguém em quem os seguidores confiam. Além disso, os influenciadores criam conteúdo de maneira autêntica e que ressoa com seus seguidores. Essa autenticidade pode ajudar a humanizar a marca e a criar uma conexão emocional com o público.

No entanto, é importante selecionar os influenciadores certos para colaborar. Eles devem alinhar-se com os valores da marca e ter um público que corresponda ao público-alvo do negócio. Além disso, a parceria deve ser autêntica e transparente para manter a confiança dos consumidores.

Ainda no campo do digital, há ferramentas que se tornaram obsoletas? No fundo, valerá a pena investir tempo e dinheiro nestas ferramentas? 

Uma ferramenta que se tornou menos relevante nos últimos anos é o uso de banners publicitários tradicionais. Com o aumento dos bloqueadores de anúncios e a saturação visual nos websites, os banners tendem a ser menos eficazes, especialmente quando comparado a outras formas de publicidade digital mais interativas e menos intrusivas, como os anúncios em redes sociais.

Outra área que merece atenção é o marketing por e-mail em massa sem segmentação. Embora o e-mail marketing continue a ser uma ferramenta poderosa, o envio de e-mails em massa sem segmentação adequada pode resultar em baixas taxas de abertura e cliques, além de possíveis marcações como spam. Ferramentas modernas de e-mail marketing que oferecem segmentação avançada e automação são mais eficazes e merecem o investimento.

O uso de software de SEO antigo que não é atualizado regularmente também pode ser prejudicial. As práticas de SEO evoluem constantemente com as mudanças nos algoritmos dos motores de busca. Ferramentas de SEO que não acompanham essas mudanças podem fornecer dados desatualizados ou estratégias ineficazes.

Vale a pena investir tempo e dinheiro em ferramentas digitais que estão atualizadas e oferecem funcionalidades avançadas que atendem às necessidades atuais do mercado. É por isso que no meu livro Empreender no Feminino, abordo a importância de investir em tecnologia e ferramentas que realmente agreguem valor ao negócio, ajudando a otimizar processos e a alcançar melhores resultados.

Quando o fracasso nos bate à porta, qual a melhor atitude que devemos tomar?

O fracasso é uma parte inevitável da jornada empreendedora, e a forma como lidamos com ele pode determinar nosso sucesso futuro. É por isso que abordo a importância de adotar uma atitude resiliente e positiva diante dos desafios e fracassos.

O primeiro passo é aceitar o fracasso como uma realidade e não como um reflexo das suas competências ou valor. Todos os empreendedores, independentemente de quão bem-sucedidos sejam, enfrentam fracassos em algum momento. Ao invés de se culparem, devem usar esse momento para refletir sobre o que deu errado.

Assim, devemos encarar o fracasso como uma oportunidade de aprendizagem. Cada erro que cometemos é uma lição valiosa que pode ajudar a evitar problemas semelhantes no futuro. Identificar as áreas que precisam de ser melhoradas permite desenvolver um plano para aprimorar habilidades e estratégias.

A resiliência é a capacidade de se recuperar rapidamente das dificuldades. É crucial manter uma atitude positiva e continuar a avançar, mesmo quando as coisas não saem como planeado. Acreditar na capacidade de superar os desafios e usar a experiência do fracasso para fortalecer a determinação e resiliência.

Entretanto, recomendo também não enfrentar o fracasso sozinho. Procure o apoio de amigos, familiares, colegas e mentores que possam oferecer conselhos e encorajamento. Participar em comunidades de empreendedores também pode ser uma ótima maneira de partilhar experiências e aprender com os outros.

Por fim, a chave para superar o fracasso é a persistência. Não deixar que um revés defina o caminho. Continuar a perseguir os objetivos com determinação e paixão.