Vinte anos depois da edição original, só agora é que chega a alguns países da Europa "The legacy of Luna: The story of a tree, a woman, and the struggle to save the redwoods", o livro que conta, na primeira pessoa, a história de Julia Butterfly Hill, a modelo norte-americana que, depois de um acidente rodoviário que quase lhe custou a vida, largou tudo e foi viver para cima de uma árvore, a sequóia Luna, como então a batizou, para alertar o mundo para a necessidade de preservar o planeta.
Nascida numa família pobre no Missouri em 1974, tinha 22 anos quando, em 1996, numa altura em que trabalhava como manequim, foi atropelada por um jipe. A recuperação demoraria dois anos. Assim que recebe a indemnização da seguradora a que tem direito, Julia Butterfly Hill toma uma decisão. Vai dar a volta ao mundo e aproveitar para pensar no que quer da vida. Mas, na verdade, não vai muito longe. Chegada a Lost Coast, na Califórnia, uma das primeiras paragens, fica encantada com o que vê.
Assim que avista uma impressionante floresta de sequóias, sente um apelo e, depois de saber que a empresa Pacific Lumber se preparava para abater todas as árvores, os 3% que então ainda resistem à destruição humana, decide de imediato abraçar a causa. Uma das primeiras coisas que Julia Butterfly Hill tenta fazer é integrar um dos grupos ambientalistas da região mas, sentindo-os derrotistas e acomodados, desiste de imediato da ideia. Sabe que, para as conseguir proteger, só depende dela. Decide, então, improvisar um abrigo numa, a Luna, aproveitando uma estrutura de madeira. Durante 738 dias, é lá que vive, a 55 metros de altura.
"O tree-sitting é o último recurso", defende. "Quando uma árvore precisa de ser ocupada para ser protegida, [significa que] a sociedade falhou a todos os níveis. Os consumidores falharam, as empresas falharam e os governantes também falharam", considera a antiga modelo. "Quando tudo falha, a única solução que nos resta é ocupar as árvores", escreve a americana no livro. No dia 10 de dezembro de 1997, sobe para cima da Luna sem ter noção de que, nos dois anos seguintes, não voltará a pôs os pés no chão.
Na altura, a plataforma de madeira pré-existente está a ser ocupada por outros ambientalistas. Julia Butterfly Hill tem de se adaptar ao pouco espaço disponível e a condições de habitabilidade que estão longe de ser as melhores. Com o passar do tempo, os outros desistem. Fica sozinha. A Pacific Lumber tenta imtimidá-la. Os helicópteros passam a sobrevoar regularmente a zona e os funcionários tornam-se também numa presença constante. Ateiam incêndios e explodem napalm para a atingir.
O que mais incomoda Julia Butterfly Hill, que nunca se deixa desmoralizar, é, no entanto, o frio que se faz sentir, sobretudo durante a noite. A tempestado El Niño quase a mata mas a ambientalista não desiste. Refugia-se na oração e aguarda por melhores dias. À medida que o tempo vai passando, a imprensa vai-lhe dando cobertura. A antiga modelo atrai atenções. O grupo Grateful Dead vai tocar para ela. O ator e argumentista Woody Harrelson passou uma noite com ela no abrigo improvisado.
A cantora Joan Baez também sobe a sequóia para a animar. A Pacific Lumber, afetada pela má publicidade, tenta negociar com ela mas Julia Butterfly Hill mantém-se irredutível naquela que muitos veem como uma nova batalha de David contra Golias. Um acontecimento trágico precipita, então, os acontecimentos. Inspirado pela luta da antiga modelo, um ambientalista confronta um lenhador que abate uma das árvores. O homem faz ouvidos de mercador e a sequóia acaba mesmo por ser cortada. Ao cair, a árvore atinge-o, matando-o na hora. Julia Butterfly Hill sabe da história pouco depois mas, apesar de assustada, não desarma.
Depois de vários meses de negociações, chega a acordo com a empresa. Luna e as árvores de uma zona-tampão à volta dela são poupadas mas a ativista compromete-se a nunca mais entrar numa das propriedes pertencentes à companhia e muito menos subir às suas árvores. No dia 18 de dezembro de 1999, dois anos e uma semana depois, Julia Butterfly Hill desce, por fim, da Luna. É uma nova mulher. Em novembro de 2001, a árvore é vandalizada com uma motoserra. A ex-manequim fica em choque.
Atualmente com 46 anos, a ativista corre o mundo, como ambicionava fazer quando chegou a Lost Coast. Participa regularmente em conferências para sensibilizar as pessoas para a necessidade de preservar o planeta. "Podemos fazer a diferença através das ações que empreendemos", continua a acreditar Julia Butterfly Hill. Apesar dos golpes de motoserra, a Luna, uma das muitas árvores milenares daquela floresta, sobreviveu, continuando a ser o símbolo da luta que mudou a vida a uma mulher.
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