Em criança, quando brincava na rua em Tatuí, eram os blocos de madeira que o atraíam. Em 1999, tinha 12 anos, mas já pintava ilegalmente. Foi nessa altura, há pouco mais de 20 anos, que Arlin Graff fez os primeiros grafíti. Hoje, o conceituado artista urbano brasileiro, que pintou há pouco tempo um mural em Algés, nos arredores de Lisboa, vive entre São Paulo e Nova Iorque e alia a arte urbana à defesa do meio ambiente.
"Uso a rua para alertar para alguns problemas e para valorizar a biodiversidade", assume em entrevista à edição de julho da revista Saber Viver, já nas bancas. A consciência ambiental que desde sempre revelou nas obras que foi criando em fachadas de edifícios em cidades como Istambul, Miami, São Petersburgo e Kaohsiung levou uma das marcas mais famosas do Brasil, a Havaianas, a desafiá-lo a desenhar para calçado.
O resultado da parceria, que também envolve a organização ambientalista brasileira IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, são os três modelos de chinelos que integram a coleção de calçado Havaianas IPÊ 2019, ilustrados com um mico-leão-preto, uma onça-pintada e a arara-vermelha, ave que reproduziu na parede do prédio que pintou numa das zonas mais movimentadas de Algés. "É inspirada numa que havia no meu bairro. Brincava com ela todos os dias quando regressava da escola", revela Arlin Graff, antes de uma nova confissão. "Tenho uma história pessoal com estes três animais, que são um símbolo do Brasil e que podem estar em risco", alerta o artista urbano.
"O que procuro [fazer] sempre nos meus trabalhos é educar e alertar as pessoas e, com esta parceria, também o faço", acrescenta ainda o brasileiro, que estudou design industrial e chegou a ser diretor de arte, ainda que nunca tivesse abandonado a rua, a sua paixão maior, como pode ver na galeria de imagens que se segue. "Estou focado em murais porque acho que passam melhor a mensagem que quero transmitir", justifica.
Nos últimos anos, a arte de rua evoluiu consideravelmente. "A qualidade dos artistas transformou muitas cidades em museus a céu aberto e isso acabou por abrir os olhos da sociedade", sublinha Arlin Graff, que gosta de fazer o gosto ao dedo. "Às vezes, ainda pinto qualquer coisa em lugares degradados, mas evito", confidencia. "Pinto a natureza em grandes dimensões para que vejam o respeito que devem ter por ela", argumenta.
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