Bad Asses (2024)

Trabalhámos muito para tirar esta fotografia. Tive a ideia de construir um bar no deserto, no meio do nada mas pensei na composição [visual] durante imenso tempo. Isto é na Namíbia, a quilómetros de qualquer lado. Mas o que era mesmo importante para mim era que o bar estivesse operacional. Precisava de ter profundidade, para se poder colocar garrafas e conseguir ver o bar. Não era só um cenário — o bar tem mesmo profundidade. Tudo nesta imagem conta, se perderes um elemento, como a árvore, perde-se parte da fotografia. Se tirássemos o carro, a imagem não seria a mesma. Não chovia na Namíbia há dois anos e, no dia em que chegámos, choveu e veio uma tempestade quando estávamos a bordo de um avião privado. Há muito poucas estradas por lá, mas o piloto não gostou do tempo portanto aterrámos o avião na estrada principal, na autoestrada, algo que ainda não contei à mãe do meu filho.
Mas essa era a única forma de aterrarmos, porque ele achava que, caso contrário, íamos estar sob muita pressão. Portanto, chegamos a este sítio no dia a seguir a ter chovido pela primeira vez em dois anos. Mas em fotografias como esta há uma ou duas coisas que permitem que se torne numa grande imagem. Acho que é o cor-de-rosa do carro, porque cria contraste. E ela [a Cara Delevingne] é a modelo mais bem paga do mundo mas para mim trabalha de graça em vez de cobrar 200 mil dólares por dia. E depois dividimos os lucros da fotografia se a vendermos. É uma parceria onde confiamos cegamente um no outro. E a chita é real. As chitas nunca atacaram um ser humano na história da convivência entre humanos e chitas. Dos três grandes felinos, os leopardos são perigosos e os leões podem, obviamente, matar-nos mas uma chita nunca o fez. Contudo, se vir uma lebre ou um coelho vai a correr a 20 km/h e mata-o.
Antes de trazermos a chita tivemos de limpar o vale inteiro de qualquer vestígio de vida selvagem. Porque se ela visse alguma coisa, a sessão fotográfica ficaria arruinada. Eu só tinha 10 minutos de luz assim. Estes são 10 minutos de luz. Quando o sol se põe, temos 10 minutos em que a luz não é demasiado agressiva. Se ela visse um coelho, com o custo da nossa produção, que era uma grande produção… Tivemos de empregar imensa gente, locais, Kalahari e Bosquímanos, para retirar toda a vida selvagem do vale inteiro.
Parts Unknown III (2023)

Não sei se já viram o filme Butch Cassidy and the Sundance Kid com o ator Robert Redford, mas ele escreve o prefácio do meu novo livro e esta é a cena em que ele salta para o comboio. Mas a parte mais interessante nesta imagem é que, quando há uma tempestade de neve — e esta foi enorme —, tens uma pequena janela de oportunidade antes que acabe, antes que a neve derreta. A tempestade já tinha passado. Consegue-se ver o céu a abrir, mas tudo isto é neve fresca, acabada de cair. Só tivemos de alugar o comboio. Eu não estava simplesmente lá com o comboio — nós contratámo-lo. Mas este tipo de coisas tem de ser feitas com seis semanas de antecedência. Por isso, foi uma sorte tremenda. Isto aconteceu nos dois dias em que eu tinha contratado o comboio. É estar no momento certo à hora certa.
Por isso, a sorte é a variável mais importante. Isto é sorte, mas às vezes, podemos virar a sorte a nosso favor através de pesquisa e dedicação. Porque, com o tempo, as coisas acabam por equilibrar-se. Há dias muito azarados em que nos questionamos: “Então e o nosso dia de sorte?” Como disse, hoje em dia toda a gente é fotógrafo, mas muitos fotógrafos talvez não trabalhem tão arduamente quanto deveriam ou talvez não sejam suficientemente exigentes consigo próprios.
Cara Cigar (2017)

Esta fotografia [protagonizada por Cara Delevingne] foi o primeiro anúncio comercial feito pela LVMH para a marca de relógios TAG Heuer. Esta fotografia é muito forte com o leão a rugir e depois transformou-se em fine art. Ela está incrível nesta fotografia. Tem os olhos mais incríveis de sempre. Se olharmos aqui [aponta para a fotografia Bad Asses] conseguimos ver que tem um leão tatuado no dedo.
Esta é provavelmente a fotografia mais antiga que aqui está, que foi uma campanha para a LVMH de 2018. Uma das coisas em que penso muito é que não existe permanência em ter uma marca ou um nome desejado. Trabalhei muito para chegar a esta posição, mas uma vez lá, temos de trabalhar ainda mais. Porque se vendermos mais fotografias do que qualquer outra pessoa — e não sei se isso é verdade ou não, mas acho que pode ser — a única direção possível a seguir é sempre a descer. É como se fosses o melhor jogador de golfe do mundo, o único caminho possível é a descer. E isso, por vezes, consegue ser mais motivante do que o caminho a subir, porque sei que, em algum momento, a minha carreira vai descer. E isso significa que tens de trabalhar ainda mais.
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