A obsessão pelo trabalho custou-lhe a vida. A determinada altura, Vincent van Gogh pintava sem parar, não se alimentava convenientemente, fumava muito e dormia pouco. Em menos de nada, sofria de ansiedade, de irritabilidade e de tremores regulares. Internado compulsivamente num hospital pisquiátrico, o pintor viu-se, de um momento para o outro, impedido de beber. Em consequência disso, começou a sofrer de alucinações, um dos sintomas da fase mais grave do síndrome de abstinência de álcool.
Um nova investigação sobre o estado mental do artista, levada a cabo por psicólogos e neurologistas dos Países Baixos, apurou que a bebida e a desnutrição estiveram na origem dos distúrbios psicológicos do pintor, avançando ainda que Vincent van Gogh sofria de depressão e de transtornos de personalidade e que estaria mesmo, nalgumas ocasiões, no limiar da bipolaridade. Terá sido numa dessas fases, em que estava proibido de beber, que teria dado o golpe fatal que o deixou sem parte da orelha esquerda.
Divulgado pela publicação especializada International Journal of Bipolar Disorders, o estudo, que os investigadores garantem ser o mais aprofundado sobre a condição mental do artista até à data, garante ainda que o seu estado psicológico piorou com o agravamento da depressão, o que explicaria o seu suicídio. Vincent van Gogh pôs termo à vida a 28 de julho de 1890, em Auvers-sur-Oise, nos arredores de Paris, em França, com um revólver. Tinha 37 anos. Willem A. Nolen, o investigador do Hospital Universitário de Groningen que coordenou o estudo, entrevistou três historiadores de arte que analisaram cientificamente, em trabalhos anteriores, a correspondência trocada pelo pintor com a família.
Os cientistas tiveram também acesso a relatórios médicos da época e consideram muito pouco provável que Vincent van Gogh sofresse de esquizofrenia ou de porfiria, uma doença hereditária causada por uma anomalia no metabolismo das porfirinas, moléculas orgânicas. "Ele teve problemas psicológicos desde a juventude", refere o investigador. "Apesar de ter pintado mais de dois milhares de quadros, só vendeu um em vida e sempre teve relações complicadas com as mulheres", recorda ainda Willem A. Nolen.
"O alcoolismo agravou a sua consição psicológica", garante o cientista. "Não queria deixar de sublinhar que não foi apenas um grande e influente pintor. Foi também um homem inteligente, com uma dose enorme de força, resistência e perseverança, que só deixou de pintar durante as crises psicóticas mais graves", refere o estudioso. A obra do artista pode ser admirada na capital portuguesa, na exposição "Meet Vincent van Gogh", patente ao público no Terreiro das Missas, em Belém, até ao dia 3 de janeiro de 2021.
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