Deitei-me na cama dele um bocadinho.

- Estás triste, filhote? - eu bem o vira a roer as unhas durante o jogo.

- Não mãe, é que eu tenho uma teoria, sabes?

- Conta!

- Não porque tu vais logo escrever uma crónica sobre a minha teoria!

Prometi-lhe solenemente que não o faria e ele revelou-me como encara as derrotas. Fiquei feliz ao perceber que o mau resultado do Benfica não lhe tinha partido o coração nem lhe iria tirar o sono.

Gosto do Benfica. Se me perguntarem de que clube sou, é claro que respondo "Benfica". Mas o "ser de", neste caso, é uma construção gramatical perniciosa e enganadora. A verdade é que sou simpatizante de um clube, de um partido, de uma religião, e por aí fora...mas nem o clube nem o partido nem a religião me possuem; eles não me definem, não me constroem, não me pagam as contas e nem sequer, se analisarmos bem os factos, me dão o que quer que seja. Pertenço, sim, a um país e a uma família. Quanto a "ser de", apenas sou de mim, tanto quanto alguém pode ser de (e para) si mesmo. Quase aposto que nunca me verão chorar por um clube, partido ou religião. Simpatizar é saudável, mas ser fanático apenas indica que a nossa vida é tão vazia e fútil que tem de ser preenchida com emoções de cegueira.

O Benfica perdeu, paciência. Mas chorar baba e ranho por isso? Afogar-se em tristezas profundas por algo que não tem qualquer importância? Não contem nem com a minha solidariedade nem compreensão. Fico só a perguntar-me como seria melhor a sociedade se toda a energia dedicada a este tipo de situações fosse encaminhada para o crescimento intelectual e emocional de cada indivíduo. Fico apenas feliz por saber que os meus filhos também não sofrem por isto.

Ana Amorim Dias

Biografia