Não sei se existem portos completamente seguros. Sei que há portos nos quais conseguimos sentir-nos protegidos, mas daí a serem capazes de nos proteger com total eficácia das mais fortes tempestades, já tenho as minhas dúvidas.

 No fundo considero os portos muito seguros, os mais inseguros de todos. É que os barquinhos existem para navegar e não para ficar amarrados nos portos. Quanto mais seguros nos sentimos, menos vontade temos de nos fazer ao mar e cumprir as missões das nossas existências. Quanto mais nos habituamos a não enfrentar ventos e vagas, menos nos fortalecemos; mais a inércia se nos apodera das velas e o caruncho das madeiras.

"Small boat, deep sea" (pequeno barco, profundo mar) disseram-me um dia. Somos pequeninos e a vida é enorme, bem sei.  Mas temos a obrigação de garantir que toda a segurança sentida em qualquer dos nossos portos seguros, não se transforma em medo de navegar. Porque a maior insegurança é correr o risco de chegar ao fim e perceber que não vivemos.

Ana Amorim Dias
Biografia