Sento-me no sofá com o prato do jantar em cima de um tabuleiro.
- Tomás, dá-me o comando, meu amor.-
- Não.-
- Desculpa!?!-
- Oh mãe!! Estava a ver isto!-
- Vá, dá-me lá o comando!-
- Se me tiras o comando fujo de casa!-
- Rápido, rápido!! Dá-me o comando já!-
Começamos os dois a rir. Ele muda a estratégia da sua bem humorada ironia.
- Se me deixares ficar com o comando é que prometo que fujo de casa...-
- Ah bom... Nesse caso...-
Passam dois minutos e volto ao ataque.
- Oh Tomás! Eu não vou jantar a ver este programa!-
- Certo, mãe. Então pousa o prato e não jantes! - Responde muito prontamente.
Rebentamos de novo a rir e passa-me finalmente o comando.
- Sabes mãe? Tomei uma decisão.-
- Conta lá qual. - algo me diz que não foi a de estudar mais.
- Não vou gastar mais dinheiro em porcarias e vou guardar e juntar todo o dinheiro possível para comprar um Ferrari quando for grande.-
- Parece-me muito bem.-
- Estás a falar a sério?-
- Obviamente.-
- A tua resposta foi tão diferente da do pai... Ele disse que eu até podia ir já comprar um, daqueles de brincar.-
- O pai se calhar foi apanhado de surpresa e não pensou bem nos teus planos, Tomás.-
- Então achas bem?-
- Claro que sim, meu anjo. Agrada-me imenso que tenhas objetivos de vida, mesmo que o objetivo seja um Ferrari...-
- Então quer dizer que achas que é possível?-
- Tudo o que nos atrevemos a sonhar é possível, filhote. Desde que estejamos preparados para trabalhar e lutar mesmo a sério. Se queres saber a verdade acho que podes muito bem vir a ter um Ferrari, ou até dois. Só quero que não te esqueças que eles não caem do céu e que os sonhos às vezes mudam de forma.-
- Mudam?-
- Sim. E os melhores sonhos são implicam coisas materiais, garanto-te!-
Deixo-o com um atarantado brilhozinho nos olhos.
- Filho? Só mais uma coisa: quando tiveres o teu Ferrari e eu andar nele prometo-te que o vou deixar tão sujo e desarrumado como tu e o teu irmão deixam o meu carro!-
- Oh mãe...-
Ana Amorim Dias
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