Gerir uma casa. Gerir filhos. Gerir tempo. Gerir emprego. Ou empregos. E tudo sem dramatismo, eis a grande missão da mulher em 2012 num país emergido em dívidas, desemprego e cortes de subsídios.

No âmbito da Dia Internacional da Mulher urge um olhar mais atento sobre a forma como as mulheres estão a pôr as mãos na massa para lutar contra uma crise que se instalou nas suas casas.

Afinal, qual o seu papel no meio deste caos?

A Inês é dos melhores exemplos femininos para responder a esta questão: “Trabalhava como secretária numa empresa de construção e o meu marido subitamente recebeu a notícia de que iria ser despromovido. As nossas contas que já eram à conta, sofreram um abalo com duas crianças no infantário e uma terceira já na primária. Fizemos um orçamento familiar e decidi despedir-me. Parece incoerente não é? Mas quando os números estão no papel tudo faz sentido. Tirámos os gémeos do infantário para onde ia praticamente todo o meu ordenado, estou em casa a cuidar deles e faço comida para fora. Todos os dias consigo ter marmitas e encomendas de bolos caseiros que me dão um jeito enorme no orçamento. Para além de que passo mais tempo com os pequenos, claro!”.

Não foi uma decisão fácil. Não é num abrir e fechar de olhos que a Inês decide abdicar da sua carreira. “É preciso uma grande dose de amor, mas sobretudo de bom senso. Melhores dias virão com certeza!”, remata. Já Ana Sofia lidou com o desemprego do marido de uma forma bem diferente: “Transformei-o em dono de casa e dupliquei o meu horário de trabalho. Tenho dois part-times e à noite ainda estudo. Não vou abdicar da faculdade, agora que estou no último ano só porque alguém administrou mal o país. A minha vida quem vai administrar sou eu e o meu marido tem-me apoiado muito. Se, entretanto, ele arranjar emprego, voltarei a ter só um part-time, pois estudar Direito não é fácil. Vamos ver o que o futuro nos reserva!”.

Carla é psicóloga e refere um dado importante nesta nova postura da mulher contemporânea: “Ela já se interessa por Economia e não somente pelas alterações de preços nos supermercados. A mulher está mudada. Mesmo a que é doméstica já tem uma visão diferente das suas funções. Já gere o dinheiro, já lida com promoções e cartões de descontos tal qual uma empresária com a sua empresa”.

A gestão da casa assumiu uma importância primordial nos dias que correm em que é preciso fazer esticar ao máximo o budget familiar: “Tento rentabilizar o dinheiro de duas formas: primeiro aproveito as promoções e segundo tento ser mais criativa com as sobras das refeições”, refere Joana, dona de casa . O alerta foi lançado pelo marido, mas nada que Joana já não soubesse: “Antes dele me avisar para termos cuidados com os excessos, já eu estava preparada, pois as notícias chegam-nos de todos os lados. Ora é a televisão, ora é uma vizinha que ficou desempregada, o senhor do café que teve de fechar portas…só não vê quem não quer!”

A psicóloga adverte também para o fato de esta crise despoletar outros problemas conjugais. “Há quem não saiba lidar com esta mudança de vida. Há homens que não lidam bem com o fato de estarem dependentes da mulher e isso só vem complicar o que, por si só, já não é uma situação fácil. O meu conselho é que nesta fase, o importante é manterem-se unidos. Não interesse quem paga o pão, a casa, o carro…interessa é sobreviver e deixar a tempestade passar, pois a bonança vem aí”.