Johann Gottfried Galle, astrónomo alemão do século XIX, deixou o seu nome imortalizado para a ciência em 1846. Em setembro daquele ano, Galle identificou o planeta Neptuno. Isto, com base em cálculos anteriores do astrónomo francês Urbain Le Verrier. Para a posteridade, o germânico também ficou com o seu nome associado a uma curiosidade geológica na superfície do quarto planeta do Sistema Solar.

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Longe, em Marte, a superfície do “planeta vermelho”, exibe uma antiquíssima zona de impacto de um meteorito. Ali, há cerca de 3,5 mil milhões de anos, o embate da massa celeste contra a superfície árida do planeta formou uma ilusão ótica quando observada à distância, nomeadamente a partir de sondas espaciais.

Com um diâmetro de aproximadamente 154 km e nas proximidades do equador de Marte, a cratera Galle é apelidada de “cratera do rosto feliz”, numa alusão a um smiley.  Na realidade, o sorriso geológico de Galle faz-se da disposição semicircular de uma cadeia de montanhas, num jogo de luz e sombra com duas crateras menores no interior da cratera maior. Também ali, se ergue a mais de 5 Km de altura, uma montanha conhecida como "Monte Sharp", a ondular no terreno para formar o sorriso maroto de Galle.

Há um rosto sorridente a piscar o olho à Terra. Sabe onde “habita” Galle?
Há um rosto sorridente a piscar o olho à Terra. Sabe onde “habita” Galle? créditos: Wikimedia Commons

Este fenómeno é um exemplo de pareidolia, ou seja, o cérebro humano tende a reconhecer rostos em objetos inanimados.

No que toca à exploração científica, Galle é considerada um dos locais mais promissores para a busca de evidências sobre a habitabilidade de Marte no passado. Em 2012, o rover Curiosity da NASA pousou na cratera com o objetivo de estudar a geologia do lugar e procurar sinais de água num passado remoto. A formação de camadas sedimentares dentro da cratera sugere que, após o impacto inicial, esta foi preenchida por sedimentos que provavelmente se depositaram em ambientes aquáticos, como lagos ou sistemas fluviais. Ponto de partida para que o Curiosity explore aquele território e analise as rochas sedimentares ali presentes. No passado, as condições poderão ter sido favoráveis ao surgimento de vida microbiana.