A estrela 72 Tauri mal se distingue a olho nu. Encontra-se na constelação de Touro, a aproximadamente 420 anos-luz de distância da Terra, e é uma estrela quente, de luz azul, cujo tamanho é pouco mais do dobro que o do nosso Sol. À primeira vista, a verdade é que não há nada que faça com que esta se destaque entre a enorme massa de luzes celestes.

No entanto, juntamente com outras 12 estrelas, foi a protagonista de uma revolução científica. A 72 Tauri aparece como a estrela número dez na tabela um de um artigo especializado no qual o astrónomo britânico Arthur Eddington apresentou as suas observações do eclipse solar que se produziu a 29 de maio de 1919.

Para isso organizou duas expedições: uma a Sobral, no Brasil, e outra a São Tomé e Príncipe, em frente do litoral ocidental africano. Queria estar o mais preparado possível e não perder de forma alguma o eclipse solar devido ao mau tempo. Num desses dois lugares, e de forma ideal em ambos, os seus colaboradores e ele esperavam poder efetuar observações que mudassem radicalmente o mundo da ciência.

Brilhantes ou ténues, próximas ou distantes, famosas ou anónimas, grandes ou pequenas, mortas ou ainda por nascer, encarnadas, amarelas, azuis e brancas (mas, nunca verdes), o astrónomo Florian Freistetter reuniu todos estes corpos celestes no seu livro A História do Universo em 100 Estrelas (edição Planeta de Livros). O autor apresenta-nos um conjunto de cientistas como Isaac Newton ou James Bradley, Dorrit Hoffleit, que contou pela primeira vez as estrelas, ou Annie Jum Cannon que revolucionou o modo como as classificamos.

Tratava-se de corroborar a teoria da relatividade geral de Albert Einstein. Em 1905, Einstein tinha publicado a sua teoria da relatividade especial, com a qual tinha deixado para trás a física clássica. A ampliação, que foi publicada em 1915, prometia uma revolução ainda maior: Einstein apresentava ao mundo um Universo deformável. Antes dele, considerava-se que o espaço e o tempo eram inalteráveis, quase como um cenário no qual as leis da física podiam agir. Na sua teoria especial demonstrou que isso não era assim, pois o conceito de espaço e de tempo é diferente e muda segundo o observador em função da velocidade à qual este se mova nesse espaço-tempo. Einstein defendia que o espaço não é só um pano de fundo, mas sim algo passível de influência. Segundo o físico, toda a massa do Universo curva o espaço existente e, para dizer a verdade, fá-lo quanto maior for a massa. Em contrapartida, todos os objetos do Universo são influenciados ao moverem-se por estas curvaturas.

A força que entendemos como gravitação ou atração na verdade não é mais do que o efeito que se pode apreciar da curvatura do espaço-tempo por grandes massas. Por isso, a Terra, por exemplo, não se move à volta do Sol por estar agarrada por uma força como se se tratasse de uma corrente invisível, mas sim porque o Sol curva o espaço à sua volta e a Terra não consegue evitar seguir esta curvatura ao mover-se.

Trata-se de uma afirmação espetacular e revolucionária, mas também difícil de demonstrar. E, no entanto, essa era precisamente a proposta de Eddington. É que, de acordo com a teoria de Einstein, os raios de luz também deviam seguir a curvatura do espaço. Por isso se, por exemplo, o raio de luz de uma estrela longínqua passar muito perto do Sol, a curvatura do espaço causada pelo mesmo dobrá-lo-á um pouco. Assim, temos a sensação de que a sua posição no céu se desloca ligeiramente. Mas o Sol brilha demasiado para que possamos observar estrelas nas suas proximidades. A não ser que se dê um eclipse solar. Desta forma, Eddington calculou que estrelas se deviam encontrar perto do Sol quando, a 29 de maio de 1919, este sofresse o eclipse. A sua intenção era observar estas estrelas, medir as suas posições e depois compará-las com as posições já conhecidas. Se Einstein tinha mesmo razão, durante o eclipse solar essas posições desviar-se-iam ligeiramente das que eram conhecidas e, na verdade, fá-lo-iam com um valor muito determinado.

a história do universo em 100 estrelas
créditos: Planeta de Livros

As observações não foram fáceis. As nuvens ameaçavam impedir a visão e o clima danificava o equipamento. No entanto, acabaram por conseguir obter a quantidade suficiente de imagens boas da maior parte das estrelas para poderem demonstrar a tese de Einstein.

Efetivamente, a 72 Tauri tinha mudado de posição e, para dizer a verdade, era isso que se esperava. As restantes estrelas também confirmaram a teoria da relatividade geral. Os meticulosos cálculos de Eddington (que nos anos seguintes foram comprovados e confirmados repetidamente) demonstraram que, na verdade, as massas curvam o espaço. Ou, segundo as palavas de Eddington: “Os resultados são inequívocos quanto à produção de uma deflexão da luz ao passar perto do Sol e de que este desvio corresponde ao valor estabelecido pela teoria geral de Einstein”.

Os meios de comunicação do mundo inteiro noticiaram a bem-sucedida expedição e a espetacular confirmação da teoria da relatividade geral. Albert Einstein conseguiu a fama internacional e converteu-se em símbolo do génio científico. Graças à 72 Tauri…