A estrela 34 Tauri não existe. Apesar disso, com a sua observação, o astrónomo britânico John Flamsteed podia ter conquistado a fama internacional. Se naquela altura tivesse sabido o que na realidade estava a ver no firmamento…

No início do século XVIII, o astrónomo real trabalhava no Observatório de Greenwich na conceção de um grande mapa celeste, para o qual devia registar sistematicamente a abóbada celeste e incluir num catálogo todas as estrelas e as suas posições. Para dizer a verdade, tratava-se do ponto de partida ideal para novas descobertas.

Uma das estrelas que acrescentou ao seu catálogo recebeu o nome de 34 Tauri. No entanto, não se tratava de nenhuma estrela, mas sim do planeta Úrano, cuja existência ainda era desconhecida naquela altura. Úrano gira à volta do Sol para lá da órbita de Saturno. Não se distingue praticamente a olho nu, e até com a ajuda de um telescópio mal se pode distinguir de uma estrela. Contudo, ao contrário das verdadeiras estrelas, no decorrer de alguns dias a sua posição varia de forma considerável.

Brilhantes ou ténues, próximas ou distantes, famosas ou anónimas, grandes ou pequenas, mortas ou ainda por nascer, encarnadas, amarelas, azuis e brancas (mas, nunca verdes), o astrónomo Florian Freistetter reuniu todos estes corpos celestes no seu livro A História do Universo em 100 Estrelas (edição Planeta de Livros). O autor apresenta-nos um conjunto de cientistas como Isaac Newton ou James Bradley, Dorrit Hoffleit, que contou pela primeira vez as estrelas, ou Annie Jum Cannon que revolucionou o modo como as classificamos.

É compreensível que, nas suas primeiras investigações, Flamsteed não tenha conseguido chegar à verdadeira natureza deste ponto luminoso. Entre as observações passaram vários anos e, pelo menos, percebe-se que não lhe chamasse a atenção o facto de se tratar sempre do mesmo objeto a mudar de posição no céu. Além do mais, o seu telescópio não era suficientemente bom para lhe permitir ver os planetas como pequenos discos: ele só via um ponto que parecia igual a todos os outros que havia no céu.

Contudo, em março de 1715, quando Úrano apareceu três vezes no campo visual do seu telescópio durante uma semana, a verdade é que teria de se ter apercebido de que algo se movia diante do fundo de estrelas. Mas isso não aconteceu e, como ao efetuar a análise dos dados que possuía não foi suficientemente cuidadoso, não conseguiu ganhar a fama de ser ele a descobrir um planeta novo. Esta trágica sorte é partilhada com mais alguns astrónomos que estiveram prestes a descobrir Úrano, como o alemão Tobias Mayer, que também se deu conta da existência do planeta, mas não soube o que tinha à sua frente.

a história do universo em 100 estrelas
créditos: Planeta de Livros

Isto só se conseguiu 66 anos depois com o astrónomo britânico Wilhelm Herschel. A 13 de março de 1781, quando observava do seu jardim a constelação de Taurus, reparou num ponto luminoso que não devia estar ali. Herschel construiu o seu próprio telescópio e fê-lo melhor do que os outros. Com ele pôde perceber que aquilo não era uma estrela. Num primeiro momento pensou que o objeto era um cometa, mas os cálculos dos seus colegas não demoraram a demonstrar que se devia tratar de um planeta que dava a volta ao Sol a uma distância 19 vezes maior do que a da Terra.

Esta descoberta causou furor. Até então só se conheciam os seis planetas que se podem observar a olho nu: Mercúrio, Vénus, a Terra, Marte, Júpiter e Saturno. Ninguém imaginava que pudessem existir mais corpos celestes a orbitar à volta do Sol. A descoberta de Úrano por Herschel duplicou de repente as dimensões do sistema solar conhecido e fez com que as pessoas abrissem os olhos e se apercebessem de que tudo era possível na astronomia.

Lá fora ainda aguardavam muitos mundos novos por descobrir, e o planeta de Herschel foi apenas o princípio. Descobriram-se os asteroides, Neptuno e Plutão e até os planetas de outras estrelas. E se John Flamsteed tivesse sido um pouco mais meticuloso, essas descobertas teriam podido começar 66 anos antes.