Quando um homem está a torcer pelo seu clube, qualquer antropólogo, psicólogo ou cardiologista pode fazer inúmeros estudos e chegar às mais curiosas conclusões, mas talvez também não consiga decifrar o enigma que me atormenta: será que os homens se transformam, ao ver futebol, em seres vindos do planeta dos Urros??
Ninguém me tira da ideia que sim. O exaustivo estudo ( como não olho para o ecrã, acabo por reparar em cada expressão facial e corporal e analisar cada som) de uma vida inteira a ficar de boca aberta perante os estranhos rituais comportamentais dos machos a ver a bola, tem-me revelado que até os mais inteligentes e bem preparados se metamorfoseiam em seres algo primitivos que estão a meio caminho entre o Tarzan e os seus amigos gorilas.
Os F…s., C…..s e outros bogalhos, jorram numa catadupa que noutras situações não se ouve. Em campo todos são, numa ou outra altura, filhos de alguém. Mas os urros e grunhidos, sofridos e guturais, chegam a fazer-me temer pelas cordas vocais dos infelizes sofredores. E o que dizer dos saltos do sofá que me fazem ir depois, à sucapa, verificar se debaixo das almofadas há molas de extrema potência?
Outros clássicos, de refinado gosto, são as palmadas dadas na perna de quem está ao lado ou os momentos de beleza em que se atiram ao chão, de joelhos, numa tentativa vã de deslizar na carpete como os jogadores deslizam na relva após marcar algum golo.
E por falar em golos, como poderei encontrar palavras para descrever o momento em que a equipa pela qual sofrem marca o providencial golo? Os saltos, gritos e abraços, que se juntam à vermelhidão dos esbaforidos rostos, completam um quadro quase irreal que me revelam que os homens, por mais que não venham do tal planeta dos Urros, têm o gene do grunhido futebolístico.
Muito mais há a dizer sobre tão interessante temática, pelo que me proponho a, num futuro próximo, visionar jogos nas tascas, para vos apresentar mais conclusões.
( continuará….)
Ana Amorim Dias
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