- Sabes quando é que sou mais feliz?- perguntei sem esperar resposta.- ... quando escrevo.
Sim, eu ia mesmo explicar-lhe o que é, para mim, escrever.
- Imagina que te ligavam a uma máquina mágica. E, com essa ligação, podias ver tudo e sentir tudo e compreender tudo com a nitidez mais cristalina que possas imaginar.-
Do outro lado o silêncio. Continuei.
- Imagina outro plano da existência. Onde tudo faz sentido e não sentes mais nada a não ser uma paz e uma felicidade absolutas. Escrever é isto; não é comparável a nada! É por isso que não entendo aqueles escritores que têm "brancas" e sofrem muito durante o processo criativo. Dá ideia que as palavras lhes saem com uma dose grande de sofrimento e elevadas quantidades de "papel rasgado". Somos algo quando aquilo que revela o que somos nos sai sem esforço e com alegria. Sei que sou escritora porque escrevo em qualquer lugar, sobre o que quer que seja, com qualquer que seja o ruído exterior...porque não estou ali, estou em mim, na alegria total.
- Tu foste escolhida! - respondeu-me no fim.
Todos fomos.
Todos fomos escolhidos. Existirmos é a prova disso mesmo. Eu só tenho a sorte de o ter entendido um pouco mais depressa.
Ana Amorim Dias
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