Às vezes, surge a questão inevitável: "Afinal, quem sou eu?". Esta pergunta, que pode parecer simples, carrega uma profundidade quase infinita. O verdadeiro “eu” é uma entidade fugaz, sempre à procura de sentido, de propósito, de um ponto de ancoragem. E se houvesse uma máquina do tempo, será que eu, ao encontrar as versões mais jovens de mim mesma, iria gostar de mim? Iriam as escolhas e os erros cometidos no passado despertar orgulho ou frustração?

É curioso refletir sobre esta ideia. Quando olhamos para trás, é fácil sentir-nos distantes de quem éramos, por vezes até julgando a pessoa que fomos com os olhos críticos de hoje. Contudo, é nesse processo que surge a importância do auto-perdão. O "eu" de ontem não tinha as ferramentas e o conhecimento que o "eu" de hoje possui. O julgamento severo do passado é, muitas vezes, um exercício cruel, porque esquecemos que cada versão de nós era o melhor que conseguíamos ser naquele momento específico.

O auto-perdão é, sem dúvida, uma das maiores dádivas que podemos conceder a nós mesmos. Martirizarmo-nos pelos erros do passado é uma armadilha, um círculo vicioso que impede o “eu” presente de florescer. É essencial abraçar a falibilidade humana, reconhecer que cada erro faz parte de um caminho de crescimento. Se a intenção é ética e se o esforço é verdadeiro, a aceitação dos erros é o que nos permite evoluir, é o que nos dá a capacidade de construir um “eu” mais forte e consciente no presente.

Mas como se faz este caminho de perdão? Como aprendemos a viver com o “eu” de hoje sem as sombras do “eu” de ontem? Talvez o segredo esteja em entender que o perdão é um processo, não um evento isolado. Requer que nos permitamos sentir, refletir e, eventualmente, deixar ir. O perdão começa quando aceitamos que não podemos mudar o passado, mas que podemos moldar o futuro, e que o “eu” que hoje respira é um reflexo de tudo o que aprendemos e superámos até agora.

No final, o “eu” e o auto-perdão estão intrinsecamente ligados. Não há crescimento sem perdão, e não há sanidade mental sem essa aceitação profunda de que errar faz parte do processo. A vida não nos entrega um manual de instruções a seguir. Em vez disso, oferece-nos experiências e a oportunidade de aprender com elas. E, no fundo, talvez seja este o verdadeiro sentido da nossa existência: evoluir constantemente e, através do nosso comportamento, procurar a paz no que somos a cada momento.

Por vezes pergunto-me: se tivesse a oportunidade de voltar atrás, numa máquina do tempo, será que gostaria do que iria encontrar naquele passado? A resposta, talvez, não seja tão simples. O “eu” de ontem fez o que podia, com o que tinha. E hoje, com mais ferramentas e uma maior compreensão, aceito que a melhor forma de viver é perdoando esse “eu” antigo e dando ao “eu” presente a oportunidade de ser pleno, livre e em constante crescimento.

A vida é como um televisor antigo a preto e branco: as imagens do passado ficam fixas e não podem ser rebobinadas. Tal como não podemos voltar atrás e alterar o que já vimos, também na vida não podemos mudar os momentos que ficaram para trás. A vida avança apenas para a frente, e cabe-nos aceitar o passado, sabendo que o presente é onde encontramos a força para moldar o futuro. Não podemos mudar o que passou, mas podemos decidir como queremos colorir o que está por vir.