Eurico tinha uma mão demorada e uma mente complexa. Tinha nascido prematuro. Catarina mostravaalguma agressividade. Mas não era agressividade, era a adaptação a coisas que eram diferentes. Mariahera uma menina refugiada. Refugiada foi o adjetivo que reconheceu como seu nome. Alice tinha uma imaginação fértil. Preferia confraternizar com os seus génios imaginários. Margarida era invisual. Precisou dos sons, depois das mãos, agora das palavras para se encontrar. O Rui tinha de ser levado pela mão, de perto, para fazer a maioria das coisas. Era autista. A Inês tinha síndrome de Asperger. Estava entre doismundos, o dela e o dos outros. Abib era muçulmano. Não poderia explicar facilmente o tamanho das coisas de uma religião tão diferente. Vera tinha uma forma especial e rara de ver o mundo. A verdade é que tinha muitos “eus” dentro de si.
Estas são algumas das personagens que Sandra Figueiredo, especialista doutorada em Psicologia, traz para o seu livro de contos De Porta Aberta Para o Mundo (edição Pactor). Obra que, nas suas 148 páginas, apresenta ao leitor um inventário de “personagens confrontadas com dificuldades ou formas especiais de ser que não escolheram, mas a quem a força de vontade e o meio irão determinar uma metamorfose de sentimentos e de competências”, assim lemos na apresentação de um livro recomendado como medida de suporte à aprendizagem e à inclusão
Cada um dos 13 contos, acompanhado de ilustrações em estilo manga, representa a história de uma criança ou adolescente com uma sensibilidade distinta, uma dificuldade de aprendizagem, uma necessidade de educação específica ou um obstáculo criado por uma circunstância problemática, das que intemporalmente assolam o mundo.
A autora apresenta-nos no seu livro temas que “resultam de uma investigação científica recente e validada sobre os casos de distúrbios e de problemas de aprendizagem (cognitivos e sobretudo emocionais) mais frequentes. Uma obra desenvolvida com a finalidade de apresentar soluções didáticas e lúdicas para os profissionais de educação incluírem em contexto de sala de aula, informar e entreter”, lemos na sinopse ao título.
Entre os conteúdos abordados em De Porta Aberta Para o Mundo encontramos a Perturbação Psicomotora e Atraso Global do Desenvolvimento, Esquizofrenia, a Multiculturalidade e Perceção das Crianças Refugiadas, a Cegueira, a Perturbação do Espetro de Autismo, a Violência Doméstica e a Tolerância Religiosa.
Sandra Figueiredo é licenciada em Ensino (Português, Latim e Grego), Doutorada em Psicologia pela Universidade de Aveiro e com Pós-Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), além de pós-graduações nas áreas da Neuropsicologia e Jornalismo Televisivo. É Professora Associada de Psicologia na Universidade Autónoma de Lisboa e Investigadora Científica da FCT e do Centro de Investigação em Psicologia (CIP). Autora de obras literárias e pedagógico-científicas, é também colaboradora no meio televisivo e na imprensa escrita.
O livro chega aos escaparates com o preço de 13,31 euros.
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