- Ai mãe... Está tão escuro...-
Seguíamos de carro por uma estrada isolada, o João e eu. Liguei os máximos quase instintivamente, para ver se lhe passava.
- Deixa-me explicar-te uma coisa, amor: a noite é escura, é mesmo assim, mas tudo o que vês de dia está igual durante a noite. Só que não se vê porque não há luz, percebes?-
Senti-o a relaxar um pouco ao medir a veracidade das minhas palavras. Mas não continuei a verbalizar os meus pensamentos.
Quantas pessoas vivem na escuridão mesmo em plena luz do dia? A confiança e ausência de medos tolos lança tanta luz à noite como os medos infundados escurecem os mais luminosos dias. Não é uma divagação, é um facto. Há quem se desloque na noite com olhos felinos, vendo nas sombras difusas exatamente o que lá está e não inexistentes monstros. E há quem atravesse a luz com o esmagador e negro peso dos fantasmas nascidos no seu interior.
Caminho por vezes às escuras, mas uso o passo firme e confiante da minha luz interior, a mesma que sabe que os mais perigosos demónios são os que a nossa imaginação se permite deixar entrar.
Ana Amorim Dias
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