“Um dos grandes mistérios da humanidade continua a ser a razão pela qual se experimenta um singular e incomparável encantamento depois de se marcar uma tarefa como superada ou resolvida, em suma, ao fazê-la”, lemos na apresentação do mais recente título dos autores d’O Livro das Decisões. Em O Livro das Estratégias (edição Marcador) Mikael Krogerus e Roman Tschäppeler, oferecem-nos um manual para pormos mãos à obra, ou seja, para desempenharmos as tarefas até ao fim.
“Entre as mais gratificantes sensações que conhecemos está o orgulho de ter cumprido qualquer coisa que havia a fazer. Quer se trate de lavar a loiça ou entregar a declaração de IRS, fazer uma apresentação a um cliente ou ter aquela conversa que tardava e esclarece todas as dúvidas, tanto faz que sejamos estagiários ou tenhamos assento no conselho de administração: a sensação de ter concluído algo bem feito encoraja-nos a cumprir uma outra tarefa, depois outra e a seguir mais outra”, escrevem os autores na introdução ao livro.
Uma obra que acompanha o leitor nos momentos de entusiasmo, rumo à concretização da tarefa, mas também para facilitar nos momentos mais difíceis. Os autores reúnem métodos, teorias e truques, cuja aplicabilidade no mundo do trabalho em que nos movemos - digital, fragmentado e remoto – foi testada.
Mikael Krogerus, nascido em Estocolmo, trabalha desde 2009 como jornalista freelancer para Der Freitag, Brand Eins e o NZZ, entre outros meios.
Roman Tschäppeler, nascido em Berna, fundou em 2003 um estúdio, guzo.ch, onde produz fimes e campanhas e aconselha empresas no desenvolvimento de ideias.
D’O Livro das Estratégias selecionamos o excerto abaixo:
Como começar coisas e levá-las até ao fim
“A vida é um estaleiro de obras”. Eis a tradução do título de um filme alemão de 1997, Das Leben ist eine Baustelle, cujo tema é, precisamente, que na vida nunca nada corre como estava planeado, mas que ainda assim vale a pena viver. Ideia semelhante pode aplicar-se aos projetos em que nos envolvemos. Raramente correm como se pensava, mas a verdade é que sem projetos nada se consegue planear e levar a cabo. Outra certeza ainda: seja qual for a profissão que se escolha, mais cedo ou mais tarde haverá que pôr de pé e “encarrilar” um projeto. Mas que quer isso dizer?
Antes de mais, cada projeto é diferente, mas todos se regem pelos mesmos parâmetros: com que recursos (financeiros, intelectuais, pessoais) se consegue, num dado espaço de tempo, alcançar um dado nível de qualidade? Este livro proporciona-lhe diversas estratégias para conseguir harmonizar esses três parâmetros, sendo que todas elas se orientam aproximadamente pelo plano seguinte, que é posto em prática na gestão de projetos e que consiste em sete etapas.
1. Qual é a minha intenção?
É possível que tenha sido encarregue de um projeto, ou então que esteja a trabalhar de modo autónomo — seja qual for a situação, precisará de começar por uma ideia. São muitas as fontes das quais essa ideia pode brotar: de conversas com outras pessoas, de leituras aprofundadas, de longos passeios, de workshops intensos, de um profundo tédio, da revisitação de ideias antigas, do sono. As ideias chegam sem que as chamemos ou talvez até quando menos andávamos à procura. Se lhe ocorrer uma boa ideia, tome nota dela, fique a remoê-la durante algum tempo — mas não precisa de tratar logo de avaliá-la. Nesta fase, os métodos que lhe poderão ser úteis são o brainstorming, a burstiness e a avaliação de ideias.
Tudo demora mais do que o inicialmente planeado. Algumas coisas são mais difíceis do que se pensava. Muitas coisas não são tão más como se antecipava.
2. Qual é, ao certo, a minha intenção? E porquê?
Dever-se-á distinguir entre a ideia e o objetivo. “Quero montar um negócio de comércio de pimenta» é uma ideia. Um objetivo poderá ser: “Até ao próximo ano, gostaria que o restaurante XY juntasse a minha pimenta aos seus pratos que levam queijo”. Um objetivo é uma ideia com uma data apensa.
3. Como pretendo alcançar o meu objetivo?
Para conseguir descobrir como irá alcançar o seu objetivo, tem de conhecer os seus recursos. Quanto tempo tem à sua disposição? Quanto dinheiro? Quem é que participa no projeto (e quem é que será preferível não participar)? Que informações lhe faltam? Conhece as suas capacidades? E sabe exatamente do que não é capaz? Assim que tiver respostas razoáveis a estas perguntas, distribua os seus recursos e organize as medidas a tomar numa determinada sequência — que na maioria dos casos acaba por se revelar errada. Por essa razão, poderá ser que prefira começar por avaliar os recursos e só depois se ponha a aperfeiçoar as ideias e os objetivos. A verdade é que é extremamente enervante planear com base em milhões que nem sequer estão disponíveis. Ou então — insistindo no exemplo da pimenta — não saber que na Europa Central nem sequer é possível produzir pimenta. Regra geral, esta é uma etapa do projeto que nunca pode ser realizada de um modo definitivo; em vez disso, deverá estar sempre com atenção, a ver se os recursos estão bem distribuídos. Assemelha-se mais ao estar casado, do que propriamente à festa de casamento. Para esta fase precisará de: orçamentação, circle of competence, teoria dos pequenos presentes.
4. Ponha mãos à obra
É provável que passe então a trabalhar mais vezes sozinho ou apenas com contactos muito específicos com outros.
5. Motive-se a seguir em frente
Sejamos sinceros, em qualquer projeto surge um momento em que já não se consegue seguir em frente, em que falta a vontade ou em que se perde a fé. Nessa altura precisa das ferramentas seguintes: a regra dos cinco segundos, a técnica pomodoro ou o modelo das reservas de energia.
6. Faça um sprint
Não acredite em nenhum consultor (nem mesmo em nós) que queira convencê-lo da existência de um método que evita por completo que tudo fique sempre pronto “à última hora”. Vigora a lei de Parkinson, segundo a qual “o trabalho cresce em proporção ao tempo disponível para a sua realização”. Quer isso dizer que, quanto mais tempo tiver disponível, mais tudo irá demorar. No entanto, o sprint final não tem de acontecer aos cinco minutos para o meio-dia; pode também ter início logo aos cinco minutos para as 11.
7. Olhe para trás (e depois para a frente)
Quer atinja ou não o seu objetivo, qualquer final, mesmo que não seja bom, é uma razão para brindar. E depois de a ondulação acalmar, pergunte a si mesmo como foi o caminho que percorreu, se quer voltar a percorrê-lo e questione-se sobre o que virá a seguir.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
Comentários