Mandei-lhe uma mensagem, a querer saber como está. Depois dos serviços fúnebres, em honra do pai, calculei que não estivesse nada bem.
"Estou a perceber que além de chefe da matilha, também sou órfão...e é muito duro."
Fui à net: "Para os nativos americanos, o lobo é um símbolo espiritual poderoso. Eles são considerados professores "descobridores de trilhas". Os índios respeitavam a bravura do lobo como caçador, sua determinação, e a maneira como ele se movia silenciosamente pela paisagem. O lobo é o grande professor. O lobo é o sábio que, após muitos invernos no caminho sagrado e buscando os caminhos da sabedoria, retorna para compartilhar seu conhecimento com a tribo."
Este Lobo tem sido, para mim, muito mais que um professor. É um mentor que se tornou presente nos meus escritos, nas minhas atitudes e na maneira mais corajosa como agora vejo a vida e os seus constantes desafios.
"O medo é um luxo que não nos podemos permitir.", diz ele, muitas vezes.
"E a sensação de orfandade é uma ofensa perante quem nos deu a vida.", contraponho-lhe eu hoje. "Os teus pais, onde quer que estejam, querem o teu sorriso orgulhoso e não as tuas lágrimas, percebes?"
Não há fórmulas certas para encarar a morte. Não há receitas infalíveis para minorar o sofrimento, nem pílulas milagrosas que nos arranquem a dor da saudade. Mas há o pensamento correto: aquele que nos recorda o privilégio do tempo partilhado com quem já partiu. Há o sentimento eficaz: aquele que nos permite entender que o legado fica para sempre, que a sua vida não foi em vão, e que, enquanto os recordarmos e honrarmos, a sua existência se perpetua e continua a marcar o mundo.
É isto que terei que fazer o Eric entender: pode ser agora o chefe máximo da sua matilha, mas jamais será órfão. Porque quem foi amado pelos seus pais permanece para sempre com o mais poderoso dos escudos: o do amor parental. Este não morre nunca.
Sim, hoje serei eu a professora do Lobo.
Ana Amorim Dias
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