Reduzir o consumo de plástico de origem fóssil é hoje considerado um imperativo social, para além de ambiental. Contudo, há o risco de se cair no erro de o substituir por outros materiais como o plástico biodegradável, compostável ou os bioplásticos, também eles descartáveis. Esta substituição é normalmente um erro porque:
- Não altera o modelo de produção e consumo, continuando a alimentar o modelo do descartável, que nos trouxe até à situação atual de pré-catástrofe ambiental;
- Pode ser um entrave à reciclagem através da contaminação dos materiais (plástico fóssil e plástico supostamente biodegradável habitualmente não podem ser reciclados conjuntamente);
- É um pesadelo em termos de comunicação com os consumidores (uns plásticos são para reciclar e outros para colocar com o lixo indiferenciado) e pode aumentar o sentimento de desresponsabilização... Afinal são “biodegradáveis”;
- Esta substituição é contrária ao espírito da Diretiva sobre Plásticos de Uso Único, que é aplicável às soluções descartáveis de origem fóssil e as de origem “bio”.
Explicando melhor…
1. Uso de recursos
a) Qualquer nova embalagem, recipiente, utensílio ou artigo, seja de que material for, necessita sempre de utilizar recursos e estes têm sempre que vir de algum lado. Se apoiarmos uma economia do descartável reciclável ou supostamente biodegradável, estaremos a manter o mesmo sistema de produção e consumo que nos trouxe até à presente situação, onde o Planeta nos dá sinais claros que excedemos os seus limites.
2. Processo de gestão
a) A reciclagem de plástico é um processo complexo onde por vezes basta mudar um aditivo para implicar que o mesmo polímero já não poderá ser reciclado da mesma forma e em conjunto com polímeros semelhantes. A contaminação do fluxo dos plásticos fósseis com plásticos biodegradáveis ou bioplásticos irá dificultar ainda mais o processo de reciclagem.
b) O facto de não existir ainda recolha seletiva de resíduos orgânicos na esmagadora maioria do país, leva a que os plásticos biodegradáveis só possam ser tratados em soluções de fim de linha, fora do âmbito da economia circular, ou seja, através da incineração e da sua deposição em aterro, o que representa um passo atrás na gestão de resíduos.
3. Educação/informação do consumidor
a) Num momento em que muitos cidadãos ainda têm dificuldade em saber onde devem ser colocados os diferentes resíduos, nomeadamente os diferentes tipos de plástico, comunicar-lhes que agora afinal há uns “novos” plásticos que não devem ser colocados para reciclar, mas antes devem ser colocados nos resíduos comuns, será um pesadelo em termos de comunicação e gestão quotidiana.
b) O conceito de biodegradabilidade ou até o de bioplásticos pode aumentar o sentimento de desresponsabilização dos cidadãos, com o consequente aumento de abandono de embalagens, recipientes e utensílios “supostamente” biodegradáveis, no ambiente natural.
4. Enquadramento europeu
a) No âmbito da diretiva sobre plásticos de uso único, fica bem explícito que os bioplásticos e plásticos biodegradáveis ficam sujeitos ao mesmo tipo de tratamento e restrições que os plásticos convencionais, pelo que não faz sentido defender esta substituição.
A solução
Do ponto de vista da ZERO, a mudança necessária deverá começar no próprio desenho das soluções, sejam elas embalagens, recipientes, utensílios, garantindo a redução da sua utilização, a sua reutilização e a sua reciclabilidade no final da sua vida útil.
Para ajudar a esta transição, o sistema de depósito é uma excelente solução porque dá um sinal claro a todos os cidadãos que os artigos que estão a utilizar têm um valor e não devem ser abandonados, mas antes devolvidos para reutilização ou reciclagem. Desta forma, e sem prejudicar o consumidor (visto que o depósito que paga inicialmente é-lhe devolvido aquando da entrega dos utensílios, embalagens, etc.), será possível promover a redução e reutilização de recursos.
Cada um de nós pode contribuir para esta mudança usando os seus próprios sacos (não apenas para trazer as compras para casa, mas também para as frutas, legumes e pão), usar uma garrafa reutilizável para a água, levar as suas embalagens quando for a um take away (e não, a ASAE não proíbe esta prática desde que o recipiente seja adequado e esteja limpo), usar o seu próprio copo em festivais, festas, etc., comprar produtos locais, não processados e menos embalados e solicitar às lojas e marcas que ofereçam estas soluções mais sustentáveis.
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