A propósito do Dia Mundial do Ambiente, que se assinala na sexta-feira, a Lusa questionou o Ministério do Ambiente e Ação Climática (MAAC) sobre se a preocupação com a recuperação económica iria provocar “danos colaterais” nas metas traçadas na área do ambiente e alterações climáticas, o que fonte oficial do Ministério negou.

O que o Ministério defende, segundo a fonte, é “um plano de recuperação económica que reconheça a política ambiental como uma política ativa, capaz de defender os valores ambientais e ao mesmo tempo erigir um modelo económico sustentável, nele incluindo formas de produzir, de consumir e de proteger recursos”.

E ainda, segundo a mesma fonte, numa resposta por escrito à Lusa: “Este é o momento de transformar a crise em oportunidade e preparar em Portugal um choque de investimentos públicos sustentáveis que permitam dinamizar a economia de imediato, centrados nos grandes desafios societários que se colocam hoje a nível nacional, europeu e mundial e que gerem benefícios a longo prazo para a sociedade e para a economia”.

Entre esses desafios o Ministério do Ambiente salienta a descarbonização da economia, o uso eficiente de recursos, apostando na economia circular e na bioeconomia, a resiliência das infraestruturas, a modernização e transformação digital de setores económicos estratégicos, a preservação da biodiversidade e eliminação da poluição, e a valorização do “capital natural”.

Segundo o MAAC, “o ambiente deve estar no centro da recuperação económica e ser catalisador de investimentos, sobretudo em infraestruturas sustentáveis”, que levem a um novo modelo de desenvolvimento “assente nos princípios da sustentabilidade”.

E Portugal deve apostar em ações a curto e longo prazo que não comprometam os objetivos já estabelecidos por exemplo no Plano Nacional Energia e Clima (PNEC) e no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, afiança a fonte do Ministério.

E lembra que o Conselho de Ministros aprovou recentemente a versão final do PNEC para 2030, quando foi também apresentada a Estratégia Nacional para o Hidrogénio e aprovados diplomas que promovem a resiliência da floresta e uma maior proteção contra os incêndios.

É verdade, nota o Ministério, que houve uma redução de emissões de dióxido de carbono (CO2) devido à crise provocada pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, mas nota também que a concentração de CO2 na atmosfera registou este ano o valor mais elevado, o que mostra a necessidade “de serem reduzidas as emissões de forma consistente e ao longo do tempo”.

Na resposta à Lusa o Governo recorda que a União Europeia tem a mesma prioridade, como demonstra a apresentação do Pacto Ecológico Europeu em dezembro passado, ou a aposta nas energias renováveis, uma aposta também nacional.

“Avançaremos, por isso com os leilões de capacidade solar, incluindo armazenamento, promoveremos as comunidades de energia renovável e a produção descentralizada e lançaremos o desafio da produção de hidrogénio verde em Portugal”, garante o executivo.

Outras apostas, salienta ainda, serão a mobilidade sustentável e o investimento no transporte público e “em novas soluções de logística urbana”, a valorização do território e paisagem, ou a “promoção de um novo modelo de produção e consumo, que valorize as cadeias curtas e promova a sustentabilidade em toda a cadeia de valor”.

O MAAC está a promover uma reflexão sobre estas matérias, tendo consultado cerca de duas dezenas de personalidades, e convidou a debater o futuro pós covid-19 outras 10 personalidades com menos de 40 anos.

No âmbito dessa reflexão o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, reuniu-se com representantes do Grupo Lidera, um grupo de jovens que promoveram uma carta aberta sobre o futuro que querem herdar e que no final de maio tinha mais de 3.300 subscritores e quase mil apoiantes.

Os assinantes da carta são pessoas até aos 35 anos ou organizações sem fins lucrativos lideradas por jovens. Na carta os jovens lembram que além da covid-19 há outra “profunda emergência a decorrer em paralelo”, que é a crise climática, e avisam que se nada mudar os riscos pandémicos serão cada vez maiores e os fenómenos meteorológicos extremos continuarão a aumentar.

“A natureza é o nosso verdadeiro seguro de vida” e este é o tempo de “construir um futuro resiliente” que mitigue riscos já identificados pela ciência, diz-se na carta, que além de várias propostas deixa uma ideia sublinhada: “Este não é o momento para recuar os objetivos e políticas verdes já delineados”.