"Sentimos a dissonância entre o que está a acontecer nas ruas e na economia real. As mudanças estão a acontecer mais rápido do que penávamos. Então, o que é que vocês estão a temer?", questionou Tubiana, em conferência de imprensa hoje à tarde, na ponta final do calendário oficial de trabalhos da 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
A economista e diplomata francesa que é considerada a principal negociadora do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa, alcançado em 2015 na COP21, defendeu que não se criem brechas nas regras para o mercado de carbono, um ponto polémico que arrastou as negociações ao longo de duas semanas em Madrid.
"Este ano, o que estamos a discutir é se realmente vamos manter a integridade do Acordo de Paris, após a saída dos Estados Unidos. Precisamos também manter uma liderança coletiva. Temos de estar seguros de que não destruiremos o sistema", reforçou.
Segundo Tubiana, as discussões sobre perdas e danos (referentes a compensações aos países mais afetados por fenómenos associados às alterações climáticas) do Mecanismo Internacional de Varsóvia (WIM, na sigla em inglês) estão finalmente a tomar forma.
"Mas isso não é algo simples, é uma mudança completa do sistema económico e social. Há obstáculos de governos que não estão a mostrar vontade, mas vemos a sociedade civil a mover-se noutra direção", afirmou.
Tubiana foi enfática ao mencionar a Austrália e o Brasil como dois países que têm colocado obstáculos.
"Quando o ministro australiano [Angus Taylor] voltar para Sydney, ele vai provavelmente sufocar com o fumo. Quando o ministro brasileiro [Ricardo Sales] voltar para Brasília, ele continuará a ouvir as vozes dos povos amazónicos. Ele ouviu-as aqui e vai ouvir lá", disse.
Para Tubiana, a melhor notícia da semana foi o anúncio do Pacto Ecológico europeu. Na madrugada de hoje, líderes da União Europeia (UE) chegaram a um acordo para atingir a neutralidade nas emissões de carbono até 2050.
"Finalmente, os países afirmam que terão emissões brutas zero em 2050 como prioridade. Isso dá-me esperança de que temos a UE a ter uma nova posição de liderança", destacou.
Segundo Tubiana, não há "desculpas" para os países não se comprometerem com a neutralidade de carbono.
"Equidade e justiça social são pré-condições para uma ação climática forte, mas não há justificação de não nos tornarmos neutros em carbono".
A agenda oficial da COP25 prevê o encerramento dos trabalhos hoje, mas a dificuldade em alcançar acordo sobre um texto final dos compromissos que os países se propõem assumir já está a levantar possibilidade de os trabalhos se prolongarem até sábado.
A COP25, que começou em 02 de dezembro, deveria ter-se realizado no Chile, mas devido à situação de agitação social no país acabou por ser transferida para Madrid.
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