A maior consumidora de água com origem no domínio público hídrico do Mondego é a papeleira Navigator, que tem um consumo anual que ultrapassa os 28,3 milhões de metros cúbicos (m3), o que totaliza mais de 28 mil milhões de litros de água utilizados, referem dados adiantados à agência Lusa pelo ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC).
De acordo com a mesma fonte, a Celbi, do grupo Altri, recebe de água fornecida pelo canal adutor do Mondego cerca de 10,1 milhões de m3 de água (mais de 10 mil milhões de litros por ano), mas paga, por este nível de consumo quase três vezes inferior ao da Navigator, mais do que a sua congénere e vizinha da margem sul do Mondego.
Sobre o consumo no Mondego, a Navigator paga de taxa de recursos hídricos à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) cerca de 679 mil euros e a Celbi quase mais 30 mil.
Questionado sobre esta aparente discrepância entre consumo e taxa paga, fonte oficial do ministério do Ambiente remeteu para a legislação em vigor, lembrando que a Taxa de Recursos Hídricos (TRH) engloba seis componentes diversos, cuja soma estipula o valor final, mas não esclareceu o valor dos componentes específicos aplicados a cada empresa.
As seis componentes da TRH são, no domínio público hídrico do Estado, a utilização de águas por volume de água captado, extração de inertes por m3 extraído e ocupação por metro quadrado de área ocupada. Acrescem ainda àquela taxa a descarga de efluentes (por quilo de matéria oxidável, azoto e fósforo), a utilização de águas sujeitas a planeamento e gestão pública (por m3 captado) e a sustentabilidade dos serviços urbanos de águas.
Para além das duas celuloses, o sistema adutor do Mondego fornece ainda a central de ciclo combinado da EDP em Lares (que consome cerca de 83 mil m3 e paga 29 mil euros) e o abastecimento de água da Figueira da Foz, que dali retira anualmente 2,6 milhões de metros cúbicos (11 vezes menos do que a Navigator), pelo qual paga de TRH cerca de 126 mil euros, o dobro do preço pago pela papeleira, considerando apenas e em proporção, o volume de água captada.
João Damasceno, diretor-geral da Águas da Figueira, explicou à Lusa que o volume de água captado pela concessionária no Mondego varia conforme a altura do ano, representando cerca de 40% do abastecimento no inverno e 60% no verão (metade do total da água consumida no concelho durante 12 meses) e que o restante vem de captações subterrâneas.
A juntar ao consumo das indústrias e sistema abastecedor da Figueira da Foz, a agricultura do Baixo Mondego paga de taxa de recursos hídricos um valor que Armindo Valente, vice-presidente da Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo Mondego, disse ser "variável" anualmente, mas que estimou entre os 70 a 80 mil euros, embora o ministério do Ambiente o tenha cifrado em 66,5 mil euros.
Armindo Valente não adiantou o volume de água gasto anualmente pelos agricultores do Mondego, mas precisou que a agricultura da região "não gasta nem consome água, utiliza água, o que é diferente".
"Grande parte da água que chega aos campos acaba por voltar à Natureza pelas valas de enxugo. E a água é fundamental, por exemplo, para o controle de temperatura nos campos de arroz e depois, daí, regressa ao ambiente", argumentou.
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