Divulgadas por ocasião do Dia Mundial da Poupança, que se assinala hoje, as estatísticas da Pordata – a base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos – apontam que, em 2019 (dados provisórios), a poupança representou 7,0% do rendimento disponível dos particulares (famílias e instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias) em Portugal.
Esta percentagem situa-se ligeiramente acima dos 6,8% de 2018, mas fica muito aquém dos 19,3% registados em 1989 e dos 22,3% de 1979.
Em percentagem do PIB, a poupança das famílias em Portugal (4,9% em 2019 e 4,7% em 2018, dados provisórios) é cerca de metade da percentagem de poupança de países como a Alemanha, França, Suécia e Países Baixos, onde esse valor varia entre os 8,2% e os 11,4%.
Dos 24 países que reportaram dados em 2018, apenas num país houve poupança negativa: a Grécia, com -1,2%.
Segundo nota a Pordata, a percentagem atual de poupança dos particulares em função do PIB em Portugal é “muito inferior ao observado nos anos 70″, em que este indicador chegou aos 24% (em 1972), e compara com 18,4% em 1979 e 4,4% em 1960.
As décadas de 70 e 80 foram, aliás, aquelas em que a poupança foi mais elevada quer em percentagem do PIB, quer em percentagem do rendimento disponível, refere.
Em contrapartida, “nunca o consumo privado [que mede os gastos dos particulares, desde as contas da casa à compra de um novo automóvel] foi tão elevado” em Portugal.
Em 2019, este indicador ultrapassou os 132.699,6 milhões de euros, superando o máximo de 128.810,7 milhões de euros que tinha sido atingido em 2018, sendo que, embora não haja ainda dados para 2019, em 2018 mais de metade do rendimento disponível era gasto em bens essenciais como a alimentação (20%), a habitação (18%) e transportes (16%).
Face à reduzida taxa de poupança, as estatísticas da Pordata revelam ainda que, no ano passado, uma em cada três pessoas (33%) em Portugal “era incapaz de fazer face a despesas inesperadas”, um valor ligeiramente acima da média da União Europeia a 27, que era de 31%.
“No caso das pessoas com rendimentos abaixo do limiar da pobreza — precisa – esta percentagem sobe para 64% em Portugal e, embora em valores bastante inferiores, também 27% das pessoas acima do limiar da pobreza não conseguem fazer face a despesas inesperadas sem recurso a empréstimo”.
Os dados divulgados pela Pordata no âmbito do Dia Mundial da Poupança revelam também que, em 2018, o rendimento médio equivalente em Portugal era de 12.785 PPS (do inglês ‘Purchasing Power Standard’, uma moeda fictícia que significa ‘paridade de poder de compra padrão’ em português), o que colocava o país no 20.º lugar do ‘ranking’ dos países da UE27.
Na primeira posição estava estava o Luxemburgo (38.253 PPS) e, em último lugar, a Roménia (7.311 PPS).
Se considerados os mesmos valores em euros, Portugal teria um rendimento médio equivalente de 11.063 euros, ou seja 922 euros por mês, em 2018.
Em Portugal, os agregados domésticos com menor rendimento equivalente são os compostos por um adulto com pelo menos uma criança (10.422 PPS por ano, em 2019), o que significa que, por exemplo, face à Áustria, o país em que este agregado tem maior rendimento disponível, a diferença é de quase 9.000 PPS por ano.
Em relação ao agregado doméstico com maior rendimento disponível em Portugal – o de dois adultos em que pelo menos um tem 65 e mais anos – a diferença é ainda maior: 12.793 PPS (Áustria 27.327 PPS e Portugal 14.534 PPS).
As estatísticas da Pordata apontam ainda que, em 2019, os imigrantes em Portugal enviaram 478,4 milhões de euros para o estrangeiro, sendo que o principal país de destino foi o Brasil (representando 50,1% das remessas de imigrantes), seguido pela China (8,4%).
Já os emigrantes enviaram para Portugal, em 2019, um total de 3.645,2 milhões de euros, tendo a França sido o principal país de origem, com 1.093,5 milhões Euro (30%), logo seguida pela Suíça, com 988,7 milhões Euro (27,1%).
O ano passado destacou-se ainda como aquele em que Portugal tinha mais dinheiro depositado à ordem desde 2003 (62.660 milhões de euros, contra 26.481 milhões de euros em 2003), enquanto 2013 foi o ano com mais valores depositados a prazo (101.714 milhões de euros).
O ano 2019 foi também quando se atingiu a taxa de juro mais baixa para os depósitos a prazo desde 2003 (0,16%, contra o máximo de 3,83% em 2008 ), enquanto para os depósitos à ordem as taxas de juro mais baixas registaram-se em 2017 e 2018 (0,01%, face ao máximo de 0,25% em 2003).
Segundo a Pordata, foi ainda em 2019 “que se bateram recordes nos depósitos das empresas”, com os montantes de depósitos à ordem das empresas a alcançarem o máximo de 35.439 milhões de euros (mínimo de 12.161 milhões de euros em 2012) e os montantes a prazo (7.955 milhões de euros) a fixarem-se no mínimo desde 2003 (máximo de 24.989 milhões de euros em 2010).
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