Tinha uma carreira promissora numa importante companhia de seguros, mas há oito anos abandonou a segurança para se dedicar à agricultura biológica que o pai tinha iniciado na quinta de família na zona de Vila Franca de Xira.

Agora, que passou os 40, também decidiu ser mãe pela primeira vez e está em estado de graça com o seu bebé recém-nascido.

Qual a sua formação académica? Onde se licenciou?

Licenciei-me em Matemática Aplicada, na Universidade Autónoma de Lisboa.

Iniciou a sua carreira nos seguros onde fez uma carreira promissora. O que a fez desistir?

Cansaço, exaustão de um estilo de vida que, apesar de compensador do ponto de vista financeiro, não me dava a satisfação do ponto de vista pessoal que eu desejava.

Há quantos anos iniciou a sua actividade na agricultura?

Há sensivelmente oito anos.

Fez alguma formação especial para se dedicar à agricultura biológica?

Fiz formação específica relativa à Agricultura e Pecuária Biológica em geral, e um pouco mais profunda sobre a Viticultura e a Avicultura, com técnicos estrangeiros.

Nunca se arrependeu da sua opção?

Sinceramente, não, e ainda que haja desvantagens nessa opção, continuo a pensar que as vantagens são superiores.

No início da actividade dedicou-se à avicultura. Ainda mantém essa área de actividade?

Sim, é a actividade central, que complementa as restantes, produzindo matéria orgânica que “alimenta” as restantes produções.

Actualmente que tipo de produtos produz na sua quinta?

Uva de mesa e de vinho, azeitona, pêssegos, damascos, figos, dióspiros, etc, e os ovos, claro.

É uma actividade rendível?

Essa é uma questão difícil de responder! Numa avaliação clássica de rentabilidade, eu diria que não. Se efectuarmos essa avaliação incluindo as mais-valias que esta actividade traz à exploração agrícola, e, a muito longo prazo, quero acreditar que sim.

Como se faz a distribuição dos produtos? Coloca-os directamente no mercado ou têm de passar por intermediários?

Temos um carro que faz a distribuição na região da grande Lisboa, duas vezes por semana e que distribui mais de 80% dos produtos, e colaboramos com alguns distribuidores, essencialmente para abastecimento de outras regiões do país.

Saiba mais na próxima página

Qual a quota de mercado dos produtos biológicos?

É difícil responder a essa pergunta porque há poucos dados estatísticos em Portugal. Crê-se que não chegará aos 5 por cento.

Qual é o cliente tipo dos seus produtos? A procura está directamente relacionada com o nível sócio-cultural do consumidor?

Infelizmente é esse o caso, uma vez que os produtos são, em alguns casos, mais caros que os ditos “convencionais”, o que os faz serem mais facilmente acessíveis a quem tenha uma situação financeira mais confortável, também os seus benefícios são melhor conhecidos de quem dispõe de mais e melhor informação.

Quem controla a qualidade dos produtos biológicos?

A Certificação dos produtos Biológicos é feita por uma entidade externa, entre várias autorizadas para tal por um gabinete do Ministério da Agricultura.

O segredo da agricultura biológica é não usar produtos químicos. Como combate as pragas? Onde se adquirem as joaninhas, por exemplo?

Não temos necessidade de adquirir auxiliares (nome dado aos insectos tais como as joaninhas que colaboram com o agricultor no controle de pragas). O objectivo na agricultura biológica, e que em grande parte temos conseguido dado o largo período que a praticamos (desde 1994), é promover que se desenvolva a fauna e flora do local, de uma forma equilibrada, com o mínimo de intervenção possível da nossa parte, conseguindo assim que as populações de auxiliares se instalem, não dando lugar à entrada das pragas.

Emprega quantas pessoas na sua quinta?

De forma permanente, três pessoas, contando comigo, ao longo do ano, conforme as actividades, vêm mais pessoas, cerca de 14, no dia da vindima da uva vinho.

Há um produto com maior procura do que os outros?

Os ovos são, de facto, o produto com uma procura mais estável ao longo do ano, mas as frutas têm muita procura, na sua época, e o vinho é o produto com mais procura para exportação.

Viaja para o estrangeiro para visitar outras produções biológicas?

Infelizmente não tenho tido oportunidade. Viajo por vezes para participar ou visitar feiras profissionais do sector, em França ou na Alemanha, dois países onde a agricultura biológica tem bastante implantação.

A crise que o país está a atravessar está a afectar o seu negócio?

Sim, afecta, devido, sobretudo, às dificuldades no recebimento dos pagamentos, que se vai tornando no maior “cancro” da vida empresarial nacional.

Tem algum hobby?

Sim, pratico vela, agora temporariamente interrompido!

Acaba de ser mãe. Como está a ser a experiência da maternidade?

Emocionante! E também cansativa, claro, mas é sobretudo uma experiência de responsabilidade máxima, a vulnerabilidade de um filho recém-nascido é assustadora, o seu bem-estar depende inteiramente de nós e do nosso bom senso.

Qual foi a sua motivação de ser mãe pela primeira vez depois dos 40?

Era algo que sempre tinha desejado na minha vida e que, por circunstâncias várias, só agora se proporcionou.

Considera-se uma ambientalista?

Gostava de o ser, ainda que tenha a sensação que não deixo de ter bastantes falhas, pela dificuldade que encontramos por vezes em abandonar velhos hábitos, menos sustentáveis do ponto de vista ambiental.

A felicidade é o quê?

É um estado de espírito que se consegue em alguns momentos da nossa vida, de forma transitória e passageira!

Saiba mais em Casal dos Planetas

Texto: Palmira Correia