A atriz está feliz a ajudar os atores portugueses a melhorar as suas técnicas de representação. Recebe atores com larga experiencia profissional mas também jovens em início de carreira, alguns a quem ela fez o casting quando tinham 14 ou 15 anos. Ver as pessoas a crescer é o que mais a fascina. Maria Henrique está todas as noites na novela Sedução da TVI, no papel de Carla, uma excêntrica esteticista de mão e de pé.

Começou a fazer coaching para atores há quanto tempo?

Esta ideia anda a passear pela minha cabeça há muitos anos. Sempre acompanhei a carreira de grandes atores para aprender com eles, e dei-me conta que há muitos anos os melhores atores têm a inteligência de ter um conselheiro, uma espécie de personal trainer ao seu lado que vai sendo, de alguma forma, os olhos deles, e isso fascinava-me.

Porque adora a sua profissão?

Ser actriz corre-me nas veias, mas sou igualmente fascinada por esta área toda que tem a ver com o crescimento do ser humano. Tenho tido essa experiência a dar aulas, como diretora de atores em televisão e a encenar. Adoro tudo o que faço.

Quando começou esta nova atividade de coaching para atores?

Desde Janeiro que andava a sentir falta de alguma coisa. Gosto muito de dar aulas mas percebi que precisava de mais alguma coisa para além disso. Ou seja, precisava de criar uma atividade que fosse o culminar de tudo o que tenho feito e criado até agora. E de repente acordo com esta ideia.

Que tem a ver com a sua paixão pela profissão e pelos atores?

O que eu quis fazer foi implantar em Portugal, aproveitando a minha experiência de todos estes anos de carreira, o coaching para atores com um acompanhamento personalizado. Às vezes, a brincar, digo que é uma espécie de diagnóstico médico. Porque cada pessoa é um caso e isso é que é fascinante.

E como é que faz esse diagnóstico?

Tento perceber o que é importante para o actor no momento em que me procura, nomeadamente quais são os seus objetivos e avalio as suas dificuldades consoante os anos de carreira. Têm-me aparecido casos completamente diferentes uns dos outros e eu estou a conseguir.

A adesão tem sido boa?

Comecei a fazer isto em Abril e nunca imaginei que a adesão fosse tão grande. Arranjei uma boa sala na Av. 5 de Outubro, porque também é importante ter espaço e condições para trabalhar, e vêm pessoas de todo o lado, do Porto ao Algarve. E isso tem sido fascinante. Estou felicíssima.

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Procuram-na atores mais jovens ou com mais experiência?

De todas as idades. Tenho atores com tantos anos ou mais experiência do que eu, e que têm a humildade e inteligência de dizer: “preciso de uma reciclagem porque estou habituado a fazer um determinado tipo de personagem”, porque, ao contrário do que as pessoas pensam, quantos mais anos de carreira se tem maior é a responsabilidade. Alguns desses atores são mesmo muito mais velhos do que eu mas conhecem-me graças à direção de atores que faço na TVI e confiam em mim.

Não há nenhum tabu em relação a um pedido dessa natureza?

Há uns anos atrás talvez houvesse. Achava-se que um ator que precisasse de ajuda não era suficientemente profissional e era inseguro. É mentira. As pessoas inteligentes e os verdadeiros profissionais seja de que área for, são aqueles que sabem que quanto mais aprendem mais têm de aprender.

Humildade é isso….

Porque nós aprendemos até morrer. E aprendemos uns com os outros em tudo na vida! O crescimento constante é o que mais me fascina. E, de repente, poder ajudar um colega com 50 anos de carreira a fazer uma coisa diferente, é muito bom. Quando um ator de grande craveira me diz: “Não tinha pensado ir por aí mas, de facto, esse é o melhor caminho”, ganhei o dia!

É bom que confiem em nós.

Muito bom. E felizmente aparecem cada vez mais atores com larga experiência profissional. Mas também tenho jovens atores. Às vezes até me sinto um bocadinho o Júlio Isidro dos anos 2000, porque a alguns desses jovens que hoje enchem as páginas das revistas, fiz-lhes o casting para os Morangos com Açúcar, quando eles tinham 14/15 anos. E agora esses mesmos atores mandam-me mensagens a pedir para os ajudar a fazer novos papéis.

Querem surpreender?

Fico orgulhosíssima e sei que é bom para mim porque estou a pôr-me à prova, mas é sobretudo bom para aquela pessoa. Nunca imaginei ter um leque tão variado de pessoas a vir ter comigo.

Deu-se a conhecer pela internet?

Através do Facebook. As coisas vão-se espalhando, os amigos dizem aos amigos e assim tem crescido. É por isso que me procuram muitas pessoas que eu não conhecia mas que querem enveredar pelo caminho da representação. Ainda esta tarde vou ter quatro horas de coaching com uma jovem que vem de propósito do Porto. Tem experiência de teatro mas quer melhorar as suas capacidades em termos de técnicas televisivas.

Também tem dado aulas ao longo de todos estes anos. Onde dá as suas aulas?

Desde que acabei o Conservatório tenho sido convidada para dar aulas em todo o lado. Já dei aulas ao nono ano, ao 12º, em escolas sócio profissionais, dou workshops em várias instituições. Vou a várias cidades dar aulas de colocação de voz a professores ou até de desinibição.

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Farta-se de trabalhar?

Adoro. Quanto mais melhor.

O Conservatório para si foi fundamental. A formação de base é essencial?

Claro que sim. Sou uma grande defensora da formação. O Conservatório tem disciplinas que nenhuma outra escola tem. A teoria que se aprende no Conservatório tem de estar escondida na nossa técnica. O público pode não ver, mas a técnica tem de lá estar!

Na telenovela Sedução é a Carla. Gosta desta personagem?

É uma mulher um bocadinho excêntrica. Não é manicura nem pedicura, é antes uma esteticista de mão e de pé, com um feitio muito próprio.

O que mais a fascina na vida?

As pessoas. Estou sempre muito atenta à forma como as pessoas se comportam. Gosto de observar as pessoas no seu verdadeiro estar.

Qual vai ser o seu próximo projeto televisivo?

Já estou a gravar a IX série dos Morangos com Açúcar que vão estrear em Setembro.

Consegue descansar?

A melhor forma de descansar é a trabalhar porque tenho o privilégio de ter um trabalho me dá muito prazer. Representar é o que eu mais amo.

Tem algum hobby?

A fotografia que é outra forma de arte e eu gosto de captar os momentos únicos da vida. Também gosto de viajar. Viajar para mim faz parte do crescimento pessoal. Tudo isto é alimento para a construção de outros seres humanos. O actor é um veículo de mensagens portadoras de outras pessoas e para isso tenho de estar atenta à vida e ao mundo.

Texto: Palmira Correia