Tem 28 anos, um sorriso que lhe ilumina o rosto, uma simpatia contagiante e uma empatia irresistível. Qualidades que Lara usa em quantidade certa na sua relação com os clientes do banco.

Foi uma das mais jovens gestoras de conta do BES quando a nomearam para estas funções apenas com 24 anos, e ainda hoje surpreende os clientes com a sua juventude. Nada que a jovem não contorne com a sua determinação e segurança.

O seu primeiro trabalho foi no banco?

Não. Quando conclui a minha licenciatura em Gestão de Empresas, fui trabalhar numa empresa de investimentos imobiliários no Algarve, e quando a empresa me mandou novamente para Lisboa para expandir o negócio no centro do país, fui surpreendida com um convite do BES, e acabei por entrar por estágio em 2007.

Era o seu sonho de criança?

Quando era miúda queria ser enfermeira. Mas uma paixoneta de adolescência levou-me a seguir o curso do namorado e ainda bem. Hoje adoro o que faço.

O que é mais apaixonante no seu trabalho?

O mais engraçado é a relação que se estabelece com as pessoas. Quero que os meus clientes mantenham uma relação profissional comigo, sigam as minhas sugestões profissionais mas não deixem de ser meus amigos. Recebo os meus clientes fechada num gabinete, logo as pessoas partilham tudo comigo, até a sua vida pessoal.

Consegue equilibrar sempre as duas coisas?

Esforço-me para que isso aconteça, no sentido de articular muito bem o lado pessoal com o profissional. A pessoa quando chega ao meu gabinete tem de sentir que estou a gerir da melhor maneira o seu dinheiro mas sempre de uma forma muito profissional e há clientes que têm alguma dificuldade em perceber isso.

O que vai acontecer se um dia se for embora?

Há pessoas que vão ficar para sempre no meu coração.

Já fez amigos?

Fiz um grande amigo que infelizmente já não está entre nós. Esse senhor ficou muito chocado quando eu cheguei ao banco porque me achava nova demais para o lugar, confrontou-me com isso e recusou-se a ser gerido por mim. Pedi-lhe por tudo para me deixar mostrar do que era capaz e as coisas não podiam ter corrido melhor. Foi uma pessoa que me marcou imenso, e, felizmente, tenho uma relação muito próxima com a família.

A crise já lhe trouxe muitas pessoas desesperadas ao gabinete?

Muitas mesmo. Vivemos numa sociedade em que há pessoas com muito dinheiro mas com muito pouca cultura económica, que não fazem a mínima ideia como gerir o dinheiro. Por vezes esse património financeiro é proveniente de heranças e quando esse dinheiro lhes chega às mãos não sabem o que fazer com ele. Quando começou a crise essas pessoas foram as primeiras a chegar aqui a chorar.

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Têm medo de perder o dinheiro?

Vêm para eu as socorrer porque esta relação também tem de ser muito humana. É muito importante que eu me enquadre profissionalmente com a pessoa que tenho à minha frente. E eu tenho aqui pessoas com muita idade, com muito dinheiro, mas que, infelizmente, mal sabem escrever o nome… O meu papel é apaziguá-los e tentar que não se alarmem muito com a comunicação social.

Querem levar o dinheiro para casa para guardar debaixo do colchão?

Sim. Temos muitos casos desses, sobretudo ao balcão.

Leva os problemas das pessoas para casa ou consegue desligar?

Tenho dificuldade em desligar quando sinto que as pessoas estão a dizer a verdade. E nunca fico descansada quando não resolvo todas as questões administrativas que têm de ser tratados diariamente. Também fico preocupada com as pessoas que já viveram muito bem e hoje não têm nada…

Não têm porquê?

O consumismo excessivo levou ao descontrole do orçamento familiar. Culpa da má gestão das economias pessoais e por culpa das instituições que facilitaram todo o género de créditos.

E quando lhe pedem um conselho pessoal?

O meu trabalho é o aconselhamento financeiro e nunca vou para além disso. Jamais poderei imiscuir-me na vida do cliente, apesar de as pessoas quererem muito que eu o faça.

As mulheres são boas gestoras do seu dinheiro?

Somos muito consumistas. Vivemos numa sociedade muito consumista e com muitas tentações mas, de uma forma geral, as mulheres conseguem equilibrar razoavelmente o seu dinheiro.

Já alguma vez a assediaram?

Posso dizer que sim. Recebo aqui muitos homens de negócios, homens que lidam com muito dinheiro, e, por vezes, tenho de saber receber a mensagem, interpretá-la e responder de uma forma educada. Tenho de saber atalhar a conversa e as intenções sem perder o cliente.

Coisa que as mulheres normalmente sabem fazer…

Temos de saber estar à altura. Outra das minhas incumbências é saber educar o cliente a esse nível, e mostrar-lhe claramente onde é o lugar dele e onde é o meu.

Que conselho uma especialista em aconselhamento financeiro dá neste momento às mulheres que a estão a ler?

A base de tudo é tentar que os nossos compromissos mensais não ultrapassem os 40 por cento do vencimento…. Isto é na teoria porque na prática eu sei que é difícil. Mas há um método que funciona bem: sempre que recebe o vencimento, a mulher deve estipular uma importância para poupança, nem que seja 10 por cento do ordenado e colocar numa aplicação. Hoje em dia os bancos já têm esse tipo de produto.

Quer dar uma lista de sugestões infalíveis?

- Criar uma poupança mensal, com um valor que seja suportável retirar do vencimento para que possa utilizá-lo para despesas futuras (exemplos: seguro do carro, impostos, etc);
- Aproveitar a crise para fazer uma alimentação saudável: Preparar uma refeição ligeira para o almoço, certamente poupará nas idas ao restaurante;
- Controlar os passeios ao centro comercial, uma estratégia para evitar o consumismo desnecessário;
- (Uma básica) jamais ir às compras de supermercado com fome! Gastaremos em coisas supérfluas e contribuímos para o excesso de peso.

Texto: Palmira Correia