Criar uma empresa com alguém é sempre algo complexo. Por muito atrativa que pareça a possibilidade de ter mais uma pessoa a bordo, com quem partilhar as ideias, dividir o peso, que ajude a remar o barco e até que partilhe o risco connosco, mas há que ponderar também o “e se corre mal?”. Começar uma empresa com um sócio é como um casamento: só o devemos fazer se estivermos mesmo certos. Mas, como sabemos, os casamentos também nem sempre correm bem. E terminar um casamento é bem mais fácil do que terminar ou sair de uma sociedade!

Sempre tive plena confiança nas pessoas que escolhia para sócios das minhas empresas e sabia que podia contar com eles para tudo o que fosse necessário. Até um certo dia, corria o ano de 2005, em que acordei com uma dívida de 300.000€. Naquele momento, tudo parecia perdido.

Tinha apenas 27 anos e há cinco tinha tomado a decisão de deixar a estabilidade da Microsoft para arriscar no mundo empresarial, fundando a minha primeira empresa na área digital, a Webdote.com. Na altura, fiz sociedade com alguém em quem confiava e a quem, durante muito tempo, entreguei cheques para pagar os impostos.

Naquele dia, descobri que os cheques com a minha assinatura não estavam a ser utilizados para pagar o IVA, IRC, IRS e Segurança Social e que estava a dever 300.000€ ao Estado. Com 27 anos e no início da carreira, não tinha forma de pagar um valor tão avultado. Pensei: “a minha empresa e os meus sonhos terminaram aqui”.

Após muitas noites em claro, a pensar em como podia resolver a situação, o meu espírito resiliente falou mais alto e conseguiu delinear uma estratégia. O primeiro passo? Afastar o principal responsável.

Primeiramente, negociei com o meu sócio e acabei por ficar com a totalidade da empresa e, com isso, assumir a responsabilidade pelas dívidas. Na altura, chamaram-me louco e não compreenderam a minha situação, mas foi o verdadeiro “tudo ou nada”.

Feito isso, recorri ao factoring, um mecanismo financeiro que consiste na aquisição de créditos de curto prazo, resultantes da prestação de bens ou serviços, permitindo uma liquidez imediata. Na altura, tinha, na minha carteira de clientes, empresas muito grandes e usei este mecanismo para receber antecipadamente as faturas pendentes e conseguir liquidez para os pagamentos mais urgentes.

Já o terceiro passo foi intensificar todos os meus esforços comerciais e desenvolver novas estratégias que gerassem projetos e mais receitas para a empresa. Precisava dela viva e sustentável.

Finalmente, tomei a decisão de colocar a empresa à venda. Contactei um banco de investimento e surgiu o interesse de vários potenciais compradores, mas um destacou-se. Inicialmente, a negociação sofreu alguns entraves, mas acabámos por chegar a um acordo. Compraram a marca e o negócio, criámos uma nova empresa e eu assumi a responsabilidade dos valores devidos. Com isto, encaixei 700.000€.

Assim que me vi com este dinheiro, não pensei em ir logo pagar tudo o que devia, mas sim protegê-lo a todo o custo. Acabei por transferir esse valor para o nome da minha mãe e negociei um plano de pagamentos faseado com o Estado, enquanto ia recebendo alguns valores. Como tinha cerca de 100.000€ em incobráveis de clientes, dei este valor como “ativo” e foi cobrado coercivamente, o que acabou por fazer recuperar cerca de 80% do valor devido.

No último dia de toda esta saga, quando estava prestes a ser penhorado, levantei 75.000€ do valor da venda e fui às Finanças, pagar em mãos o que restava. Assim, fechei um capítulo difícil da minha vida, mas ao mesmo tempo abri as portas para novas oportunidades, ficando com 625.000€ e 40% da nova empresa.

Naquela manhã, acordei para aquele que seria o pior dia da minha vida de empresário. Mas foi também aquele que mais me fez crescer enquanto profissional e pessoa. Aprendi que, quando tudo parece perdido, é possível dar a volta, desde que tenhamos a estratégia certa.

Por isso, o meu conselho para quem está a pensar em associar-se a alguém profissionalmente é: deixem tudo por escrito. Celebrem um acordo no início da sociedade (o chamado parassocial)onde fica ponto por ponto o que acontece na eventualidade de correr mal, de se desentenderem ou de alguém enganar alguém, que, num cenário ideal, nunca será usado, mas que, se for necessário, vos pode salvar de acordar com 300 mil euros em dívidas.

Um artigo de Ricardo Teixeira, CEO da Compuworks.